segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Für Elise


Sentado num banco de praça pela manhã deparou-se com dois seres distintos em faces e trejeitos, porém eram iguais na forma em que se encontravam. O primeiro, deitado de bruços, parecia uma ode ao sofrimento, olhar para aquela cena digna de uma manhã de segunda-feira, era o mesmo que pedir para não ter acordado. Ao lado, havia outro, ou não mais havia. A situação de rua marginalizava o ser vivente (ou vigente) em pleno século 21, em pensar que passou a noite ali, o sol já tocava seu rosto há algum tempo. Moscas ao redor, papelão ensanguentado, restos e dejetos.

O amoníaco ainda arderia as narinas e a imagem ainda travava a garganta, um alarme tocando sabe Deus desde que horas, enquanto uma viatura somente passava por ali para fazer presença, ninguém desceu, ninguém ouviu. O mundo seguia em frente como de costume. Pessoas, almas, passando por maus bocados e infelizmente ninguém ali para resolver a manhã, ou pelo menos alguns problemas. O sol agora paira no céu, sem trégua e nem lamento. Queima quem está ao seu domínio.

Uma igreja de fronte ao ocorrido, onde está o clero numa hora dessas? Tomando seu café com bolachas da padaria mais requintada desta cidade? E o dízimo? Utilizado para as melhorias da comunidade? Onde está? Onde mais poderia estar?

Não, não entrou em detalhes religiosos, nem poderia, não era esse o questionamento. Simplesmente gostaria que alguém fizesse alguma coisa. Por amor ao próximo simplesmente, ali, naquele momento, sentiu um desprazer por ser humano. Carregou sua mochila, levantou-se e andou para longe. Aquela imagem, eram pessoas, eram seres que o sistema abandonou. Mais uma vez se questionou onde estaria o clero neste momento. Pediu para que se houvesse uma força divina, maior, superior, que esta força ajudasse os necessitados.

Ouvia-se uma canção nórdica. Ela dizia que no dia de amanhã, nós estaremos num lugar distante, longe de casa e ninguém saberia nem ao menos nossos nomes.

As pessoas que permaneceram, já estavam observando fazia um tempo. Ninguém fez absolutamente nada a não ser se incomodar com o mau cheiro.

Live and let die.