segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Tão Distante - Parte 6 - O Passado


“Podia-se ouvir os gemidos de Yvel, sofrendo por perder seus sentidos, visão e audição. Agora ele era guiado por uma estranha força, simplesmente vagava pelo escuro, uma alma que se tornava sombria com o passar do tempo.”

Eu estava cego e surdo, não havia meios de voltar atrás, Ashkaril completamente ferido e sem expectativas. Apenas caminhava ao meu lado, era estranho, mas ainda assim eu tinha plena certeza de que estava no caminho certo, agora, mais do que nunca. Precisava chegar logo, mas naquele estado em que estava, iria desapontá-los. Foi quando resolvi.

- Ashkaril é seu nome não é?
- Sim Yvel. Meu nome.
- Há alguma chance de me recuperar?
- Claro que há. Não é a primeira vez que estamos nesta situação. Toda guerra é assim.
- Como assim toda guerra?
- Os Cybers, possuem um dispositivo em suas feras, que debilitam temporariamente qualquer uma que esteja perto demais, no momento em que explodem.
- Mas eu sou um ser humano, estou cego e surdo.
- Sim, mas você não é bem um ser humano.
- Como assim! Claro que sou, carne e osso.
- Desculpe, mas nenhuma carne e nenhum osso humano agüentariam este frio que estamos enfrentando.
- Concordo, mas o que sou então?
- Você é um dos meus.
- Está dizendo que sou um anjo também?
- Sim. É um anjo, assim como eu. Um anjo decaído.

Já não era surpresa, Ashkaril estava argumentando com certa sapiência, eu não podia mais argumentar contra ele. Não sabia mais o que fazer. Aceitei por enquanto aquela condição. Ele se mostrou um tanto quanto próximo ao me defender daquele monstro. Ele estava ferido e eu sem meus sentidos, era incrível como ele ainda estava em pé, não podia acreditar na forma como eu reagi a tudo, durante a batalha, eu estava paralisado, tinha consciência disso e somente, não podia me mover, carregado nos braços de Ashkaril. E agora, é como se um dos sentidos estivessem se aflorando em mim, um sentido que me guiava para o nosso destino. Queria voltar para casa, somente isso. Lena e Aliek me esperavam, queria poder voltar sem todos estes problemas, como faria para defendê-los agora? Eu jamais poderia ouvir novamente a voz doce de Lena, e nem as historias mirabolantes que Aliek contava ao brincar com seus bonecos. Realmente, eu não acreditei muito nesta tese de que eu sou um deles e que recuperarei meus sentidos. Estou confuso. Não sei se realmente quero voltar para casa neste estado. Vão sofrer minha ausência, mas podem sofrer também por meu sofrimento.

“Ashkaril não levantou vôo desta vez, carregava Yvel nos braços. No caminho de sua casa, Yvel não sabia se queria chegar daquela forma.”