Sentado num banco de praça pela
manhã deparou-se com dois seres distintos em faces e trejeitos, porém eram
iguais na forma em que se encontravam. O primeiro, deitado de bruços, parecia
uma ode ao sofrimento, olhar para aquela cena digna de uma manhã de segunda-feira,
era o mesmo que pedir para não ter acordado. Ao lado, havia outro, ou não mais
havia. A situação de rua marginalizava o ser vivente (ou vigente) em pleno
século 21, em pensar que passou a noite ali, o sol já tocava seu rosto há algum
tempo. Moscas ao redor, papelão ensanguentado, restos e dejetos.
O amoníaco ainda arderia as
narinas e a imagem ainda travava a garganta, um alarme tocando sabe Deus desde
que horas, enquanto uma viatura somente passava por ali para fazer presença,
ninguém desceu, ninguém ouviu. O mundo seguia em frente como de costume.
Pessoas, almas, passando por maus bocados e infelizmente ninguém ali para
resolver a manhã, ou pelo menos alguns problemas. O sol agora paira no céu, sem
trégua e nem lamento. Queima quem está ao seu domínio.
Uma igreja de fronte ao ocorrido,
onde está o clero numa hora dessas? Tomando seu café com bolachas da padaria
mais requintada desta cidade? E o dízimo? Utilizado para as melhorias da
comunidade? Onde está? Onde mais poderia estar?
Não, não entrou em detalhes
religiosos, nem poderia, não era esse o questionamento. Simplesmente gostaria
que alguém fizesse alguma coisa. Por amor ao próximo simplesmente, ali, naquele
momento, sentiu um desprazer por ser humano. Carregou sua mochila, levantou-se e
andou para longe. Aquela imagem, eram pessoas, eram seres que o sistema
abandonou. Mais uma vez se questionou onde estaria o clero neste momento. Pediu
para que se houvesse uma força divina, maior, superior, que esta força ajudasse
os necessitados.
Ouvia-se uma canção nórdica. Ela
dizia que no dia de amanhã, nós estaremos num lugar distante, longe de casa e
ninguém saberia nem ao menos nossos nomes.
As pessoas que permaneceram, já
estavam observando fazia um tempo. Ninguém fez absolutamente nada a não ser se
incomodar com o mau cheiro.
Live and let die.