quinta-feira, 12 de julho de 2012

Oedipvs


Olhava por dentro do gargalo da garrafa, observava o fundo meio ressabiado, por hora ele via um castelo, hora um fundo do mar, hora via apenas o fundo da garrafa. 

Cético, o filósofo estava com os dias em falta. Faltava tempo para olhar pela janela, observar as estrelas em sua luneta. Restavam horas para que o sono chegasse. Deitado com a cabeça no travesseiro imaginava o mundo de ponta cabeça e quebrava qualquer tese que diriam seus maiorais, não se importava com ideias e nem ideais.

Trancava-se em sua nave espacial e corria atrás dos que simplesmente “exatavam” o tempo como aquele que sempre corre e nunca tem parada. 

Desta vez ele sabia que o tempo parou, tinha certeza disso,  sentiu-se como um pêndulo que partia da direita para a esquerda e simplesmente não voltou da esquerda para a direita. Contemplou mais uma vez aquele momento e nomeou-o de exímio. “Exímius” para dar um ar de latim.

Deitado ali, naquele momento que o tempo estava parado, pensou que nunca mais veria a noite e o dia. Era entardecer e novamente caia em contradição, pois o tempo parou, quando lhe faltavam as horas. E agora? Como recuperaria aquelas horas perdidas, se ao entardecer ele não poderia sair de casa. Tinha medo do escuro, tamanho o seu medo que sua casa era iluminada por todos os tipos de lâmpadas.

Seu casaquinho de lã, cobertores preparados, edredons, colchões, meias, pipoca e um copo de leite. Estava preparado para o fim do mundo. Tsunamis. E o gênio da lâmpada dizia que aquilo seria seu ultimo desejo. 

Pediu a garrafa, aquela mesma, verde, com tampinha colorida e metálica.

Pelo gargalo, observando o fundo, novamente, viu as pirâmides do Egito e a esfinge, altiva, decifra-me ou te devoro.