Eu queria dizer uma coisa breve, nunca foi meu plano te deixar.
Você com seus transeuntes que
nunca param de andar, é natural, é fria, é calma e é tranquila. Toronto é de longe
o melhor lugar que já estive, é onde me sentia bem no meu trabalho, me sentia
bem em relação às pessoas tanto no tratamento para com os estranhos que pediam
informação quanto na rispidez de outros que chegaram de outros países ainda
crus e cegos pelo seu instinto de sobrevivência. Suas ruas são convidativas e
nos fazem querer conhecer cada pedacinho, tanta coisa para se ver, tanto a se
descobrir dentro de sua excentricidade do nascer de um dia ao nascer de outro
dia.
Andar pelo cruzamento da Yonge and
Bloor, ouvir ao longe Del Barber em sua musica lançada em 2014, Big Smoke. “Cegos
pelas luzes da cidade Cego pelas luzes da cidade ninguém pode ver você parando.
Faz tanto tempo desde que você viu as estrelas da pradaria e você não tem
certeza de que pode lembrá-los, mas há algo aqui para você encontrar”. É uma
música que fala sobre nossas raízes, sobre certas coisas que a gente se encanta
quando descobrimos algo novo e como as coisas parecem sumir no éter. Seguindo
por qualquer direção encontramos sempre uma arquitetura preservada, sempre
muito antiga, sempre muito bem cuidada. Atravessar com pressa pela Union Station
e adentrar como ratos às vielas da própria estação em construção dá um ar de
conhecimento, tanto quando andar pelos subterrâneos e travessas externas entre
os edifícios quando não pelas passarelas extremamente artísticas feitas
exatamente para nos proteger do frio, a vida não para, eu nunca parei, parecia
uma droga fortíssima injetada em minhas veias, desde a rotina mais natural como
comprar tickets de metrô, como o mais fora do comum em voltar em um ônibus
lotado de casa ao lado de 40 pessoas fantasiadas (entre eles um pirata e um
casal de coelhos) e você com uniforme do trabalho quando o ônibus parava para
manutenção as 2 da manhã e todos desciam em frente a McDonalds.
O café é praxe, ninguém vive ou
fica sem e sempre tem um lugarzinho para conseguir um copo cheio. As Starbucks,
Tim Hortons, McCafè e todas as outras conveniências 24h que também tinham uma
máquina. Os restaurantes Jamaicanos para quando sentir saudade do arroz com
feijão. Os shoppings, os maiores que já vi na vida, cheios de muita magia no
Natal. Pessoas que em 10 minutos de conversa se tornavam amigas sem nenhum
outro interesse por trás.
Lembro até hoje de como conheci a
Sati, uma indiana que estava perdida e pediu informações, eu estava na cidade a
3 semanas, mas tinha meu celular que ainda funcionava. Ela Queria chegar na
Adelaide Street, era caminho após o ônibus ter parado e deixado todo mundo ali em
frente ao McDonalds. Eu resolvi ir a pé até a Liberty Village e acabei a
encontrando, parada ao lado de um prédio. Dalí seguimos juntos, ambos com um
inglês bem raso, mas que conseguíamos nos comunicar. Falamos algumas coisas
sobre nossas vidas fora dali e nos despedimos quando a deixei em casa. Não
trocamos contatos e nunca mais a vi. O fato nem era exatamente esse, mas como a
cidade nos leva a destinos tão diferentes em tão pouco tempo.
E o Andrew, sempre me atendia no Brass Taps da Danforth, que cara sensacional, sempre tentava ensinar como pronunciar o nome da cidade da forma correta. "Is not Toron-to, is Turo-nou.", o Evren, que cara mais que sensacional, chegou como refugiado e tinha tanta coisa para dizer, para fazer, para mostrar. Ator, assim como eu, hoje ele tem um canal no Youtube e disse que um dia me contrata.
Atravessar a cidade enquanto o
Sol ainda não nasceu e acompanhar o acontecimento sentado no banco do streetcar
é uma experiência tão fantástica quanto propriamente andar de streetcar. Observar
as pessoas em pleno movimento junto da cidade que respira ar quente dos túneis
de metrô, algumas pessoas dormem ali e sempre nos deparamos com elas quando
saímos antes do Sol nascer. As estações Osgood, Christie, Chester, a Broadview...
Woodbine... Bay, Bloor, Union... Sem deixar a Spadina, Eglinton West e pensar
no passeio que é cada vez que se desloca, tudo vira arte, tudo se torna uma
imagem a ser apreciada quando falamos de Toronto.
Não poderia deixar de falar sobre
a Queens Quay no Harbourfront em seus cais ao longo de toda a orla. Ali
encontramos os patos mais lindos de todo o planeta. Toronto tem vistas ótimas e
como todo lugar, seus centros turísticos, CN Tower, o Aquário, as destilarias e
tantos outros lugares lindos e famosos, mas essa não é a minha Toronto, A Toronto
que conheci é muito mais do que os lugares turísticos, foi uma cidade que me
senti aconchegado, como num abraço. Nunca desde então me senti em casa em nenhum
outro lugar. Um dia voltarei, e desta vez para ficar, nosso adeus, foi apenas
um até breve.
Cya my friend.
"The tower, the clock, the streetcar and the fog. All
together in the same time, same way, same street... like the revolution, inside
my hearth while a whisper pass by me, telling about the world and your point of
view. I was scared a little and at least I thought by myself. Here is three
things never stop: The clock, the fog and me."