Dentre todas as formas de vida que havia naquele planeta,
apenas uma delas era inevitavelmente a que chamava mais a atenção do restante.
Dentro de um vidro, sem contato com ninguém mais além das caixas de som e luzes
artificiais que a mantinham viva, era notório que chamava atenção, pois, a
admirável importância dada a ela se fazia real ao mesmo tempo em que eram
outras formas de vida que se encarregavam de mantê-la viva.
Uns se
responsabilizavam por ligar as luzes às 6 da manhã, outros por desligar às 7 da
noite com a ideia de que o desligamento, assim como o acionamento fosse
gradativo, imitando o nascer e o pôr-do-sol. Uns diziam estar extinta e por empatia
cuidavam dela, outros diziam ser da realeza e por isso não tinha como ser
tratada de forma diferente, ela mandava e era obedecida. No mais, nas caixas de
som tocavam as musicas clássicas e as vezes um Hard Rock de uma rádio bem
eclética.
De repente um dos seres ousou em tocar o vidro e quase foi
escorraçado pelos guardas causando uma grande comoção dentre toda a sociedade,
era um problema bem grande alterar a rotina daquela que estava ali,
enclausurada, apenas observando o que o mundo era, crescendo de forma contida,
sem contato com o exterior. Porém, aquele contato teria alterado de forma
brusca seus batimentos cardíacos e em uma crise de loucura, aquela que não se
nomeava começou a se debater entre as paredes nas quais a trancafiavam. O
projeto havia saído do controle e sentiram a necessidade de apagar as luzes
mais uma vez, mas, desta vez mais cedo do que de costume e ela adormeceu.
Com a noite mais longa, suas pupilas se acostumaram com a
noite, com o escuro, seu corpo, agora se luz, tornou-se mais pálido e seus
dentes por algum motivo especial não relatado, se tornaram mais pontiagudos.
Aquele ser começou a crescer, dia após dia, alguns diziam que cedo ou tarde
abririam a redoma e de lá sairia um monstro, porém ele não aguentaria
sobreviver na atmosfera atual.
Quando em um belo dia, o vidro sumiu, o ser confinado também
e os outros seres ainda se perguntando o que havia ocorrido, sem respostas.
Nada daquilo havia explicação. Apenas o rastro de algo que fora movimentado por
um longo caminho até o abismo. O ser era forte o suficiente para empurrar a
jaula até o penhasco ao mesmo tempo que muitos pensavam se faltava inteligência
para saltar, ou era inteligente o suficiente para descobrir que aquilo
não era vida.