quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O Cigarro e o Câncer

A vida como era feita de apenas um sopro. Inspira, expira.

A fumaça entrava no corpo perfurado e saia pelas valas das costas que sinalizavam o trágico fim. A bandeira hasteada, com os dizeres: Não fume, parece que não servia nem mesmo ao lado dos tanques de petróleo ou nas placas em locais fechados (públicos), tinha um placebo para que a dor daquela mancha negra fosse mais branda.

Enquanto escrevo, sinto meu peito arder, sinto o ar faltando. O maço de um lado, os exames do outro e eu no meio fio, não sei se abuso do vício ou se respeito minha saúde, não sei se abuso da saúde e respeito o vicio. Está muito claro para mim, que isso pode me matar. Alias, já me matou. Parti corações, vivi sem remorsos, consciência leve e tranquila. O câncer pôde ser evitado, mas o vício não. Cansei de lutar, cansei de esperar que tudo se encaixe, apenas estou escrevendo talvez minhas memórias.

Olho para fora, a luz do sol passando por entre os feixes da veneziana, amarelada de nicotina.
O ventilador em modo exaustor, gira lentamente devido a exaustão (seu motor falhou, não serve mais), não troquei pois não preciso mais de ar puro, a fumaça que cobre esta sala, se mistura com o desenho das paredes também amareladas, assim como a veneziana (que era da cor branca, quando ganhei naquele aniversário de casamento).

Na TV, o jornal apresentado por aqueles babacas manipulados e manipuladores. A notícia mostra o sangue do trabalhador que morre de fome, mostram também crianças abandonadas e animais maltratados. Mas somente mostram, com zoom aproximado a ponto de se enxergar a lagrima que cai no rosto daquele menino que se alimenta do lixo.

O cinzeiro está cheio e minha garrafa vazia.

Não verei meus filhos crescendo, não serei de mais ninguém. A terra me consome enquanto meus pés enraízam no solo ao qual estou pisando. As folhas crescem entre meus dedos que gangrenam e se desfazem em cinzas e bitucas. Tentando levantar daqui, sair deste lugar. Pontadas em meu cérebro fazem com que meu corpo não reaja a esta clausura, atrás da cortina, a fumaça, atrás da fumaça após a vidraça uma grade e estou no 18º andar, aquilo serve para que ninguém entre ou para que ninguém pule?

Fiquei sabendo ao alugar, que varias pessoas cometeram suicídio, pulando desta janela. 

Afinal, por que eu pularia? 

Se já o cometi?