segunda-feira, 2 de junho de 2014

Indolor

A trilha sonora do verão foi a voz de um piano quase cego e surdo, oco, sem pernas. Não perca seu tempo se nada é o bastante para se manter vivo. Ninguém quer saber se está assustado ou se está livre. Tudo o que você precisa saber está em suas mãos.

A morte ainda é o grande mistério, e num ultimo sopro as coisas se fundem, o irreal se torna a intensa realidade e realização, até então, o mito se funde a vida e todos nós percebemos que somos feitos de pedra.

O som do piano ainda reluta estridente e cansado. Ele explica, ele chora, ele sorri e parte. Diz que a dor é real e que tem coisas que o tempo não apaga. Ele apenas enxugou suas lágrimas quando elas caíram, ela esteve lá quando tudo parecia desabar e ainda assim nada foi relevado.

Revela-se a dor contida, um assassinato ao corpo que não chegará ao entendimento da mente. Ele não sabia como afastar. Fechou os olhos e sentiu como se sua alma fosse arrancada, estava apenas de coração partido. 

Ainda lembrando-se como foi viver sozinho num lapso, olhos arregalados, sente frio.

Caminhou descalço pelas ruas úmidas. Fazer o corpo reagir, o desfibrilador já não podia mais queimar os neurônios. A cada pulso, a cada passo apenas fazia o sangue jorrar, no fim, esfaqueado, deitado como caíra. 

Uma estrela se apagava no céu enquanto a chuva molhava um rosto. 

Encontrado já sem brilho nos olhos, o piano estava triste, sem vida, sem música, sem harmonia e sem pianista.