Aos 48 do segundo tempo, nascia
um homem tão calmo quanto o espelho d’água dos palácios dos contos de fadas. Simplório,
nascia de parto normal em um parto que todos estavam bem calmos, a mãe quase
não fez força ou sofreu, o pai estava ali ao lado, bebia um gole da cachaça de
engenho que ele mesmo produzia em seu alambique quase que pessoal.
Era um pequeno bebezinho, tinha a
face humilde, nascera sorrindo e assim que nasceu os pais olharam para ele e
disseram juntos, humildade, mas, quando notaram que se tratava de um menino,
tornou-se Simplório, Simplório da Silva.
Durante toda sua infância Simplório
dava a entender que talvez tivesse algum problema cognitivo ou de dicção, era
sempre feito de bobo pelas crianças ditas mais espertinhas. Eles riam de seu
nome “esquisito”, praticavam o tal bullying comendo sua comida, enfim, as
famosas “brincadeiras” que as crianças se sujeitam a fazer com os amiguinhos.
Simplório era de fato muito calmo, a ponto de não esboçar reação a não ser de
dor em casos que se machucava, mas em relação as brincadeiras, ele sempre ria
junto com todos, até mesmo no dia que um talzinho o deixou de calças arriadas
no meio do pátio da escola. Ele demorou para subir suas vestes novamente, já
que não parava de rir com a molecada.
Simplório cresceu, tornando-se um
homem esguio e com a mente sempre aberta para novas experiências, era difícil
ele dizer não e não precisava nem de pressão externa para que Simplório
aceitasse as condições expostas. Com Simplório não havia negociação, era sempre
sim ou sim, ele sorria e aceitava tudo de bom grado. Foi quando em uma rodinha
de amigos, aceitou um tapa no baseado, o que o fez ficar ainda mais calmo,
ainda mais humilde, Simplório, agora, digo, naquele momento, chapado, conseguia
apenas rir e mal falava.
Em um belo dia, Simplório que
aprendeu técnicas milenares circenses foi convocado para trabalhar como palhaço
para animar as crianças. Foram 8 horas de festa, Simplório corria pra lá e pra
cá, virou alvo das bexigas cheias d’água o que acarretou em toda a maquiagem
borrada, roupa molhada e muitas risadas vindas de Simplório e da garotada. Na
hora de ir embora, os donos da festa foram maldosos, sim, eu sei disso.
Disseram ao rapaz que gastaram muito com a festa, que as coisas estouraram o
orçamento e que infelizmente eles não poderiam pagá-lo, Simplório parou por 2
segundos, sorriu, abraçou as pessoas e foi embora, acenando para a molecada que
restara no final.
Casos como este aconteceram
várias outras vezes e Simplório nunca reclamava, sempre sorria e abraçava as pessoas.
Ninguém sabia compreender o porquê daquele homem nunca reclamar de nada. Não
eram motivos religiosos, não tinha explicação, ele era assim.
É dito que viram Simplório bravo
uma única vez, e por menos de 2 segundos, quando em uma voltinha com uma nobre
dama, ela estava levemente alterada após algumas cervejas, pegou Simplório pelo
braço colocou ele dentro do carro e disse que o levaria para sua casa, Simplório
nunca reclamava de nada, não seria naquele momento que reclamaria, né? Ela
queria deleitar-se naquele corpo esguio, Simplório não era de se jogar fora e
diziam por ali que ele sabia fazer massagem nos pés como ninguém, um prato
cheio para qualquer mulher que gosta de ser bem tratada, enfim, naquela noite,
no caminho da casa da nobre dama, ela parou o carro no meio da rua, deixou
Simplório ali no banco do passageiro, sentou a mesa com outros rapazes e mandou
descer as cartas. Ela foi jogar uma partida de truco! Simplório saiu
esbravejando do carro até que encontrou um amigo que o abraçou, pronto, passou
a braveza e o carro continuou no meio da rua, aberto, motor ligado, som tocando
na rádio AM (ô saudade).
Simplório é assim até hoje, um
grande amigo que as vezes os amigos tem raiva de tão Simplório da Silva que ele
é, todos ficam bravos com as injustiças que acontecem com Simplório e até mesmo
por vezes alguns tentam interferir no curso das coisas. Simplório sempre sorri dizendo
o famoso “Deixa pra lá”, e no fim, quando todos se abraçam, todos riem ao mesmo
tempo.
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