sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Buteco

As moças no balcão aos berros pedindo mais uma gelada. Pediam não, ordenavam. O garçom mais que depressa abria com alegria uma, duas, três garrafas, as meninas estavam em pé de guerra quanto ao desempenho de seus times no campeonato nacional. Quando de repente uma delas sinalizou para fora do bar, ninguém queria saber o que era de inicio mas foi por curiosidade que uma delas olhou (não só olhou, como olhou de novo).

Entrava no bar o Robertinho, menino novo aparentava ter uns 23 anos, bem apessoado, com trajes mínimos, debruçando no bar com cara de medo (medo daquela mulherada que o secava de cabo a rabo, diga-se de passagem, assim como comentou a senhora da mesa 15, - Que rabo). Robertinho olhou com desprezo, desapego. Entrou meio sem saber o que fazer naquela situação embaraçosa, foi até o balcão onde continuava sendo o centro das atenções pediu um Refrigerante de limão (não citarei a marca) pagou e saiu. No caminho encontrou sua irmã na mesa 30 que o olhava com cara de espanto e ao mesmo tempo franzindo a testa e balançando a cabeça em forma de desaprovação.

- Onde pensa que vai nestes trajes (dizia Flávia, irmã de Robertinho)?
- Vim só até aqui comprar um refri pro almoço, a mãe pediu (Robertinho se justificava).
- Mas você está vestido que nem um putinho (Neste momento, Flávia se exaltou devido ao alto consumo de bebidas alcoólicas).
- Para de falar assim comigo, você está bêbada (O bar silenciou, a conversa baixou e todos olhavam para aquela cena).
- O que você disse (Flávia agarrando Robertinho pelo braço)?
- Você está me machucando, para de fazer isso me deixa ir.
- Se eu ver você nestes trajes de novo passando por aqui, vai se ver comigo seu putinho (Flávia em tom de ameaça). E ai de quem assoviar mais uma vez, olha o respeito com o meu irmãozinho, bando de canalhas.

Robertinho saindo do bar às pressas, levava o que restara de seu orgulho e aquele refrigerante sabor limão. Ouviam-se assovios de aprovação ao modelito shortinho/blusinha (de ficar em casa).

Lá fora ainda havia rastros daquele perfume arrebatador. Aquelas meninas uivavam ao sabor da cevada e amendoim, nas mesas mais requintadas, porções de batatas e salgadinhos.  Mas ninguém escapou da visão do paraíso que Robertinho causou, “descausou”, causou novamente e ainda causa. O circo voador passava pela rua com sua trupe de malabaristas, animais adestrados e toda aquela algazarra, mas ninguém viu.

Robertinho sorriu (mais tarde) da situação de ciúmes e também das cantadas recebidas, é claro que fez de propósito para causar aquele alvoroço no bar, fez mesmo, sabia que tinha um corpão. Até se perfumou e fez as unhas, malandrinho.



Papo de Elevador


O ascensorista perguntava o andar. Aquela musiquinha característica tocava na caixinha já antiga.
Ninguém respondeu e assim ele teclou o ultimo, quando subiram todos ao terraço. Abriam-se as portas e o que viam era uma festa com bebidas, dançarinas e o Silva (o faz-tudo da empresa, geralmente o que varre, limpa, conserta, pinta, cava, tampa, sepulta, reza, dirige, busca as coxinhas da sexta, a mortadela da terça e passa o cafezinho todo santo dia. Há, ele também ganha pouco).

O gerente de Recursos Humanos dizia:
- Isso pode ser um fator influente no psicológico, é um caso a se estudar, mas depois da festa (saindo do elevador e abraçando uma das dançarinas).

O supervisor de logística dizia:
- Isso é uma questão de transporte.

Todos os 10 dentro do elevador:
- Transporte?

O Supervisor de logística:
- Sim, alguém me transporte para essa MU-VU-CA (Caindo na gandaia)!

O ascensorista virando o cap para trás já iria largando seu banquinho, não fosse a dona Clementina, responsável pelo malote de toda a corporação que em voz autoritária berrou lá do fundo em meio as cartas e pacotes:
- Se você descer, quem desce essa birosca, tenho horário a cumprir, já pra baixo. SILVA! Vem junto, já. Preciso de ajuda com tudo isso.

O Silva coitado, era o faz-tudo como já dito, queria sepultar a velha antes de mais nada, ainda mais naquela hora que todas aquelas bundudas dançavam o “cancan”.
- Senhora Clementina, por favor, na hora do “cancan” não... (ajoelhado, pedindo Clemência à Clementina)
- Já disse, tenho horário e se quiser, eu danço pra você. Lindinho (Dona Clementina, uma senhora com seus 73 anos, para não dizer TODOS os seus 73).

 Silva não sabia se sepultava ou se suicidava. Justo na hora do “cancan”. Lastimável.