Este país é cheio de mistérios em meio ao concreto, sempre
há um beco novo para conhecer ou algum templo bem pertinho para te dar alguma
paz no coração. As pessoas são mais solicitas mas eventualmente não estão se
importando muito com o que você anda fazendo, cheiro de maconha é o que você
mais sente nas ruas dos bairros mais afastados, porém as ruas estão sempre
muito cheias e parece que por aqui ninguém se diferencia pela grana que tem,
inclusive é simples ver Ferrari, Lamborghini e Limusine pelas ruas, assim como
é comum encontrar pilotos de avião no busão, sei até de histórias que um cara
preferiu uma SUV a uma Ferrari por conta do bagageiro, seria um empecilho fazer
compras de supermercado com uma Ferrari. As coisas por aqui têm um preço bem
baixo e se você trabalha você ganha o seu dinheiro para viver bem, ninguém vive
mal cá no país gelado.
Uma coisa que me tocou demais o número de missões de paz que
o país entrou. Falando em Guerra, o memorial daqui é muito bonito, pequeno em
relação ao tamanho das missões feitas pelos soldados canadenses, em sua maioria,
como dito, missões de paz, é assim que eles chamam as missões das duas grandes
guerras e a maior parte das guerras no oriente médio. Enfim, dei umas voltas
por aí, comi comida na rua e meu estômago de avestruz continua o mesmo. O que me
incomoda um pouco é que em todos os lugares tem luzes demais e música demais. O
parques por aqui são quase refúgios, tanto de animais quanto de pessoas, vê-se
muita gente aproveitando a brisa do lago, ah, sim, por aqui venta demais, o
tempo todo está ventando, a cidade é toda plana, o que ajuda muito na
ventilação, mas é claro, no inverno, também ajuda a trazer temperaturas
realmente baixas e fazer com que a sensação térmica seja ainda maior, já tive
relatos de que chegaram por vezes aqui aos 30 graus negativos, o que é
realmente doido pensando no inverno mais denso que tive no Brasil que foi de 7
graus.
Caminhar pelas ruas é como se sentir sozinho e acompanhado
ao mesmo tempo. Sempre muita gente andando para os mesmos lugares, ninguém sai
de casa para fazer nada. Todos por aqui parecem ter um objetivo traçado, exceto
os que chegaram a pouco tempo e tudo é novidade, tudo é foto, tudo é motivo
para felicidade.
Ontem durante uma caminhada até o “city hall” vi pessoas
noivando e tirando fotos para o book. Assim como perto do “Royal Museum”,
também vi um casal atravessando a rua pelo mesmo motivo. Um tanto bonito, eu
ainda me emociono com essas coisas, casamentos me deixam meio assim, não sei
explicar. Eles continuavam caminhando até que os perdi no meio da multidão, na
infinitude da calçada onde meus olhos não mais acompanhavam, de um lado a
missão dos fotógrafos e de outro a missão do casal. Adentrando a “Church os the
Redeemer”, na tradução, “Igreja do Redentor”, eles seguem os padrões
anglicanos, ou numa explicação mais ampla, as igrejas que seguem os padrões
ingleses são chamadas também de episcopais. Uma paz tomou conta de mim. É muito
complexo explicar de forma concreta, como é que haveria um lugar tão acolhedor
em meio ao barulho dos carros, caminhões, pessoas. Lá dentro, é possível ouvir
as batidas do próprio coração.
Ao mesmo tempo em que pisar fora dos limites divinos
significaria perder a paz, é como se todo o barulho tivesse sumido e estivesse
voltando aos poucos, de forma bem tranquila, como se aumenta gradativamente o
som do rádio ou da tv.
Numa dessas caminhadas, as 3 e pouco da manhã encontrei um
cara no ponto de ônibus, ao descobrir que o “street car” demoraria 30 minutos para
passar, resolvi ir andando e ele acabou acompanhando. Falamos sobre a vida,
sobre as coisas que cercam, indiano, nasceu aqui e sonha voltar pra Índia, vai
conseguir. Nos apresentamos, mas não sei se compreendi bem seu nome, Ulni. Ele
parecia bem novo apesar da barba já crescida. Ele tinha ideia que iria levar
fumo do pai ao chegar em casa e bater na porta as 4 horas da manhã para entrar.
Ainda não tenho conclusões sobre nada por aqui, a cidade
anda e tudo vai para a frente. Não existe amor ou ódio, existe humanidade,
existe um sentimento mútuo de coletividade. Ninguém se preocupa em olhar para o
lado nas ruas, aqui os carros param para que você atravesse, isso é humanidade.
Ninguém buzina ou grita porque você está atravessando a rua na frente dos
carros, todos respeitam os semáforos, tudo acontece como em uma máquina bem
afinada. Aqui é cada um por si, mas se precisar de ajuda, pessoas
surgem do nada, prontas para ajudar.
Aqui como em qualquer lugar existe o bem e o mal. Em meio a
vista de concreto que proporciona os arredores e os poliedros. Em meio aos
músicos de rua e aos street cars, estes não param nunca.