domingo, 3 de março de 2013

Papo de elevador - nº 7


Bom dia, dizia o rádio na sala da megera, para não dizer Dona Clementina. Com seu chapéu de plumas de pavão cinzento . Cinzento? Sim, os Pavões são meus, eu boto a cor que eu quiser! Era esta a desculpa para as penas cinza que a dona muambinha dava para qualquer questionamento sobre os tais dos pavões cinzentos. Enquanto seguiam as notícias, a velhota resolveu encrencar com alguém, encrencou logo com o Manda chuva, ou, Sr. Meinfuhrer:

- Bom dia Sr. Gostaria de relatar seríssimos problemas quanto aos pombos que fazem ninho em toda a nossa estrutura. Além de doenças, parasitas e mau cheiro, estas aves são tão repugnantes, não acha Sr.?

- Certo, e você quer que eu faça o que? Saia atirando nos pombos? Quer que eu faça um campo de concentração?

- Você pode chamar o Silva para arrancar estas aves nojentas da minha sacada, PRINCIPALMENTE.

- Tá, tá, vou chama-lo, agora com licença, vou reunir meus amiguinhos para uma partida de War. Você joga?

- Claro que não. Não sou dada a estes vícios.

Enquanto isso, na cozinha do clube para não dizer empresa, o Moreira (agora Chef) prestava atenção no Silva (sim, o Silva, aquele que faz-tudo da empresa, geralmente o que varre, limpa, conserta, pinta, cava, tampa, sepulta, reza, dirige, busca as coxinhas da sexta, a mortadela da terça e passa o cafezinho todo santo dia. Ah, ele também ganha pouco ) que consertava o encanamento (sim, ele também era o encanador) dizendo que era problema de resfriamento térmico no termostato do cano principal do principio do principado (ó, que príncipe). O Moreira (agora Chef) observava com cara de poucos amigos, pois não tinha ideia do que o Silva dizia, mas, enfim, bem, era isso, de fácil resolução para nosso herói. Até que o cinto de utilidades tocava a musiquinha “Deutschland, Deutschland über alles” em toques monofônicos, o que faria o paladino mascarado (vulgo Silva) sair em disparada e largar todo o principado.

- Sim senhor? ­– dizia o Silva –

- Estamos com problemas no... 6 (após jogar os dados)!!

- Seis? Hum... é truco?

- Não, acabei de conquistar Moscow... mAUhUAHuAHuA

- Caramba, daqui da sala? Como essa era da internet está avançada, como se conquista o mundo assim?

- Segredinho, Silva, mas, antes do mundo, vá arrancar aqueles malditos pombos do telhado, aquela megera da Dona Clementina já veio buzinar na minha orelha sobre isso... e ainda veio com aquele chapéu ridículo com penas de pavões cinzentos, isso foi o que ela disse.

- Pavões cinzentos? Nunca ouvi falar desse bicho. Mas vou dar um jeito neles, pavões cinzentos.

Notava-se que Silva estava incomodado com aquela história dos pavões, afinal, era pra matar os pavões, trucidar os pombos, enforcar a velha ou talvez consertar a pia do Moreira (agora Chef). Deu cano no Moreira (agora, bem, Chef!) e foi matar os pavões (ou pombos).

Entrava num paradoxo do herói, matar os pombos, matar a velha deixar os pavões ou então consertar o cano do principado. No radio, que já dizia quase bom almoço, tocava uma música nada agradável aos ouvidos da dona Clementina, aquela do Tiririca (agora deputado) que ela ouvia toda vez uma brincadeirinha com seu nome. E não deu outra, tocava seu ramal e no outro lado da linha uma voz desconhecida cantarolava “Clementina, Clementina de Jesus, não sei se tu me amas pra que tu me seduz”. A velha ficou acesa, maluca, apesar de cantarolar junto, lembrava do Abelardo soltando um quase gemido: - Ai, Abelardo.

Era o Sr. Meinfuhrer, judiando da velhota mais uma vez, após conquistar seus 24 territórios e aniquilar o exercito Vermelho.

Quando na janela, ouvindo seu nome e batendo as pedrinhas: - toc, tec tec tec, Clementina, sai daí. – toc, tec tec tec, Clementina!.

Pensando no falecido, correu para a sacada onde encontraria seu príncipe, colocou seu chapéu de plumas de pavão para se embelezar.  Abrindo a janela, mal pode pronunciar o nome de seu amado. Um tijolo à vista arremessado de baixo pra cima, com a parábola perfeita e tudo mais, bem no meio da fuça da velha que desmaiou no chão de sua sala.

O Sr. Meinfuhrer abrindo a porta vendo a dona deitada no tapete real, exclamou com rispidez:

- Velha dorminhoca, deveria ao menos tirar uns dias de folga ao invés de ficar dormindo no serviço.

- Minha cabeça dói. – dizia a senhorinha –

- Claro que dói, está de ressaca ainda por cima. Você deveria se envergonhar por embriagar-se desse jeito. Não tolerarei mais isso, nem ao menos me chamou para um drink. Sem educação.

Do lado de fora, Washington chegaria com um saco de milho (daqueles de 20 quilos).

- Silva, vê se dessa vez não deixa “suas pomba” escapar, viu?

- Váchinton, tudo bem, não vou mais deixar a Clementina escapar, ela e o Fuduncento vão ficar aqui na gaiola.

- Tá, Silva, vou descer então. Agora me explica uma coisa, por que você jogou aquele tijolo?

- Ah, eu vi aquele pavão cinzento chegando perto da minha queridinha, pensei que ela iria virar almoço, acertei bem no meio da fuça daquele bicho asqueroso e salvei a Clementina (ou não?).