Olhando na janela daquele quarto
escuro, David não sabia se as estrelas apenas brilhavam tão distantes ou se
eram pequeninas, confundia as mesmas com os aviões que passavam no céu com suas
luzes vermelhas e brancas. O menino de apenas 5 anos chamava seu pai para
perguntar o porquê daquelas estrelas se moverem tão rapidamente e ao mesmo
tempo piscarem com aquele barulho todo.
Ascendia aos céus o Sol daquela manhã
de Domingo, David estava debruçado na janela observando o os pássaros que
passavam por ali em vôos cada vez mais perto do telhado. Aquela pipa que estava
fazia dias na antena do vizinho, ninguém deu conta que a mesma não se soltaria,
a linha formava um varal por entre as casas.
Seu pai, que não vieram naquela
noite, não viria. David era filho de mãe solteira, largada, o pequeno menino
nem ao menos conhecera seu pai. Mas ainda convivia com a idéia paterna que sua
mãe exercia sobre tudo. Viviam juntos, como poderiam ser.
O tempo passava e
aquele menino não crescia, a janela aberta naquela noite de verão proporcionava
a melhor vista da galáxia. A casa, de um bairro afastado naquele instante que
ocorreu o “black-out”, todos foram para a rua, munidos de velas e lampiões, os
mais sofisticados com suas lanternas. David preferiu o aconchego da cama e a
companhia de seu urso de pelúcia, os dois assistiam a aquele espetáculo de
luzes e fogos.
Certa vez, o menino subiu no
muro, era fim de tarde e o Sol já se desfazia no horizonte, junto de seu fiel escudeiro,
desafiou a altura e partiu rumo ao telhado, onde teria uma aproximação maior
com aqueles pontos brancos no céu. Deitou-se como de costume, aconchegou o
ursinho em seu abraço e ali ficou, aguardando a hora da chegada dos astros,
chegaram se mostraram e sumiram. A lua ofuscou o brilho as estrelas que nada
podiam fazer. O menino por si só, desafiou a altura e saltou daquele telhado ao
abismo. Flutuou.
Flutuou e subiu aos céus junto
com aquelas que seriam seu objetivo, as estrelas que ele olhava da janela do
quarto estavam mais perto de seus olhos. Mais perto de suas mãos. Ele podia
tocá-las, eram feitas de bolinha de gude assim como mamãe havia dito dias
atrás, umas com suas cores exóticas e outras com um branco quase que
transparente. Ainda maravilhado com aquela imagem, viu seu amigo cair sobre as
nuvens de algodão que surgiam com o amanhecer. Era um menino, brincando por
entre as nuvens e bolinhas de gude.