quarta-feira, 4 de julho de 2012

Cabeçote


(tosse) Começava a escrever talvez um quadro bem conhecido por muitos (tosse), talvez não soubesse ao certo quem era ou qual o significado daqueles olhares para seu rosto. Seu corpo atrofiava a cada esforço a mais (pigarro).

Rodeado por alguns conhecidos e por alguns que não lembrava, procurava no outro lado do cérebro (tosse), o lado racional o que geralmente resolvia aqueles cálculos infalíveis matemáticos e estratégicos (pigarro). Não encontrava nem no mais profundo de sua memória uma tese que poderia servir ao coma. Estava simplesmente inerte.

Foi na noite em que dormiu ali, sozinho, naquela cama que sobrava espaço, sobrava um lugar. Ele sabia quem faltava (pigarro) (tosse) (pausa), sabia muito bem quem faltava ali ao seu lado ao menos segurando sua mão, ou recostada em seu corpo (tosse).

Lembrava-se de noites sentados no sofá comendo pipoca e assistindo aquelas comédias pastelão (ameaçou um sorriso, mas era impossível), gemeu, sentindo alguma coisa encostar-se a seu rosto, de olhos abertos enxergava uma escuridão que não parecia (pigarro) aconchegante, muito menos atraente naquele momento de uma simples curiosidade.

O abandono daquela mão que não sabia de quem era.

Duraram anos, décadas.

Um apito que acompanhava as batidas de seu coração, ainda batia, batia mais forte quando a memória resolvia passar aquele filme novamente, eram os mesmos batimentos descompassados que se ouviam quando aquelas mãos se encostavam.

Ele não se arrependera de algo, simplesmente não saberia o significado desta palavra. (tosse) Descansou em paz.

Naquela noite, a ultima antes de desligarem os aparelhos, uma lágrima escorreu de seus olhos, sozinho, no mais íntimo de seu ser. Encontrou-se consigo mesmo ali, logo ali, sem começo, nem meio e nem final.