quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O Épico


Cansado de ouvir a mesma coisa sempre, resolveu por si só mudar, escondido em uma trincheira aguardando a hora certa para subir ao monte Olimpo, um rádio de uma padaria em ruínas, bombardeada pela guerra, Piaf. Era como descrever a cena de horror ao ver sua tropa atingida por um franco atirador da artilharia inimiga. Ver sua única bala estilhaçando o vidro da torre da capela, atingindo o alvo, foi um alívio para os sobreviventes. Já era difícil saber se o inferno estava ali, onde o soldado alvejado por uma bala calibre 7.62 deitava seu corpo já sem vida.

De que adiantaria correr, olhar para os lados percebendo que não havia para onde ir. Piaf e “La vie en Rose”, descompassado por tiros de fuzil. O rádio parecia trocar de musica ao sentir a terra tremer com os bombardeiros que rasgavam os céus vermelhos de outono. Era tarde, o Sol dava sua trégua entre o pó e a fumaça.

Um cigarro, aceso no chão do botequim, cheiro de sangue embrulhava o estômago. O credo cercava a tropa, alguns ajoelhados implorando o perdão. Não conseguia aceitar a carnificina, muito menos a violação das leis divinas.

Um grito de misericórdia por parte de alguns camponeses, carregavam uma criança. Eram apenas dois, que singelamente desejavam que sua cria fosse salva. A guerra assolava qualquer um, e não entendiam por que as bombas foram jogadas naquele vilarejo tão distante. Eram casas, vielas, pequenos comércios e agricultores.

O vento soprava em seu rosto, estava ali, sozinho. Sua tropa debandada pela noite. Alguns dormiam e outros mantinham-se acordados devido ao choque. Ninguém esqueceu das bombas, dos estampidos, dos estrondos... dormir, era o mesmo que estar sozinho. Dormir, era sinal de fraqueza, o soldado raso, não dormiu, por insônia. O dia amanhecia, com a mesma covardia da guerra. O tempo parecia passar com dificuldades e o objetivo parecia mais longe. O objetivo, permanecer vivo.

Lágrimas escorriam dos olhos ao encontrarem um ser de natureza selvagem, agonizando entre os escombros. Não respeitariam nem ao menos o cavalo. O bicho respirava e sabia seu fim, ninguém foi capaz de sacrificá-lo, mas, todos os soldados remanescentes sentaram-se em volta para confortar sua triste partida.

Levantaram acampamento e seguiram viagem, a vista para o mar estava logo ali, no meio fio entre o céu e o inferno.