quarta-feira, 10 de maio de 2017

A Menina e a Fumacinha

Observava a tal com muito esmero, a fumacinha branca, branda, calma, leve, quieta. Barulhento o motor, que vive dentro da cabeça dela, este fazia vruuuum... Cabeça pensante da menina que observava a fumacinha com esmero. Ela viajava aos mais estranhos mundos, esfumaçados, até o mais profundo oceano. Navegava pelo Tejo, caindo no Mindelo passando pela Morávia, sim, rasgada pelo Moldava. O que moldava mesmo, era a fumacinha, moldando os pensamentos sozinhos da menina que a observava atenta.

Nos mais singelos movimentos, a fumacinha fazia-se presente e sumia, se esvanecia no ar, aparecia, como quem não quer nada, sumia como quem não dizia nada. Quem dizia era a menina, contracenando com aquela que hora surgia e hora ia. Começava um jogo, um jogo só, após um dia pesado, arrastado, quase caricato, no fúnebre quarto, faziam companhia uma a outra, de um lado o peso do dia, do outro a branca e calma que apenas aparecia, enriquecia o ar com sua leveza e ia.

Ao manter-se em pleno e sonoro barulho, aquele, que vinha da cabeça da menina capturava em fotos na própria retina. Um momento de lucidez dentro de uma vida na metrópole, do lado de fora, nem as vozes e os sons ambientes poderiam conter aquele momento, de dentro, sonoro barulho diga-se de passagem, vinha de dentro da cabeça, da menina, após passar pela retina. Após viajar por todos os cantos, por todos os desencantos, a fumacinha mantinha-se em seu posto, de certa forma, a Cracóvia é um lugar aconchegante, mesmo assim, que tal? Munique ou Berlin? Moscou em suas ortodoxas formas e imponentes e respeitosas. Vencendo o atlântico, viajando até a gélida Oymyakon, a fumacinha lembrava a rotina na cidade mais fria do mundo. 

Apenas sabia a menina, que ao fim deste jogo barulhento de adivinhação, a fumacinha se despediria despida, sem pudor ou vergonha. A fumacinha era a menina e a menina, meramente transeunte num mundo cheio de fantasia enquanto atravessando pelas "Railways" do leste, do agreste a Budapeste, em momentos tão desiguais e todos iguais, o sonho findava sob o olhar do sol poente na ilha de Creta. 

O minotauro a esperava, touro com corpo de gente;
Pensar no barulho que fazia sua mente;
Seria de certa forma, indecente;
Já que o motor que "barulhava" o ambiente;
Trazia a fumacinha de forma tão iminente;
Esta sumia, levando um pedaço, descrente.