quarta-feira, 7 de março de 2018

Volcano


Caminhando sobre os desertos de uma mente já disposta a se desligar. Tudo aquilo era tão inóspito quanto Fukushima após o desastre nuclear. Mas como mencionar Fukushima sem adentrar nas memórias, quando o mundo era vazio. Acreditava-se tanto que cristo era o salvador que no final das contas o mataram. Enquanto isso, os seres humanos se projetam para fora do planeta buscando novos locais e novas colheitas. Num piscar de olhos estamos caminhando em campos verdes, carvalhos refletidos no lago.

De certa forma fechar os olhos novamente nos devolve ao deserto intelectual. Tudo se derrete como em uma composição de cera exposta ao fogo. As cordas e correntes ainda nos prendem neste espaço vazio e cheio de oxigênio, mas, até onde, até quando?

Enquanto piso nos lagos incandescentes sem sentir meus pés. Vulcões me reduzem ao simples humano, mas o pleno voo me eleva ao ser supremo, conhecer o chão que pisa por vezes não se vale de nada se a vontade de o pisar não existe. Ascendia ao ponto mais alto no céu e em um mergulho no poço de lava fazia com que a experiencia fosse cada vez mais complexa. Os sistemas falhavam enquanto meus olhos queimaram, todo o corpo em chamas assim como o que me envolvia. Não havia mais sentidos, fé, força ou conhecimento de terreno, ali havia apenas o ar que se soltava de meus pulmões elevando as bolhas de pedra a superfície.

No vale das chamas no qual eu havia saltado, tudo estava intacto. Quando em um grito de raiva, atingi o ápice da plenitude. Em posição de lótus é como se a massa quente me colocasse para cima outra vez. Um conjunto de pedra, metal e carne. Em estado de transe meu corpo não mais ali, petrificado. Como rocha minha mente levitava sob as águas vermelhas de Olympus Mons. 

Ao longe um violino, acusava mar adentro daquele monge chinês que tocava com certa calma seu instrumento. Veias de ouro, nervos de seda, pele de pano, olhos de diamante e vestes de pedra. A cada instante a música se aproximava cada vez mais de meus ouvidos ao mesmo tempo que o monge parecia mais longe. Meu estado de levitação e transe alcançava o Nirvana ao ponto que minha carne recuperava os sentidos e meu corpo se reconstruía.

O Violino, o vulcão, o monge feito pano e pedra, no próprio dilema existencial de não saber se era um sonho meu ao sonhar com o monge ou um sonho do monge ao sonhar com o próprio com alguém renascendo das chamas do vulcão marciano. A voz da soprano fazia com que a crosta de pedra que me envolvia trincasse, trazendo-me de volta ao plano pelo qual eu iniciara esta jornada. 

Por um instante que o violino surgiu em minhas mãos, ao mesmo tempo em que desta vez, minha pele era pano, minhas veias, ouro e meus olhos, diamante.

O violinista era eu, a soprano era a minha música e a viagem, bem, esta era a divindade.



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