quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Carta


"Este é um texto pessoal, uma carta para alguém que está longe e que hoje resolvi sentir falta, me peguei com os olhos mareados numa conversa que tive com um amigo."


Araraquara, 29 de Setembro de 2011.

Elderzinho (era como eu te chamava né?), bom dia.

Sabe quando você não vê alguém por muito tempo e de repente você se dá conta que realmente faz tempo mesmo?

E essa pessoa sumiu da sua vida e a única lembrança que você tem, muitas vezes está ligada a objetos?

E no ultimo contato que tiveram foi simplesmente aquela coisa mais próxima, um ultimo abraço que você nem sentiu direito?

Alguma coisa foi dita, algo como um volta logo.

E não voltou logo, fez seis anos faz algum tempo, não sei se fizeram mesmo, talvez até sete já, levo em conta nossas idades para designar o tempo que está longe. Este mês se foi e você ainda não voltou. Eu sei, está tudo bem aí do outro lado e que um dia pretende sim voltar, rever nossos velhos, talvez tirar umas férias com eles, vai fazer bem para todos nós.

Escrevo hoje, porque somente hoje me dei conta do tempo que não te vejo. Imaginando se está mais velho, se permaneceu o mesmo. Aquela coisa de olhar para alguém e pensar se vai reconhecê-lo, eu mesmo, estou barbado, barbudo, se me tornei um homem isso não sei dizer, mas não vem ao caso.

É estranho escrever isso pra alguém tão próximo e ao mesmo tempo está tão longe, não é o mesmo que escrever um texto fictício que as pessoas tiram o que quiserem tirar e o resto se esquece. É algo difícil de compreender até para alguém cheio de sentimentos. Não declaro estar mal por sua ausência, creio também que não está mal aí. É claro que melhor seria se estivesse por perto, mas tenho em mente que você foi fazer sua vida e precisava que isso acontecesse em outro lugar, todos nós nos mudamos, partimos e isso não é ruim, fico feliz por estar bem.

Sinto aquela falta que era discutir coisas na hora do almoço, de levar fumo do velho, recordo de quando nós mesmos saíamos “no tapa” e a mãe separava na chinelada. Dos tempos que eu te dava uns chocolates no futebol do Play1 (convenhamos você tinha que treinar mais). Foi um tempo bom, que não se apaga e nem vai se apagar.

Aqueles óculos que você deixou, estão na minha prateleira (aquele falsificado que tinha a caixa da Triton), pois é, está gasto e eu nem uso mais, mas está lá, é uma lembrança que tenho além das que guardei na memória. Nos falamos as vezes pelo telefone, algo meio rápido e sem tempo mas é legal, escuto a mãe e o pai com aquele viva-voz ligado conversando com você, nunca me dei conta da falta que você faz pra aqueles dois, é claro que faz falta pra mim também, mas na boa, senti hoje sua falta e não sei de onde e nem porque. Segurei firme a barra com eles e ver o velho chorando quando você embarcou não foi muito sentido antes, mas pensei nisso hoje. Meus olhos marearam e eu fiquei sem entender.

Bem que as pessoas dizem: Certas coisas demoram dias ou até mesmo anos para serem sentidas. O corpo processa, processa e processa e uma hora aquela pancada te leva como uma onda te deixando meio atordoado. E quando você recupera a consciência e vê que a situação atual não é confortável e que você esteve flutuando por todo esse tempo, pisar o chão novamente da um conforto, mas ao mesmo tempo é difícil crer que faz tanto tempo que está longe.

Mande noticias irmão. Estamos todos aqui. E você faz falta nessa família que somos nós cinco (a Nina também né?)

Um forte abraço, daqueles que não sobra espaço.


Dan