Gabriel trancou-se no banheiro,
escolheu ficar ali enquanto o dia passou. Sua mãe escondida na cozinha entre os
afazeres e seu pai desmanchando toda a casa, sobraria o banheiro. Com medo do
que seria feito em seu quarto, Gabriel mantinha seus bichos preferidos junto de
si enquanto o mundo lá fora acabava de chover. Ligou o chuveiro e tampou o ralo
com uma esponja, aquela que nunca usara apesar de seu pai sempre dizer para
esfregar bem os pés, aliás, ele esfregava os pés no tapete plástico
antiderrapante que havia no chuveiro, esfregava tanto que machucava às vezes
seu dedo mindinho, mas, a bucha ficava ali, intacta.
Uma piscina surgia no Box,
parecia mais um aquário, Gabriel trancou-se então naquele cubículo de vidro
cheio d’agua, seus bichos molhavam-se, os de pelúcia afundavam pelo fato de
pesarem mais com a água que tomava seus corpos e os de borracha flutuavam,
engraçado e pontual era que seus bichos de borracha eram apenas para o banho,
alguns sujos de terra lá do quintal, outros com sérias mordidas do cachorro que
participava da folia por vezes e mais vezes.
Criava uma atmosfera obscura
quando viu pela primeira vez um polvo, escurecendo a visão de Gabriel, por
medo. Os peixes que Gabriel nunca tinha visto antes. Bolhas de sabão, pedras,
algas e tudo o que mais poderia ter no fundo do mar. A psique viajava por entre
as ondas mais velozes e quando se deu conta de que estava em alto mar, Gabriel agarrou-se
em sua prancha favorita e seguiu viagem junto com seu ursinho favorito. A onda
cobria Gabriel, o urso, o chuveiro, a casa, o bairro, a cidade e tudo o que
viria mais pela frente, somente um super-herói poderia escapar ileso daquela
enrascada. Gabriel estava ainda trancado no banheiro quando em sua prancha
magica levantou-se e subiu à superfície. Como num sonho, o urso acenou para o
menino, que num piscar de olhos vestiu-se de mergulhador. Juntando-se as
baleias que por ali passavam Gabriel olhava atento para as Raias que brilhavam
ao serem tocadas pela luz do Sol.
Toc Toc, Gabrieeeel...
Enquanto abria um baú do tesouro,
vestido de pirata com tapa olho e tudo mais. Gabriel enrolava-se em uma alga
marina gigante, que o faria mais tarde se afogar. Salvo por seu patinho de
borracha preferido (um jogo de patinhos de borracha que incluía a mamãe pato,
Gabriel gostou apenas de um e os outros viraram mordedores do Valente, o
cachorro).
Nos braços da sereia mais bela,
caiu Gabriel. Ela tinha uma toalha aconchegante e quentinha que libertaria nosso
herói das garras do Kraken, o perverso polvo gigante, munido de 8 espadas e uma
boca enorme. Aquela sereia que não se sabia o nome, era bela e cantarolava uma
canção bonita aos ouvidos, quase que em transe, Gabriel, entregou-se.
Mergulhou mais uma vez num céu
maravilhoso.
Sabia que a luta de espadas
ficaria para a próxima vez.