sexta-feira, 17 de julho de 2015

Estás errado!

Dias frios são como pedras, te olham mas nunca saem do lugar. Você sente que elas não se movem e não deixam de olhar para você.

Certa vez, olhando o mar batendo nas pedras senti como se a praia fosse diminuindo a cada onda.

As pedras estavam ali, estáticas. Me envergonhei de tanta reparo que botavam em mim, pareciam velhas, aquelas que sentam-se na calçada e notam as diferenças... Devem ficar ali por muito tempo para saber o quanto cresci, o quanto algo importa ou o quanto simplesmente a minha moral é duvidosa ao sentar para ver o mar.

Duvidosa eram as pedras que incansavelmente comentavam sobre tudo, inclusive sobre as gaivotas que pareciam ficar por alguns segundos paradas no ar quando a brisa batia, elas vinham em direção a praia e retornavam ao mar quando a brisa era mais forte que suas asas batendo em ritmo acelerado e em um mergulho, voltavam ao mar.

O Sol forte de verão, as ondas, hora calmas hora inseguras, o semblante dos pescadores que voltavam com seus barcos depois de um dia inteiro de trabalho garantindo o sustento de suas famílias. Ninguém ali se olhava com diferença, nem as pedras. Elas estavam paradas, sem um piu diante de tanta beleza, pareciam dormir enquanto tomavam um bronze.

Quando de repente me vi despertando, entre algumas pessoas que me olhavam admiradas tamanha insensatez. Uma garrafa do mais puro Rum, uma chama acesa no meu cigarro e a ressaca. Minha barba ainda levemente por fazer coçava um pouco devido ao sal, meus cabelos longos e não lavados, minhas vestes penduradas em um varal improvisado e uma choupana feita de folhas e galhos.

Os pescadores eram piratas, os barcos faziam o reconhecimento da área, as caravelas ao longe imitavam as árvores que balançavam e as velas pareciam cortinas estufadas com o vento.

Naquele momento que adormeci, eu era o naufrago. Retornei a mim, a deriva em mais um dia frio de Julho, o céu fingia não chover, o vento fingia não soprar, o Sol fingia esquentar e de repente me tornei pedra.

E as pedras, ah, as pedras, estavam lá ainda, como sempre estiveram, olhando tudo e todos. Momentos antes de qualquer ação, elas nem ao menos reagiram.


Estavam ali, no mesmo lugar.


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