sábado, 29 de setembro de 2012

I hope so

Sentado, estático.

Teclas e letras deturpavam o conhecimento e a maior parte de sua alegria. Ouvia gritos de dor, mas era algo mais profundo. Nos fios de cabelo, grudados por todo seu corpo fazia com que o sétimo céu baixasse ao nível dos pés. Musica no rádio perturbava com um ritmo alegre e não entendia o porquê. Apenas vivia.

Fechar os olhos era algo que não poderia mais, aliviava a tensão, sentia como se o corpo se modificasse. Ao redor de seu casulo conseguia olhar para os transeuntes como se fossem peças de um sistema, engrenagens prontas para a substituição. Quer queira quer não, sabia apenas que vivera dentro daquela bolha e sumira num momento inexplicável.

As partículas retornavam com certa atração, como o mercúrio. Ainda estava ali, observando o mundo e poderia crer que também era apenas mais uma peça do sistema. Ele seria a engrenagem mor, a única capaz de pensar antes de consumir. 

Mas consumiu, pela ultima vez, caminhava com certeza de que seria o fim.

Fora substituído e obteve sua liberdade.


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Diário de Bordeaux


Querido diário, estamos mais uma vez, subindo na audiência e caindo pelas tabelas. O Escracho está mais um dia de folga e deu lugar a um poeta meio machado meio martelo, se bate corta ou espana, atarraxa, mas não prega.

Falando em pregar, o pastor analisava o dízimo enquanto exorcizava do rádio de um taxi, “em nome de Jesus”, era só um garoto epilético. Nas notícias mais comentadas, sabemos que a boçalidade resolveu tomar Red Bull e criar asas. Maluco beleza, uma carta de vinhos com o Lambrusco a 25 mangos, frisante, rose.

Uma charge, uma vinheta. Olhar para os lados e sobrar pouco do dia para passar com quem se gosta, com quem se divide uma vida. Infeliz vida talvez, mas se sobra pouco tempo, talvez é o tempo que deveria ser. Podendo ser o tempo que não existiria. O fato de não existir, também é algo que se extingue durante as horas que se vão. Já chegou a imaginar que nada do que vemos é real? É como se as coisas que existem ao nosso redor fossem limites. Feitos de átomos, ou, luz.

Olhar do lado de dentro, falo do lado de dentro de nosso corpo, falando enquanto alma, espírito ou mente. É um momento que podemos pensar em nosso universo, seja paralelo ou não, podemos cair em contradição. Perceber que as grades do lado de fora, indicam que estamos a salvo da anomalia que persiste fora dos limites pressupostos aos que ainda estão (por incrível que pareça) do lado de fora. Senso de proteção ou de ridículo? Pensar que se trancar dentro de casa é uma coisa segura, blah! Não estamos seguros de nós mesmos e, afinal, como é que chegando ao final de um dia, mantendo nossos pertences intactos, realmente pensamos que estamos a salvo? Para que? Manter o futuro de uma espécie? A espécie que trabalha e se tranca, com nojo ou com medo, já que o seguro morreu de velho, mas será que morreu feliz?

Enquanto isso na babilônia, o mundo segue em frente, de qualquer maneira e/ou modo, ele gira, ele leva à loucura, ele esmaga e te mantém ligado na telinha (a qualquer custo) nem que custe a sua vida.

Uma certa impressão, uma certeza imprecisa, quem não precisa de uma versão, uma tradução?

Garganta seca, inviável é o cataclismo, o fim do mundo ainda não chegou.


domingo, 16 de setembro de 2012

Da série: Quedas


A industrialização de todo um país facilitava a entrada de capital com a exploração do petróleo, indústrias siderúrgicas e estradas de ferro. Concentrados nos grandes centros urbanos (São Petersburgo, Odessa, Kiev e Moscou), formando uma classe operária de 3 milhões. Submetidos a jornadas de trabalho maiores que 12 horas, sem alimentação e condições de trabalho. Enquanto que no palácio, no manifesto de Outubro, o Czar prometeu reformas no país. Criaria um governo constitucional, dando fim ao absolutismo e as eleições gerais para o parlamento onde elaborariam uma constituição para a Rússia.

Com o fim da guerra com o Japão, por ordem de Nicolau II, os as tropas especiais ou Cossacos, interviriam nas manifestações dos trabalhadores, prendendo líderes e desmantelando o Soviete de Petrogrado (São Petersburgo). Com o controle nas mãos novamente, o Czar não cumpre suas promessas, deixando apenas a Duma (parlamento) funcionando com limitações e sob os olhares do poderio militar. Chamada de Domingo Sangrento, a revolução de 1905, serviu de lição para que os líderes revolucionários não cometessem os mesmo erros e segundo Lênin, um ensaio geral para a revolução de 1917.

Enfim a queda do Czar, aos 15 dias de março do ano de 1917,  as forças políticas de oposição depuseram-no dando inicio a Revolução Russa. Posteriormente, Nicolau II e sua família composta de mulher, quatro filhas e um filho, foram executados.

A Rússia, em plena desintegração do Estado, estaria ainda na 1ª Guerra Mundial.




segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Für Elise


Sentado num banco de praça pela manhã deparou-se com dois seres distintos em faces e trejeitos, porém eram iguais na forma em que se encontravam. O primeiro, deitado de bruços, parecia uma ode ao sofrimento, olhar para aquela cena digna de uma manhã de segunda-feira, era o mesmo que pedir para não ter acordado. Ao lado, havia outro, ou não mais havia. A situação de rua marginalizava o ser vivente (ou vigente) em pleno século 21, em pensar que passou a noite ali, o sol já tocava seu rosto há algum tempo. Moscas ao redor, papelão ensanguentado, restos e dejetos.

O amoníaco ainda arderia as narinas e a imagem ainda travava a garganta, um alarme tocando sabe Deus desde que horas, enquanto uma viatura somente passava por ali para fazer presença, ninguém desceu, ninguém ouviu. O mundo seguia em frente como de costume. Pessoas, almas, passando por maus bocados e infelizmente ninguém ali para resolver a manhã, ou pelo menos alguns problemas. O sol agora paira no céu, sem trégua e nem lamento. Queima quem está ao seu domínio.

Uma igreja de fronte ao ocorrido, onde está o clero numa hora dessas? Tomando seu café com bolachas da padaria mais requintada desta cidade? E o dízimo? Utilizado para as melhorias da comunidade? Onde está? Onde mais poderia estar?

Não, não entrou em detalhes religiosos, nem poderia, não era esse o questionamento. Simplesmente gostaria que alguém fizesse alguma coisa. Por amor ao próximo simplesmente, ali, naquele momento, sentiu um desprazer por ser humano. Carregou sua mochila, levantou-se e andou para longe. Aquela imagem, eram pessoas, eram seres que o sistema abandonou. Mais uma vez se questionou onde estaria o clero neste momento. Pediu para que se houvesse uma força divina, maior, superior, que esta força ajudasse os necessitados.

Ouvia-se uma canção nórdica. Ela dizia que no dia de amanhã, nós estaremos num lugar distante, longe de casa e ninguém saberia nem ao menos nossos nomes.

As pessoas que permaneceram, já estavam observando fazia um tempo. Ninguém fez absolutamente nada a não ser se incomodar com o mau cheiro.

Live and let die.