domingo, 24 de abril de 2016

Quem sabe isso quer dizer amor

Primeiro saiba que todos estes cigarros são culpa sua.

Daquele dia em diante que olhei nos teus olhos, você me disse alguma coisa estranha que a minha alucinação não permitiu que eu compreendesse. Eram versos, versos deturpados pelo meu pesaroso momento de reclusão. Eu estava exilado em meio a sinapses e meias verdades, meu corpo respondia cruelmente aos meus comandos, era leve, bem leve, era claro, bem claro, um sussurro era como se eu estivesse submerso. Num momento de extrema confusão eu ouvia teus gritos ecoando dentro da minha cabeça, teus versos.

Suas vestes levemente amarrotadas dignas de final de festa, apenas faziam com que meu transtorno se roesse por dentro, em meus ossos. Eu olhava para os tons brilhantes, para os detalhes, para você. Seus olhos, ah, seus olhos, seus olhos, seus olhos... 
Não consegui mais conter minhas vontades e me joguei na piscina, desta vez a água era real e seria iminente o lumiar, emergente era meu corpo em meio a profundidade das águas, inimaginável era minha mente em busca da compreensão final daquele que seria o último suspiro. Eis que surgia de forma implacável, o sopro do dragão.

Ganesha ao meu lado, Shiva em minha frente, Krishna cantarolava uma bela canção ao meu ouvido. Brahma bem ali, festejando a criação. Quando num abrir de olhos, o Sol de um lado e a Lua de outro faziam com que aquilo fosse também coroado pelos Deuses, a redenção ocorria a cada instante que se perpetuava um dos mais belos encontros ali em minha frente, eu estava sob o meio fio entra a noite e o dia.

Um lirismo aflorado e impetuoso. Atravessar a porta e partir foi simplesmente o momento que durou a minha vida inteira e em memória aos suicidas devemos brindar a vida, brindar os momentos que nos dão prazer, elevar a nossa energia e aquecer os corações que ainda tem jeito. É um tanto egoísta de nossa parte, querer as pessoas sempre por perto, confesso que é até um espirito maternal enraizado em nossos alicerces. Querer bem e cuidar é uma forma de amor, é simples, é bucólico...

Por fim, ao abrir os olhos estava novamente neste sofá, o dia cobrava com o sol a pino. A luz não permitia um sono mais intenso e o descanso foi comprometido. Meu espirito ainda levita por ai, em busca dos Deuses, em busca de algo que faça sentido entre as pedras no horizonte e o firmamento que contrasta com as complexas construções.


Veleiros de papel, caixas d’agua, holofotes, luzes vermelhas, pássaros e torres de energia.