terça-feira, 27 de novembro de 2012

Copas


Deitou-se.

Semicerrando os olhos, agitava-se com a brisa úmida que vinha do temporal avistado ao longe. Os barcos içavam as velas buscando manter-se no equilíbrio distante. Buscavam manter-se flutuando nas nuvens densas que mostrava em seu rosto a bandeira pirata.

Ela dizia que não, abusava das concordâncias, mas negava o fato de que as estrelas surgiam no céu ao pôr do Sol. O astro Rei coroava mais um dia com sua consorte, a Lua, que nascia como um sorriso do Gato Cheshire. 

Alice, não gostava do que surgia ao deitar-se no gramado ainda seco, sem orvalho. Criou-se o mundo e recriava-se o escuro, sem se preocupar, pois estava bem consigo mesma, o luar e os pingos que pintavam o céu em formas diversas.

A menina que possuía mais de uma milha de altura, estava expulsa do tribunal. 

No mesmo tempo em que os planetas se chocavam, causando uma explosão cósmica em cores avermelhadas e azuis. Os pássaros, que não tinham hábitos noturnos, voavam sem rumo. Os bichos, fugiam para destinos incertos.

Ouviam-se as trombetas, os canhões apontados para o reino.

Uma brisa levantava as folhas secas de outono, porém apenas uma brilhava rumo à clara luz prateada que admirava Alice deitada em vestes menores.

As roupas sumiram e o brilho tornou-se o mesmo carmim que a Rainha exigia suas rosas. 

A garotinha, agora despida, fora poupada.



sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Entrelinhas

As notícias chegavam do oriente, não se viam fazia um tempo. Ela e o jornal, a vista do monte Fuji era cômodo na janela numa gravura, Katsushika Kokusai, observava o lado lisérgico. As multicores que se misturavam num tufão que passava pelo oeste da ilha. Em Fukushima os núcleos esquentavam enquanto as paridades e estacas sombreavam o mito.

Na cidade asteca, ainda sobravam os ritos, as ruínas, pedras talhadas com esmero. Eram vivos os credos ao Deus propriamente dito. Os cultos de chuva e bom tempo, enquanto o eclipse seria mais uma vez reverenciado. Foste uma bela tarde de sol enquanto descansavam a beira mar.

Na capital, Tokio, o constraste entre o rural e a cidade, traria uma viagem no tempo ao lembrar de Meiji que no auge da segunda grande guerra, levaria a bandeira do sol nascente a diante. As bombas de Hiroshima e Nagazaki criavam o protesto.

Bandeiras, avisos, comunicados, poder excessivo e a marcha até Stalingrado, na mãe Rússia antigamente chamada de União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, retornando ao centro, após um milhão e trezentas mil baixas, o grande exército vermelho, encaixava o estandarte no topo do 3º Reich em Berlin.

Uma terra morta, as árvores devastadas e relógios incertos. O deserto estava ali e a Monalisa continuava misteriosa sob o olhar de Da Vinci. Michelangelo com a capela Sistina e Caravaggio com a Medusa, petrificados sejam os que no olhar, levam a culpa de Édipo. Nos olhos da esfinge que chorava suas lagrimas de areia.

As pirâmides que se formavam em conjunto e constelações observavam Orion e ascendiam acima das estrelas. Nada ali podia por fim a paz, o escuro não era dilacerador o mundo visto lá de cima era mais bonito, azul.

As nuvens ainda se colorizavam com o brilho de alguma coisa distinta que se formava no horizonte marciano, ó Olympus Mons.

Marte continuava vermelho, árido, seco, inquieto, sério, devastador. Visto a olho nu.


domingo, 4 de novembro de 2012

Imagem


O sol quente lá fora assistia a céu aberto, fascinado, a tempestade que caia dentro do ser imutável, congelado, transgressor. Era o ultimo dia de suas vidas ou talvez não. Apenas lia o jornal com cara de poucos amigos, não gostava das notícias vindas do exterior lá de fora. As grades soldadas na janela tinha plena consciência que estava preso, incapaz de mover-se, viu seus planos pelo chão.

Chovia.

Raios, trovões, relâmpagos...

Um clarão fez com que o corpo reagisse num espasmo. Atordoou-se quando leu que o programa origem estava na versão 2.0.1, algo havia mudado na matriz. Teve medo de abrir as janelas, mas venceu. As grades foram excluídas do pacote, ganhou o sonho da liberdade. Abriu o portão com a chave 1.0, viu-se no paraíso proibido enquanto lágrimas escorriam de seu rosto. 

Havia mais pessoas ao seu redor, saindo de suas casas pela primeira vez, admirando a clara luz do dia com certo receio. Ficaram todos ali, olhando uns para os outros com cara de mistério. As pessoas que passavam pelas janelas não se importavam com os “recém-chegados”, deu-se conta do processo em que viviam, pensou em algo que gostaria de comer, algo que viu na TV, com uma cara boa pra chuchu (era assim que falava o comercial, somente para delivery).

Olhou para as peles azuis, as ondas eletromagnéticas poderiam fundar um novo império, a lei da atração funcionava, a lei das maquinas não. Apesar dos processos e modificações da programação, o aquário permanecia intacto, peixes e cores. A evolução prosperou, a revolução não.

O deus maior, olhando para baixo, tinha uma postura bem marcada: “coloquei-vos no mundo, tenham piedade de seu semelhante e cuidado para não sucumbir ao credo”, ninguém sabia disso, nem mesmo os que já estavam ali há muito tempo. 

O ser que saiu de sua casa, olharia para o céu e ajoelhado não clemência, mas por fraqueza, voltou para casa, cansado do mundo lá fora, a chuva não cessara e o mundo não parou, numa chuva de meteoritos, observou a coisa mais linda que vira em décadas, da janela de sua sala.