quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Inimaginável


Enquanto criava-se no céu, aquele funil misterioso, apenas admirava a beleza dos astros ao seu redor. Sistema solar, sistemas financeiros, sistemas políticos e mundanos. A menina sentada na calçada observando as estrelas não tinha ideia da imensidão e nem ao menos de como aquela calçada foi parar ali. Era curiosa mas não perguntou aquilo para a mãe, que as vezes se irritava com perguntas e mais perguntas, naturais de qualquer criança que descobre o mundo através da janela do quarto, geralmente ajoelhada na cama com os cotovelos apoiados, por horas e mais horas talvez para contar quantos segundos tem o dia, ou então quanto tempo o sol demora para percorrer o horizonte.

Estufou o peito e questionou a senhora que lavava os pratos, talheres e copos. Resmungava também, pois o marido não havia comprado a maquina de lavar de presente de natal, pois é, para aquela mulher, aquilo seria um presente. Não ter a necessidade de não lavar os pratos. Mas, bem, ao ser questionada de como aquela calçada foi parar ali, respondeu com um ar ríspido: “O pedreiro colocou.” A menina olhou bem fundo para as paredes (sabe quando as pupila dilata e a imagem desfoca e nos perdemos no mundo da imaginação) pensando o tal “pedreiro” um cara bem forte que chegou com uma placa de cimento de uns 12 metros quadrados. Ela mal sabia o que eram metros quadrados e nem fazia ideia de como se fazia cimento.

A menina, como era chamada pelos novos vizinhos, sentada na poltrona enquanto passava seu desenho favorito, questionou mais uma vez com aquela entonação que só as crianças sabem como fazer: “Mãe, como é que a TV sai som e o monstro roxo fala?” O pai que chegava do trabalho naquele momento, tinha mais paciência. Filha do meu coração, o som sai da TV por conta da caixa de som, que recebe um sinal elétrico que vem pela antena e vai para o decodificador e depois a TV manda o som para onde é de som e a imagem para onde é a imagem e o monstro roxo fala, por que ele é um ser muito bondoso que gosta de crianças. Enquanto o pai falava, ela já preparava as perguntas pro dia seguinte: O que era uma caixa de som, sinal elétrico e o mais terrível de todos, O Decodificador. Tinha sérias dúvidas se o monstro era um rapaz bondoso que gostava de crianças, mas, enfim. 

A mãe, lá da cozinha preparando o jantar pensava... Cretino.

Passou o jantar, após o jogo entre os times da cidade. A menina já tinha uma lista de palavras de baixo calão para questionar sobre a existência das mesmas. Ah e perguntaria tudo para a mãe, pois o pai estava triste, pois o time de branco fez 2 gols (que o narrador chamou de tentos).

Numa manhã, deparou-se com sua mãe, sentada no banco do jardim, desesperada com uma flor na mão. O que era aquilo, questionou a mãe para a filha já crescida e com uma dúvida até no olhar. Não sabia quem era aquela menina e não sabia quem era aquela flor, não tinha ideia quem era mãe e de quem eram as pétalas. Um menino, sentando no colo da mulher, já formada, decidia se impor e responder. Vovó, isso é uma flor, e é para a senhora.

A senhora sorria sem saber quem era aquele menino, porém aceitava a flor, de bom coração.