sábado, 5 de julho de 2014

Crê e será salvo

No inicio aquilo era meio insosso. 

O céu perseverava por cima de um brilho estranho azul. Era dia de outono, sabe, quando as flores não estão em seu devido lugar e as folhas secas banham o chão com um aspecto amarelado, meio, bem, outono. (Não, sem cenário de filme, era outono ainda, o céu borrava e a poeira embaixo do tapete era ainda algo a se mostrar tão a favor quanto o resto do dia, carregado, explícito e, como dizer, cinzento.) Não havia folhas e algumas flores estavam com os dias contados, mas ainda estavam ali recebendo suas abelhas. É as abelhas que não sairiam do centro financeiro da colmeia, ora, a colmeia seria apenas um lugar seguro no inverno enquanto a abelha rainha comia as cabeças de suas servas. As responsáveis pelo mel, ainda vivas pelo momento.

No gramado. (Não, sem gramado. No chão, os dois sentados logo à frente enquanto a imagem desfocava da abelha na flor e focava-os.) Eles estavam admirando o sol, daquele dia de outono, o céu azul permitia que algumas nuvens bem ralas passassem apenas para manchar o céu de branco. Não havia mais nada, mãos nas mãos, pés nos pés. Eles se enroscaram ali mesmo, sem muito pudor.

O vento soprava bem de leve, descrevendo aquela paixão arrancada de um beijo, dizendo a la Cazuza, “matando a sede na saliva”. (Luz apenas no beijo, apenas no beijo, apaga, corta.) Giletes, foices e martelos. Cair de um muro não foi suficiente, o chão desmoronava e quando menos esperavam, era a hora de voltar para casa, o banho de sol acabou e todo o entorno desta história de amor foi pelo ralo num vermelho sangue que pintava o céu e os tacos de golfe.

Ela, com as mãos trêmulas, defendia sua honra.

Ele, com o rosto desfigurado defendeu seu parceiro. Seu grande e indefinível amor.