sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Abençoado seja

Você que me dizia para ter coragem, olhava em meus olhos meu amigo, olhava com aquela voracidade de um leão. Falava das flores, falava da primavera, sentava-se ao meu lado enquanto eu chorava as dores mais sinceras e me abraçava.

Você meu amigo, dirigia-se a mim como se eu fosse seu irmão, falava-me sobre tudo e me contava sobre suas viagens pelo mundo. Parecia um pirata, uma mulher em cada cais, uma briga em cada taberna, um tesouro em cada território, seus dias foram contados assim, com toda a experiência de um velho lobo dos mares.

Sua bravura compensou todos os anos que fiquei distante.

Cara você se foi e eu fiquei, fiquei com aquela má impressão de um mundo incompleto. Fiquei com a bola que jogávamos, com aquela telha que incomodava todo mundo em casa. Fiquei com os jogos de futebol e com o radinho de musica caipira que você escutava. Fiquei com as pescarias e com o papos que faltaram entre a gente, esses papos de homem pra homem, eu ainda era um garoto quando você se foi.

Saudades mano. Hoje eu entendo suas escolhas e entendo que o mundo não foi feito para pessoas como nós. Hoje eu entendo o que é deixar para lá. Que ser bom não é dar a cara a tapa. Ser bom é suportar, é doar-se.

Ser bom é ser algo que o mundo de hoje não sabe o que é. Você tinha essa consciência, espero ter herdado isso de você, espero um dia sentarmos para tomar um café num lugar qualquer.

Se eu soubesse, teria ido primeiro, teria te avisado, teria feito qualquer coisa para aproveitar melhor o tempo. Hoje minha pequena tem 2 aninhos, ela ia amar te conhecer.


 Abraços, a gente se esbarra em uma dessas caravelas por aí, pelos céus.