quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Diário de Bordeaux


Querido diário, estamos mais uma vez, subindo na audiência e caindo pelas tabelas. O Escracho está mais um dia de folga e deu lugar a um poeta meio machado meio martelo, se bate corta ou espana, atarraxa, mas não prega.

Falando em pregar, o pastor analisava o dízimo enquanto exorcizava do rádio de um taxi, “em nome de Jesus”, era só um garoto epilético. Nas notícias mais comentadas, sabemos que a boçalidade resolveu tomar Red Bull e criar asas. Maluco beleza, uma carta de vinhos com o Lambrusco a 25 mangos, frisante, rose.

Uma charge, uma vinheta. Olhar para os lados e sobrar pouco do dia para passar com quem se gosta, com quem se divide uma vida. Infeliz vida talvez, mas se sobra pouco tempo, talvez é o tempo que deveria ser. Podendo ser o tempo que não existiria. O fato de não existir, também é algo que se extingue durante as horas que se vão. Já chegou a imaginar que nada do que vemos é real? É como se as coisas que existem ao nosso redor fossem limites. Feitos de átomos, ou, luz.

Olhar do lado de dentro, falo do lado de dentro de nosso corpo, falando enquanto alma, espírito ou mente. É um momento que podemos pensar em nosso universo, seja paralelo ou não, podemos cair em contradição. Perceber que as grades do lado de fora, indicam que estamos a salvo da anomalia que persiste fora dos limites pressupostos aos que ainda estão (por incrível que pareça) do lado de fora. Senso de proteção ou de ridículo? Pensar que se trancar dentro de casa é uma coisa segura, blah! Não estamos seguros de nós mesmos e, afinal, como é que chegando ao final de um dia, mantendo nossos pertences intactos, realmente pensamos que estamos a salvo? Para que? Manter o futuro de uma espécie? A espécie que trabalha e se tranca, com nojo ou com medo, já que o seguro morreu de velho, mas será que morreu feliz?

Enquanto isso na babilônia, o mundo segue em frente, de qualquer maneira e/ou modo, ele gira, ele leva à loucura, ele esmaga e te mantém ligado na telinha (a qualquer custo) nem que custe a sua vida.

Uma certa impressão, uma certeza imprecisa, quem não precisa de uma versão, uma tradução?

Garganta seca, inviável é o cataclismo, o fim do mundo ainda não chegou.