sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Documentário


Ligou o chuveiro e foi buscar sua toalha, no momento em que a água esquentava, gerando aquele vapor característico. A porta estava entreaberta fazendo com que parte daquele ar meio úmido meio opaco se desfizesse no ar de fora, outra atmosfera, um universo paralelo que se formava naquele Box dois por um e meio.

Ela tinha uma vida boa, um trabalho digno, não tinha vícios nem doenças, muito menos deficiências. Era uma pessoa humilde, de bom caráter. Vivia sua vida em busca de algo melhor e nunca lhe faltou coragem, nunca houveram desentendimentos e/ou brigas. Seus cabelos longos tinham tons de cinza em meio ao loiro quase branco, ela era bem vaidosa, mas regrada. Não tinha futilidades tinha sempre um livro na bolsa, pois sabia que seu maior companheiro nas horas vagas seria o conhecimento.

Entrou em baixo, esperando conforto.

A água estava no ponto certo, quente como era de costume, espuma escorria por seus cabelos, molhava sua face de anjo (sim, ela era linda), relaxava com aquele banho quente. Deixando a água escorrer por seu rosto, por seu corpo, estava estática, parada em baixo do chuveiro captando todo tipo de sensação produzida.

Fechar os olhos e sentir que estava bem consigo mesma após se entregar aos prazeres que pensava ser sublimes. Caindo em si soltando um leve sorriso, seu corpo estava tenso apesar de tudo. Tinha um peso em suas costas, tinha medo de que algo estivesse acontecendo fora dali, seu sorriso foi se desfazendo em meio ao vapor que se juntava ao seu semblante, a tristeza tomaria conta daquele momento, ela tinha ainda uma esperança, a solidão não lhe era mais agradável.

Alguns instantes após o inicio, suas lagrimas escorriam, misturando-se a água que caia do chuveiro, não se sabia se as lagrimas turvavam a água doce ou se o doce das águas é que se misturava ao sal. Ela não tinha mais idéia do que se podia fazer. Em visão na diferença da versão.

Cortando os pulsos num instante em que aquela angustia sufocava. Aprender sobre o mundo a deixou aversiva ao mesmo. A água agora misturada num tom de vermelho, o sangue quente escorria pelo chão e uma vida escapava por entre os dedos daquela jovem por um momento de descuido.
Ele, entrando no banheiro com as palavras “eu te perdôo” pronunciadas.

A cena que era branca da cor dos azulejos, com desenhos abstratos como detalhe, aquele espelho embaçado e só. Seu coração batia com uma força incomum, ao ouvir o chuveiro ligado se tranquilizou abrindo a porta sem nenhuma pressa.

Via-se em tons escarlate, na água, no ralo, pelo chão daquele quadrante. Desejos, sonhos. Palavras de carinho eram dispostas ao vento, enquanto ele abraçava aquele corpo sem vida. Não mais estava ali alguém que lutou por um lugar ao sol. Alguém que não podia mais lutar. Ele a vestiu, tampou os ferimentos e a deitou na cama. Deitou ao seu lado aguardando a chegada da ambulância, que já vinha com as luzes apagadas.