terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Gabriel

Gabriel trancou-se no banheiro, escolheu ficar ali enquanto o dia passou. Sua mãe escondida na cozinha entre os afazeres e seu pai desmanchando toda a casa, sobraria o banheiro. Com medo do que seria feito em seu quarto, Gabriel mantinha seus bichos preferidos junto de si enquanto o mundo lá fora acabava de chover. Ligou o chuveiro e tampou o ralo com uma esponja, aquela que nunca usara apesar de seu pai sempre dizer para esfregar bem os pés, aliás, ele esfregava os pés no tapete plástico antiderrapante que havia no chuveiro, esfregava tanto que machucava às vezes seu dedo mindinho, mas, a bucha ficava ali, intacta.

Uma piscina surgia no Box, parecia mais um aquário, Gabriel trancou-se então naquele cubículo de vidro cheio d’agua, seus bichos molhavam-se, os de pelúcia afundavam pelo fato de pesarem mais com a água que tomava seus corpos e os de borracha flutuavam, engraçado e pontual era que seus bichos de borracha eram apenas para o banho, alguns sujos de terra lá do quintal, outros com sérias mordidas do cachorro que participava da folia por vezes e mais vezes.

Criava uma atmosfera obscura quando viu pela primeira vez um polvo, escurecendo a visão de Gabriel, por medo. Os peixes que Gabriel nunca tinha visto antes. Bolhas de sabão, pedras, algas e tudo o que mais poderia ter no fundo do mar. A psique viajava por entre as ondas mais velozes e quando se deu conta de que estava em alto mar, Gabriel agarrou-se em sua prancha favorita e seguiu viagem junto com seu ursinho favorito. A onda cobria Gabriel, o urso, o chuveiro, a casa, o bairro, a cidade e tudo o que viria mais pela frente, somente um super-herói poderia escapar ileso daquela enrascada. Gabriel estava ainda trancado no banheiro quando em sua prancha magica levantou-se e subiu à superfície. Como num sonho, o urso acenou para o menino, que num piscar de olhos vestiu-se de mergulhador. Juntando-se as baleias que por ali passavam Gabriel olhava atento para as Raias que brilhavam ao serem tocadas pela luz do Sol.

Toc Toc, Gabrieeeel...

Enquanto abria um baú do tesouro, vestido de pirata com tapa olho e tudo mais. Gabriel enrolava-se em uma alga marina gigante, que o faria mais tarde se afogar. Salvo por seu patinho de borracha preferido (um jogo de patinhos de borracha que incluía a mamãe pato, Gabriel gostou apenas de um e os outros viraram mordedores do Valente, o cachorro).

Nos braços da sereia mais bela, caiu Gabriel. Ela tinha uma toalha aconchegante e quentinha que libertaria nosso herói das garras do Kraken, o perverso polvo gigante, munido de 8 espadas e uma boca enorme. Aquela sereia que não se sabia o nome, era bela e cantarolava uma canção bonita aos ouvidos, quase que em transe, Gabriel, entregou-se.

Mergulhou mais uma vez num céu maravilhoso.

Sabia que a luta de espadas ficaria para a próxima vez.