terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Galáxia - Parte 1


O mundo acabava diante daqueles olhos, passando pelas pessoas que corriam na direção contraria, ele admirava o meteoro rasgando os céus entrando em combustão ao se chocar com a atmosfera.  Percebia o desespero das crianças, agora sem um futuro, mas ao mesmo tempo não se sabia do presente.

Observava o sol, que não estava tão claro, o brilho não ofuscava os olhos, pois estava coberto pela fumaça da padaria em chamas. Saqueadores passavam pelos estabelecimentos levando o que podiam carregar e mal sabiam que nada poderia suprir as necessidades fisiológicas, filosóficas, filantrópicas.

As águas do mar atingiam alturas indefinidas, gigantes apenas. Não era ressaca, servia-se mais uma dose ao senso popular de que a vida é frágil, dolorosa... O absinto de cor fluorescente florescia por entre as montanhas, construíram um abrigo temendo o pior, como se algo pudesse piorar.

Uma série de furacões formava-se no horizonte, seria a ligação entre céu e terra (para não dizer, céu e inferno?). A linha tênue entre os planaltos e planícies, cânions... Fazia o pacto divino com os seres do obscurecido vale, criado a partir do colapso que o terremoto causou.
O fim estava próximo, mas não poderia ser no mesmo instante.

Cenário de horror para quem sobrevivia naquele momento.

O astronauta em missão espacial observava aquilo numa visão privilegiada. Recebia chamadas em questões de locais para abrigar líderes mundiais que adorariam compartilhar daquele momento, prometiam mundos e fundos. Alguém até deu a ideia de povoar a Lua, mas ele apenas deixou o telefone fora do gancho. Ele não queria ninguém ali enquanto assistia a devastação sentado na asa do foguete. 

Mantimentos e abrigo. Ali, estava a salvo por um bom tempo.


quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Ponto de vista


Despiu-se

Atingiu o ápice
A depressão atingiu o ser

No meio daquele longínquo neurônio
O choque desfez
Aquela que nada supunha
Assistindo ao vivo e a cores
O fim daquela novela com um triste desfecho

O suicida antes de pôr fim a própria vida
Defendeu-se daquela que não permitiria o feito
Refém da própria sorte
Ali, viu seu escape
Caiu nas graças do desconhecido
Não via meios de prosseguir

Uma bala num coração
Outra no próprio cérebro

Crime passional.


sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Radioativo


Erguiam-se as mãos para um ultimo suspiro, desejando a morte rápida e indolor. Incolor como o pior veneno, todos procuravam manterem-se os mesmos e assim tornavam-se inevitavelmente intocáveis.

Havia uma fenda naquele muro. Do outro lado era claro, mas ninguém se atrevia a atravessar a linha de fogo.  Como explicar aquela fuga de massas, o êxodo era impossível, o ar irrespirável. Calma, ferro e fogo. Explodiam os tambores de combustível. O cenário fumê dos incêndios nos campos de concentração.

Campos onde a neve clara se confundia com os rostos daqueles que não abriam os olhos. Jamais os utilizaram, não os possuíam. Em sobra, na sombra, pela escuridão. Assemelhavam-se aos animais, sem pelos, sem olhos, com dentes afiados, amarelados. O vermelho que enchia de pavor. Cheiro de sangue, ferroso e doce como tal.

Experimentava pela primeira vez a luz, a mesma que abria a mente daqueles que permaneciam trancados dentro da radioatividade do reator abandonado. Eram seres instáveis. Reagindo em cadeia. Enclausurados.
Ao sentir a luz em seu corpo, se desfez em cinza, após avermelhar toda a superfície tocada pelos raios UVA. Sem filtro, o ar era aquele mesmo, denso, com odores pútridos. Naquela sala fechada, alimentavam-se deles mesmos.

Mutilados por seus semelhantes, a lei do mais forte perseverava, em nome de um deus cego e surdo. Um grunhido de desespero se ouvia do fundo, uma luz acendia e o incêndio novamente explodiu. Hora do jantar.



sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Night Sky


Olhando na janela daquele quarto escuro, David não sabia se as estrelas apenas brilhavam tão distantes ou se eram pequeninas, confundia as mesmas com os aviões que passavam no céu com suas luzes vermelhas e brancas. O menino de apenas 5 anos chamava seu pai para perguntar o porquê daquelas estrelas se moverem tão rapidamente e ao mesmo tempo piscarem com aquele barulho todo. 

Ascendia aos céus o Sol daquela manhã de Domingo, David estava debruçado na janela observando o os pássaros que passavam por ali em vôos cada vez mais perto do telhado. Aquela pipa que estava fazia dias na antena do vizinho, ninguém deu conta que a mesma não se soltaria, a linha formava um varal por entre as casas.

Seu pai, que não vieram naquela noite, não viria. David era filho de mãe solteira, largada, o pequeno menino nem ao menos conhecera seu pai. Mas ainda convivia com a idéia paterna que sua mãe exercia sobre tudo. Viviam juntos, como poderiam ser. 

O tempo passava e aquele menino não crescia, a janela aberta naquela noite de verão proporcionava a melhor vista da galáxia. A casa, de um bairro afastado naquele instante que ocorreu o “black-out”, todos foram para a rua, munidos de velas e lampiões, os mais sofisticados com suas lanternas. David preferiu o aconchego da cama e a companhia de seu urso de pelúcia, os dois assistiam a aquele espetáculo de luzes e fogos.

Certa vez, o menino subiu no muro, era fim de tarde e o Sol já se desfazia no horizonte, junto de seu fiel escudeiro, desafiou a altura e partiu rumo ao telhado, onde teria uma aproximação maior com aqueles pontos brancos no céu. Deitou-se como de costume, aconchegou o ursinho em seu abraço e ali ficou, aguardando a hora da chegada dos astros, chegaram se mostraram e sumiram. A lua ofuscou o brilho as estrelas que nada podiam fazer. O menino por si só, desafiou a altura e saltou daquele telhado ao abismo. Flutuou.

Flutuou e subiu aos céus junto com aquelas que seriam seu objetivo, as estrelas que ele olhava da janela do quarto estavam mais perto de seus olhos. Mais perto de suas mãos. Ele podia tocá-las, eram feitas de bolinha de gude assim como mamãe havia dito dias atrás, umas com suas cores exóticas e outras com um branco quase que transparente. Ainda maravilhado com aquela imagem, viu seu amigo cair sobre as nuvens de algodão que surgiam com o amanhecer. Era um menino, brincando por entre as nuvens e bolinhas de gude.



terça-feira, 11 de outubro de 2011

Golden Gate


Alcançar o céu já não era o bastante.

Queria o infinito, buscava o encontro entre os deuses. Suas asas negras lembravam as de um corvo, voaria cada vez mais alto até que a pressão não mais fosse leve. Sentia a fumaça sair de sua pele, o horizonte cabia em seus olhos e uma lagrima escorria. Assimilando ao dia em que partiu daquele lugar rarefeito.

Ainda sujava o céu, seria apenas um ponto negro enquanto caia. Não suportando a atmosfera, explodindo como um cometa sua cauda reluzia o fogo que saia de sua boca. O sopro do dragão inflamava seu corpo.
Ainda em chamas arriscando um pouso forçado, rompendo as barreiras do som, criavam-se as nuvens juntamente aos estrondos. A água ainda imóvel recebia seu corpo em formato de pedra, rígida, inflexível...

Seus membros deslocados, as asas destruídas pelo fogo apagado pela água. Não sabiam ao certo o porquê daquele fim, o sofrimento contido a fim de libertar-se, sem motivos a ser analisados, sem questões a levantar. Daquele momento em que o mundo já não servia, fez-se o salto. Fora de controle, em pleno voo se deu conta que não flutuava, mas em queda livre é que surgia. 

O sol no horizonte apontava o ultimo suspiro, a redenção.

Criou-se o limite entre o firmamento e o imaginário. Perpetuando assim, sua imagem e semelhança. Mostrando não se importar com os fatos predispostos pela crença, não seria mais necessário enfrentar o mundo, o divino já não era o mistério e o fim já era previsível.

Arrependeu-se.

Antes de tocar o solo.


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Código de Barras


A fortaleza caiu a meus pés, ao ver aquelas pessoas caminhando no mesmo rumo senti um leve tormento. Minha cabeça pensava, passava do ponto, às vezes, o sol batia no chão refletindo um milhão de cores entre as flores de plástico e coroas. O solo arenoso e venoso se mantinha até o muro que findava aquele terreno. 

As pessoas eram identificadas por silhuetas e feixes de luz. Naquele dia o sol ainda se punha e as pessoas me olhavam com um ar de tragédia, cerrava os olhos a fim de escurecer a imagem, nada ali ainda era visível, ofuscado pelos últimos raios me escondi por trás de meus óculos escuros.

Sono profundo, ainda escuta aquela cantiga de ninar e não dorme, com medo de que ela pare. Para fechar os olhos somente quando o peso das pálpebras não se faz mais por onde se agarrar, uma lagrima que caía durante o percurso que se criava naquele rosto pálido. Faltava algo, faltava alguém. Aquela musica começava a fazer sentido, escutando algumas crianças cantando em coro.

Escutei alguém me chamando, talvez para uma despedida. Não olhei para trás achei que não devia, uma estranha energia tomava conta de mim e quase desabei. Vi naquela mulher uma simples humana. Cabisbaixa ainda escondia seu rosto, não sei ao certo, mas foi a quebra de um mito naquele dia em que o tempo foi generoso com alguns e tão cruel com outros.



Dedicado àquele que se doou tanto por todos nós e me ensinou tantas coisas... 
Valeu Vô... 


quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Papo de Elevador - nº 4


Naquela telinha do lado de fora (aquela telinha digital onde se sinalizam os andares) no térreo, podia-se ver os andares quatro, cinco e seis se revezando, quarto andar... Quinto andar... Sexto andar e descia para o quarto novamente, subindo ao quinto e para o sexto outra vez.

Dona Clementina olhava para aquilo e batia o pé no chão, esperando que o elevador viesse ao térreo ou que o mesmo caísse no fosso com o autor daquela proeza. A velhota não agüentou mais, memorizou os andares, subiu pelas escadas e parou no 4º andar, tinham uns cinco metros que a separavam da porta do elevador e logicamente do mal-feitor daquela brincadeira.

As portas se abrindo, ela pôde ver o braço do Silva (o faz-tudo da empresa, geralmente o que varre, limpa, conserta, pinta, cava, tampa, sepulta, reza, dirige, busca as coxinhas da sexta, a mortadela da terça e passa o cafezinho todo santo dia. Há, ele também ganha pouco), correu mais que podia com suas pernas já desgastadas pelo tempo de percurso (alias, a velhota já fazia hora extra), coitada não tinha mais aqueles pulmões de alguns 30 anos atrás e suas pernas pareciam um emaranhado de veias e vasinhos, era peluda também, mas isso não vem ao caso.

É lógico que não deu tempo. As portas fecharam antes mesmo de a velhota pensar em gritar.
 Ainda podia observar o andar que o elevador pararia. Lá foi a nossa cascavel correr atrás do elevador. Enquanto trombava com Sr. Meinfuhrer que lhe perguntava:

- Você esta se divertindo correndo pelas escadas?  Nesta idade que esta, pode correr sérios riscos subindo os andares naquela pressa e alias deveria usar o elevador.

Dona Clementina só não foi estúpida com o Patrão, pois perderia o Silva e o elevador.
Ela ainda corria escada acima, esperando chegar a tempo no 6º andar, para pegar o brincalhão, mas não teve a tal sorte que pensava. O letreiro digital do elevador já apontava o 5º andar novamente, para desespero da nossa senhora.

Descendo as escadas, ela novamente trombou com o Sr. Meinfuhrer que desta vez afiou suas garras e estava possuído, dizia:

- Você deveria cuidar da saúde em outro lugar, pois além das escadas serem para transito dos funcionários a fim de cumprir os papéis de seus ofícios e não para que os mesmos fizessem cooper durante o expediente, imagina se a moda pega. O Silva, aquele vagabundo em trajes de corrida, shortinho, meias até o joelho, tênis branco, munhequeira e todos aquele aparatos, seria um carnaval né.

A senhorita mais velha já caminhava sem esperanças pelo saguão quando trombou o ascensorista, o mesmo cabisbaixo não parecia bem. E disse à dona Clementina:

- O Silva me expulsou do meu próprio elevador, o que será de mim agora, me diz o que será de mim?

Comovida com a situação, ela saiu correndo novamente, mas o esforço foi em vão, o Silva estava em frente ao elevador, passando um pano no chão. E já chegou chegando, descarregando todas as magoas daquele dia:

- Ora seu projeto de faxineiro, o que pensa que estava fazendo neste elevador? Isto é um lugar sério, para utilização de todos nós, com que direito mandou o pobre amigo sair de seu posto? Seu infeliz.

Silva sem entender muita coisa, apenas dizia:

- Estou limpando os botões do elevador e aquele numero seis tava dando um trabalho. Não sabia muito bem quem escreveu nele “Aperte aqui”, mas demorou pra sair. E ainda quebrei o vidro que dizia, “em caso de emergência, quebre o vidro.”

Dona Clementina:

- E por que quebrou o vidro?

Silva:

- Deu uma dor de barriga lá em cima, quebrei o vidro e me caguei todo. Emergência que nada aquele vidro mentiroso, mas a sinhora num se preocupa não, já limpei tudo.



sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Portal


Ela sentava-se na areia admirando o sol. As ondas ainda se quebravam nas pedras tornando um cenário digno de um amanhecer.

O mar parecia calmo com as marolas que mal chegavam à praia, enquanto um avião riscava o céu azul com algumas nuvens se desmanchando com os ventos matinais. Era uma cena bonita, como aqueles cabelos negros que repousavam por suas costas bem definidas.

Um olhar para o lado a fez perder um momento do sol que subia sem trégua, o vento levou aqueles cabelos a favor de seu rosto, balançou a cabeça a fim de retirar os fios que atrapalhavam seus olhos e o objeto que desviara sua atenção.

Ela observava os carros passando pelas ruas que faziam fronteira com a praia, a divisão entre o urbano e o irreal, aquela praia não fazia parte da cidade assim como a cidade não fazia parte da praia, assim como ela não pertencia a nenhum mundo. Dificilmente saberia explicar qual o mundo que ela pertencia, talvez não fosse cidadã da vida mundana, talvez fosse a ultima sobrevivente de sua espécie.

O sol já estava descolando do horizonte, ela levantava-se da areia em alguns movimentos com as mãos limpava suas pernas de um modo agressivo aos olhos daquele que se julgava inocente. Quem passou por ali pôde obter uma visão do paraíso. Quem olhava o sol, não olhava mais.
Ela sumiria após o ocorrido, desvaneceu.

Ninguém sabia explicar, nem o que dizer. Ainda boquiabertos com tal cena, procuravam por rastros, qualquer tipo de pista que levasse à ela. Difícil descrever o momento em que aquele céu acinzentou e o Sol se escondeu. A neblina deu o ar de sua graça. E todo o paraíso se desfez, diante de meus olhos.


quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Carta


"Este é um texto pessoal, uma carta para alguém que está longe e que hoje resolvi sentir falta, me peguei com os olhos mareados numa conversa que tive com um amigo."


Araraquara, 29 de Setembro de 2011.

Elderzinho (era como eu te chamava né?), bom dia.

Sabe quando você não vê alguém por muito tempo e de repente você se dá conta que realmente faz tempo mesmo?

E essa pessoa sumiu da sua vida e a única lembrança que você tem, muitas vezes está ligada a objetos?

E no ultimo contato que tiveram foi simplesmente aquela coisa mais próxima, um ultimo abraço que você nem sentiu direito?

Alguma coisa foi dita, algo como um volta logo.

E não voltou logo, fez seis anos faz algum tempo, não sei se fizeram mesmo, talvez até sete já, levo em conta nossas idades para designar o tempo que está longe. Este mês se foi e você ainda não voltou. Eu sei, está tudo bem aí do outro lado e que um dia pretende sim voltar, rever nossos velhos, talvez tirar umas férias com eles, vai fazer bem para todos nós.

Escrevo hoje, porque somente hoje me dei conta do tempo que não te vejo. Imaginando se está mais velho, se permaneceu o mesmo. Aquela coisa de olhar para alguém e pensar se vai reconhecê-lo, eu mesmo, estou barbado, barbudo, se me tornei um homem isso não sei dizer, mas não vem ao caso.

É estranho escrever isso pra alguém tão próximo e ao mesmo tempo está tão longe, não é o mesmo que escrever um texto fictício que as pessoas tiram o que quiserem tirar e o resto se esquece. É algo difícil de compreender até para alguém cheio de sentimentos. Não declaro estar mal por sua ausência, creio também que não está mal aí. É claro que melhor seria se estivesse por perto, mas tenho em mente que você foi fazer sua vida e precisava que isso acontecesse em outro lugar, todos nós nos mudamos, partimos e isso não é ruim, fico feliz por estar bem.

Sinto aquela falta que era discutir coisas na hora do almoço, de levar fumo do velho, recordo de quando nós mesmos saíamos “no tapa” e a mãe separava na chinelada. Dos tempos que eu te dava uns chocolates no futebol do Play1 (convenhamos você tinha que treinar mais). Foi um tempo bom, que não se apaga e nem vai se apagar.

Aqueles óculos que você deixou, estão na minha prateleira (aquele falsificado que tinha a caixa da Triton), pois é, está gasto e eu nem uso mais, mas está lá, é uma lembrança que tenho além das que guardei na memória. Nos falamos as vezes pelo telefone, algo meio rápido e sem tempo mas é legal, escuto a mãe e o pai com aquele viva-voz ligado conversando com você, nunca me dei conta da falta que você faz pra aqueles dois, é claro que faz falta pra mim também, mas na boa, senti hoje sua falta e não sei de onde e nem porque. Segurei firme a barra com eles e ver o velho chorando quando você embarcou não foi muito sentido antes, mas pensei nisso hoje. Meus olhos marearam e eu fiquei sem entender.

Bem que as pessoas dizem: Certas coisas demoram dias ou até mesmo anos para serem sentidas. O corpo processa, processa e processa e uma hora aquela pancada te leva como uma onda te deixando meio atordoado. E quando você recupera a consciência e vê que a situação atual não é confortável e que você esteve flutuando por todo esse tempo, pisar o chão novamente da um conforto, mas ao mesmo tempo é difícil crer que faz tanto tempo que está longe.

Mande noticias irmão. Estamos todos aqui. E você faz falta nessa família que somos nós cinco (a Nina também né?)

Um forte abraço, daqueles que não sobra espaço.


Dan

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Conto de Fadas



A princesa rejeitava o pobre príncipe, ele declarava seu amor por ela de várias formas e foi no dia em que ele comprou flores para ela que o bicho pegou:

Trago-lhe flores, minha princesa mais bela...
Flores? Nunca recebi flores, elas cheiram a culpa!
Não são de culpa.
São de quê?
São de amor.
Amor? Que amor? Você disse que eu sou a mais bela, isso quer dizer que você tem outras menos belas. E você deve ser fiel a mim e somente a mim. Que amor é esse?
Calma, foi só modo de dizer o quanto você é bela, não quis dizer que tenho outras.
Se não quis dizer, é porque tem.
NÃO, NÃO TENHO!
Não grite comigo, seu grosso.
(ela chorava)
Desculpe, é que você me tirou do sério dizendo esse tipo de coisa.
Não desculpo.
Ai Jesus...
Jesus? Quem é Jesus? - (boquiaberta) - Você é gay?
Foi somente uma expressão. Calma, não sou gay.
E se fosse? Qual o problema? Você tem preconceito?
Claro que não. Tenho amigos gays, o Romeu era gay, morreu de amor pelo pai da Julieta, que não saía do armário e ainda proibia a filha de cortar seu cabelo.
O Romeu?! Que bafon...
Não só o Romeu como o Aladin também. Você acha que o Gênio faz o que com ele nas 1001 noites da Arábia?
Mas... Mas e a Jasmim?
Hahaha amiga, a Jasmim é apenas coadjuvante na vida daquele ex-plebeu. Bicha rica agora, o Aladin em um momento mais exótico às vezes até procura o Abu, aquele macaquinho perverso.
(boquiaberta)
Que bafon!
Não vá dizer nada hein? Não quero me comprometer e nem sair como fofoqueiro.
Não quer se comprometer? Mas você não disse que me amava?
Disse, mas não foi esse comprometimento que eu quis dizer.
Então você não vai se casar comigo e não viveremos felizes para sempre?
É o que eu mais quero.
Não se casar?
Não. Eu QUERO ME CASAR!
Como quer se casar se está sempre gritando comigo? Acha que teremos uma vida saudável brigando deste jeito? Acha que meu pai gostaria de ver a filha tão linda, educada e centrada, que faz tudo certinho, que seria uma ótima esposa e rainha, com um príncipe mal educado que só pensa em ter várias mulheres.
Eu já disse que não quero ter várias mulheres, que não sou gay, tenho educação suficiente para manter tudo perfeito entre nós. Case-se comigo minha princesa (ajoelhando-se).
Sua? Humpf!
(braços cruzados, desviando o olhar para trás, dando as costas)
É modo de dizer, eu te amo, case-se comigo.
(ainda ajoelhado)
Vou pensar... Você foi grosso, gritou comigo e ainda estou em dúvidas se você é ou não gay.
Não minha princesa, não sou nada disso que você disse.
E ainda é possessivo! Chamando-me de sua.
Não, por favor!... Não foi a intenção.
Então quer dizer que não me quer pra você, inteirinha?
Claro que quero, eu quero.
Tá vendo! Você quer me aprisionar num casamento! Além de mal educado, é gay e possessivo.
Sou muito paciente, mas com todo o respeito: sua doida, paranoica e fofoqueira.... Vai tomar no olho do seu Cu!
O príncipe perdeu a cabeça... 

No sentido figurado.

Ainda bem...


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Esperança


Aquelas cores que se formavam no azul do céu daquela cidade extremamente poluída, tornava o céu um tom de marrom meio vermelho. Na junção entre o firmamento e o horizonte revestido pelos prédios. Aquelas ruas extensas, onde as luzes vermelhas dos veículos reluziam o crepúsculo. Caminhar por entre as ruas, pontes e passarelas daquele sol que já se punha antes mesmo da hora do rush, era como enfrentar a vida e a morte num só momento. Voltar para casa era não só um caminho, mas uma missão.

Indecisos se permaneciam na faixa 2, para seguir em frente ou então talvez a faixa 3 para sair da marginal, faixa 1 de segurança. Os motores exalavam aquele cheiro característico do catalisador e o perfume das rosas plantadas no canteiro daquela corporação multinacional mal era provado pelos que passavam por ali trancados e vedados em seus veículos com ar condicionado.

O sol como dito, já estava posto, enjaulado, o frio já tomava conta dos corações e das saudades, os bares começavam a se encher, uns procuravam calor nos destilados e outros nos amores, se queixavam da vida com o garçom amigo que sempre os servia com o mesmo carinho de um pai, isso mesmo, o “garção” amigo, também sabia a hora de cada um para a saideira, para retomar o caminho de casa e claro ligar para um taxi caso o tão amigo cliente estivesse dirigindo.

As memórias que a metrópole guardava, viviam em algum lugar pequeno, pedaços de coisas que surgiram em suas vidas. Vivem com elas e com aquela sensibilidade que elas trariam de alguém ou alguma coisa. Momentos bonitos, tristes e até mesmo os mais simples. Em um lugar do cérebro residem as pessoas que surgem e se vão, alguns ficam para fazer desta memória, uma historia e a indecisão do ser de que uma memória deve ser apagada nunca é simplesmente aceita. Memórias, ao mesmo tempo em que existem e proporcionam momentos bons de eterno carinho, também machucam e fazem sucumbir a um passado distante e irreversível, cabe a eles, guardar os bons momentos.

Tão aconchegante e tão perversa, a cidade grande costumava ter seus altos e baixos e foi do alto daquele morro que as estrelas se achegaram para brilhar mais perto daquele contemplado, brilhos nos olhos, da sacada podia-se ver o espaço todo, a cidade toda. Estava em seu lar, estava simplesmente a salvo, ele e as estrelas.





sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Identidade Preservada


Era passional seu modo de enxergar o mundo, seu desgosto pela vida tomava proporções catastróficas, todo aquele amor com que via um animal brincando com sua bola ou admirava as flores desabrochando no canteiro entre as ruas que iam e vinham. Não aceitava nenhum tipo de maus tratos tanto com a natureza ou com os seres que dela vinham.

Aquele ser indígena caçava para viver, tirava seu sustento e somente seu sustento da terra. Matava sim os animais, para se alimentar. Cuidava da mata com sua própria vida. Protegia-se com sua mascara feita com tinta natural retirada do urucum. Mantinha seus olhos abertos contra qualquer ameaça à tribo. Cuidava para que nenhum predador se aproximasse.

Caminhando pela rua entre os prédios de concreto, se sentia enclausurado, era o modo como via aquelas pessoas ao seu redor, uns vestindo seus melhores ternos, outras tinham roupas rasgadas, ele não tinha idéia do que se passava ali, uns atiravam moedas para alguns que estavam sentados no chão, estes mesmos levantando as mãos para o céu pedindo perdão por alguma coisa, os Deuses lhes castigavam ao não ouvir suas preces. Não ouviam os Deuses aquelas pessoas que passavam sem notar que ali ao lado havia alguém passando fome ou mesmo na malandragem para conseguir alguns trocados. O índio não sabia como se portar naquele local, um carro passou tirando tinta de seu couro e de dentro um homem gritava “SAI DA RUA”, ele sem entender apenas desviou do carro que quase lhe causou problemas.

Pobre moço, caçador, guerreiro... Ali, seu arco e flechas não tinham mais poderes. Ele gritou por ajuda em sua língua nativa, nada aconteceu, alias algumas risadas eram ouvidas após aquele grunhido.

O helicóptero em um vôo rasante causou pânico naquele que viu um pássaro gigante se aproximar. A vida na cidade tornou sua inocência algo questionável. Mas ainda assim, não falava a língua local. Ele aprendeu a pedir dinheiro levantando os braços como os fiéis, reconheceu os engravatados como Deuses, uns eram generosos outros nem tanto. Talvez pela bondade que alguns tinham.

E de Deus veio a recompensa, uma mão estendida do chão outra estendida das alturas, munido de Alzheimer o senhor que ajudava as pessoas sem saber ao menos o próprio nome, sensibilizou-se com o trágico fim daquele que sofria por miséria. O velho fugia do hospital todos os dias para dar uma volta e nunca retornava, o índio que foi encontrado recostado em uma das paredes do bairro central não se rendeu à criminalidade por nobreza.

Tornaram-se amigos, mas não se falavam. Pequenos gestos, momentos e um simples ato de estender a mão, foi o necessário para que aqueles amigos fossem companheiros pelo resto da vida.

No ano em que o senhor, Seu Eurico, faleceu. O índio (nome não revelado) retornou à sua aldeia mais próxima, carregado daquele sentimento de perda. Mas não perdeu, juntou-se ao velho amigo, dias depois. O mesmo adoeceu com as impurezas da cidade grande, uns diziam que o “índio” não suportou a falta do velho amigo, outros diziam que não suportou a pneumonia. Ainda havia quem dissesse que o pobre homem sentia falta, era mesmo de sua casa.




quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Adormecido

Janelas abertas para que as estrelas observassem o sono perpétuo daquele que nunca adormecia, e que desta vez adormeceu. Aquele pedaço que existia, de alguém que não estava ali fez lembrar-se de uma manhã na qual foi dormir observando o sol, a claridade que batia na janela era algo bonito, tinha um desenho meio irreal, sorriu discretamente com uma lágrima que escorria de seus olhos. Sentiu o peso de uma saudade no peito. Observando sua imagem refletida no espelho entrou em declínio. Um turbilhão de sensações tomava conta de seu corpo, que até então não tinha idéia do que era capaz de sentir. Entrou em parafuso... Convulsões, epilepsia e AVE (Acidente Vascular Encefálico).

A madrugada fria não tocava seu corpo, acostumou-se ao clima por querer. Era assim que aquele quarto vazio o esperava toda noite antes do sono não vir. Viria dias depois, acompanhado de uma leve dor de cabeça, uma dor que o paralisou. Mas não doía mais, não fechou os olhos aguardando o arremate, assistiu a cena aberta... A céu aberto, o cometa passar diante de seus olhos. O deslocamento de ar fez com que tudo o que estivesse por perto se movesse, papéis na escrivaninha, apetrechos na janela, penduricalhos e aquele aviãozinho preso no teto. Tudo foi pelos ares.


A explosão atômica que se via da janela era algo mais que bonito, explodia em um azul brilhante, radioativo, meio raio...
No alto daquela montanha mágica, o sopro do dragão.

Quando perceberam o que ocorrera era tarde demais, a chuva já havia molhado todo o jardim, as flores que ali não existiam, floresceram. Os frutos estavam prontos para o consumo, consumiam. Da doença se fez a vítima. Explodia o céu em sete cores e o que se observava ali, naquele horizonte, era tão fiel à pintura, lembrava-se de Dorian Gray. Não havia mais escapatória e ali se derramava o sangue nobre.


terça-feira, 20 de setembro de 2011

Documentário Lisboa

O amanha surgiu como na mais bela poesia de Camões, Lisboa já não era mais a mesma. Ao som dos bandolins, caminhávamos rumo ao porto. Navios cargueiros com suas rotas alteradas avançavam sobre a praia. Fora daquele momento, minha mente se partia em duas. Não sei se os navios de cristal que roubavam a cena. Três jovens brincavam no cais durante um espetáculo teatral que ocorria. Aproximei-me e já ganhei o chapéu desembolsando dois euros de minha carteira, vi o ator sorrir de modo que pedisse que eu sentasse por ali mesmo. Elas pairavam no ar com suas cantigas e beleza inocente de crianças.

Seus vestidos coloniais, roupa de gente simples, mas na capital portuguesa havia espaço para isso? Talvez alguma festa folclórica. Aquele ator viu que não prestava atenção em sua cena (realmente não prestava), ele se colocou em minha frente, estendendo a mão, pedindo para que eu fosse até o palco improvisado participar da atuação. Ele estava vestido de arqueiro entregando-me uma maçã. Entendi logo a brincadeira, eu devia colocá-la na cabeça para que ele acertasse a mesma, como alvo. Era só uma brincadeira e resolvi não participar, apontei as meninas que brincavam ali, num trajeto meio distante. Todos olharam e riram da minha cara pensando ser uma piada. O ator que se desdobrava para arrancar dinheiro e risadas da platéia, com um olhar serio, vendo que eu roubava sua cena, me empurrou para fora.

Ainda com a maçã, pensei foi a fruta mais cara que já comprei. Olhei para trás, observando a cena que ele transformava. Espelhos, marionetes, palhaços e fantoches. Um mundo surreal era apresentado naquele cais. Não sei de onde ele retirava todo aquele material. O Fred, meu fiel escudeiro (um cão de rua que encontrei numa noite da cidade portuária), queria andar por toda a escora, parece que ele sabia que eu queria mesmo observar aquelas meninas brincando. Era de uma beleza tão sutil. Não pense que eu olhava com segundas intenções, eu olhava com um olhar diferente, um olhar de admiração, quanta riqueza num simples momento. Não precisavam tanto, para chamarem minha atenção.

Caminhando em direção a elas tirei minha câmera do bolso, a fim de obter algumas fotos daquele momento tão belo. Ouvia ainda aqueles versos de Camões:

“Julga-me a gente toda por perdido,
Vendo-me tão entregue a meu cuidado,
Andar sempre dos homens apartado
E dos tratos humanos esquecido.

Mas eu, que tenho o mundo conhecido,
E quase que sobre ele ando dobrado,
Tenho por baixo, rústico, enganado
Quem não é com meu mal engrandecido.

Vá revolvendo a terra, o mar e o vento,
Busque riquezas, honras a outra gente,
Vencendo ferro, fogo, frio e calma;

Que eu só em humilde estado me contento
De trazer esculpido eternamente
Vosso fermoso gesto dentro na alma.”

Quando bati a primeira foto, uma delas apontou em minha direção. Pensei ter ganhado as meninas para colocar num porta-retrato, uma a uma se aproximando para aparecer nas fotografias.

Sorriam, como se nunca alguém tivesse notado a presença delas ali.


sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Adormecer

Definindo ainda as partes do corpo que se moviam no modo automático, tudo era tão mecânico quanto um motor sem partida elétrica, desde a respiração que acompanhava o movimento do peitoral, até mesmo o diafragma que impulsionava o processo. Os músculos sentiram aquela dor, cada pedaço cada fibra.

O estomago gelava e não sabia por que. Estava pesado se remoendo, contorcendo, barulhos estranhos e sem significado exato. Aquele gosto amargo na boca não era sua culpa, o fígado que cheirava à ressaca, a dor era interna. Um turbilhão de sentidos, diziam os termos científicos, existirem apenas cinco, ah... Tão pouco, para tudo aquilo.

Uma leve brisa acalmava o que se sentia. Mais em cima, havia um ser que batia compassadamente, mas no descompasso é que embriagou a maquina maior. Surgiram vertigens, tonturas e uma série fatores que normalmente são feitos de silêncio e sombra. Os batimentos acelerados indicavam uma substância que faria com que a maquina explodisse em movimentos rápidos, mas sem muita precisão.

Ouvia-se o estampido, dentro da caixa de pensamentos o revólver de ilusões estava ativo, aquilo que via não era simplesmente o que ocorria, mas como dizer aos olhos que a imagem vista é uma mentira. Como dizer aos pensamentos tão claros que a ilusão o sufocou. As pontas dos dedos estavam dormentes, os pés formigavam e a pele arrepiava, era de calafrio. Era um mal súbito.

As veias pulsavam enquanto o sangue era injetado nas células, as trocas gasosas eram algo mais sincero, era uma troca justa, tira-se o que precisa e devolve-se o que não tem. Mas faltou alguma coisa, faltou vida. Morreu, assassinado, doente, o vírus se dissipou e a febre fez questão de manter-se acima de todas as honras. A defesa do corpo... Essa se esqueceu de mover céus e terras... A lagrima caiu, molhando o solo em que se via, foi a primeira vez que os olhos antes de se fecharem sentiram o peso do mundo nas costas. 

“dona eis requiem”.


quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Mais uma de Super-Herói... primeira parte

Resolvendo por um fim à própria vida, uma garota no auge dos seus 13 anos, ao ver seu pai morto com três tiros na cabeça, desferidos por um policial.

Seu pai era um advogado bom, mas como definir um advogado bom? “Advogado bom” é aquele que trabalha com a lei e não com suas brechas a fim de criar escapatórias para uma eventual punição. Porém, infelizmente, a lei não é cumprida por todos. Dr. Glover era seu nome, típico homem da casa, batalhava, sim, para um mundo melhor. Não abraçava causas que não cumprissem os bons costumes (como ele mesmo dizia). Não defendia bandidos nem se colocava em esquemas de corrupção, um homem íntegro. Naquele dia beijou sua mulher, Sra. Glover como era chamada (tinham este costume, o nome era dito somente aos íntimos, o que ainda não é o caso), chamou Sarah, sua filha, nunca se atrasava para o início das aulas e nem Dr. Glover para abrir o escritório ou para alguma audiência.

Encontrou alguns amigos durante a audiência daquela manhã, a causa estava ganha, um esquema envolvendo policiais ao trafico de entorpecentes; recebiam propina e utilizavam o carregamento para uso e venda. Ah, além de advogado, ele mantinha uma “identidade secreta”: Sr. Glover toda noite transformava-se em um detetive, infiltrou-se no tráfico para reunir provas contra todo aquele esquema.

A casa caiu! - Gritava o policial da corregedoria, uma semana antes do tribunal ser formado. -
Caiu mesmo, não somente a casa como também um império criminoso. Altas patentes, coronéis, tenentes e cadetes (os menos favorecidos, alguns mesmo estavam ali por obediência). Um deles, o Capitão Perez, amigo de infância de Sr. Glover, reconheceu aquela tatuagem (dedicada à sua esposa no ápice do namoro de muitos anos atrás).

Três dias depois do acontecido, uma ligação, Sr. Glover parecia preocupado saiu às pressas de casa, se dirigindo ao escritório. Chegando lá, já sabia que a porta fora arrombada, o sistema de alarme, desativado e o escritório estava revirado. Vestindo-se de super-herói saiu em um voo rasante em busca dos autores, mas não os encontrou num bar, ou num depósito. Fora na delegacia que Capitão Perez e Dr. Glover (agora Dr.) trocaram olhares.

- Bom revê-lo Perez, está livre não é?
- Sim, meu caro Peter. Estou livre, suas provas forjadas não me incriminaram.
- Você quer dizer sobre seus atos ilícitos que acobertaram, mais uma vez, suas bandidagens não?
- Sabe que posso te prender por desacato, não sabe? Grande amigo que é... armando contra mim.
- Você armou para si mesmo, espero que saia vivo dessa...
- Ao contrário de alguns, sairei.
- O que quer dizer com isso?
- Nada, apenas cuidado onde pisa... Grande amigo.



terça-feira, 13 de setembro de 2011

Papo de Elevador - nº 3

O som que se ouvia naquele andar, era hora forró, hora samba e pagodinho...

O Silva que era apenas o faz-tudo da empresa (geralmente o que varre, limpa, conserta, pinta, cava, tampa, sepulta, reza, dirige, busca as coxinhas da sexta, a mortadela da terça e passa o cafezinho todo santo dia. Há, ele também ganha pouco), se libertou desta vez, fazia um churrasquinho no banheiro feminino, sim no feminino. E ainda gritava: 
- TEMOS BACALHAU ASSADO!

A dona Clementina se revoltou ao ouvir bacalhau assado... 

E nem norueguês era o bicho. Talvez fosse somente algum peixe bem salgado, que o próprio Silva preparou em sua casa, naquela mesma bacia onde tomava banho.

O Silva realmente estava maluco, não só perderia o emprego, como de quebra seria torturado, molestado, morto, decapitado, “decapitulado” (sim, ele seria morto por capítulos, para não dizer “versiculado”, utilizando de uma bíblia).

Dona Clementina não poupou esforços, correu até a sala do manda chuva, no 5º andar e já entrou esbravejando:
- Como que uma empresa desse porte, deixa que uma afronta dessas ocorra.
(Senhor Meinfuhrer, um alemão já com certa perspicácia, apenas observava o chilique daquela velhota).

Sr. Meinfuhrer respondeu:
- Que afronta? Por acaso ele está vendendo algo de má qualidade? 
- Alguém passou mal?

Dona Clementina surpresa com a resposta, desviou a atenção:
- Veja! Cartas para o senhor.

Sr. Meinfuhrer agradeceu e botou a velhota pra fora.

Dona Clementina desolada com o ocorrido estava envergonhada também já que o Silva era boa praça, um homem batalhador que ajudava a todos. Foi quando ela pegou o elevador, o ascensorista com uma churrasqueira elétrica DENTRO DO ELEVADOR, a velha viu aquilo e não agüentou:
- Até você?
O ascensorista:
- Estamos seguindo o ramo da gastronomia.
O Platão gritou antes da partida do Elevador:
- HEY, MAIS QUATRO ESPETINHOS PRO ADM! PINDURA ESSA HEIN!

No RH, todos gritavam ao mesmo tempo, desejando ou espetinho, ou o tal do bacalhau assado vendido no banheiro feminino do 1º andar.


No 2º andar, abrem-se as portas e a imagem que a dona Clementina via, era a do Silva, com um saco preto nas mãos dizendo em alto e bom som:
- Toma mais esses, são siameses, estão limpos e temperados... Só por no espeto.


Pobre velhinha... Saiu do elevador direto pro banheiro para colocar aquele café com biscoitos pra fora, não foi muito efetivo, pois ali havia uma plaquinha com os dizeres - “Xurraskinho do Çilva”, TEMOS BACALIAL AÇADO, entrada somente para pessoal autorizado - ou seja, além de tudo ainda precisou engolir o café pela segunda vez.

Pobrezinha por quê? Estava tudo uma delicia (eu não falo do café).


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

"SocioPolitizado"

Matinal.
O sol nascente.
A lua com sua noite se desfazia.
As estrelas tão longe, não sabiam ao certo como não conseguiam se desfazer.
Talvez tão pequenas ou talvez tão brilhantes.
O som das correntes que aprisionava o mar em volta daquela ilha de imensidão.
O sofrimento daquele povo acordava todos os que estariam em volta.
O mar chegou, infindável com suas caravelas.
O índio, despido, sofreu com a nudez.
Enquanto o descobridor ao lançar suas teses e idéias em sua língua nativa.
De nativo, só os índios que sofriam com aquele descaso.
Matavam cavalos, pensando ser o europeu uma espécie de monstro com duas cabeças.
As caravelas atracadas no mar aberto assistiam aquela cena de horror.
O mar, coberto de sangue.
O nativo morto na areia.
O descobridor lanchava na sombra e água fresca.
As índias não foram descobertas.
As mulheres estupradas.
A verdade deturpada.
O Sol queimou de raiva.
Naquele dia que a lua se escondeu de vergonha.