segunda-feira, 11 de novembro de 2019

O Beatnik e a esperança - Parte 1 - Um manifesto


Um dia frio com Sol, um dia nublado no mormaço. As vezes a gente se sente como se não tivesse pertencimento ao lugar que estamos, como se apenas flutuássemos presos a um barbante tão frágil quanto uma linha de uma teia. A própria vida é algo frágil, assim dizia um grande amigo, isso que vestimos é apenas uma casca, algo passageiro, tão passageiro quanto qualquer nuvem que sobrevoa a nossa casa, o nosso terreno, o chão que pisamos.

As vezes tenho a noção de que não se tem tanta certeza de que pisamos o chão ou se ele nos pisa, afinal, o que nos mantém no local onde nós situamos?

A beira de uma estrada ou a beira da vida?

É como se eu estivesse em um ponto onde não há passado e nem futuro, apenas um chão com um rumo incerto, voltar é uma incerteza tão grande quanto ir para além das faixas contínuas, é compreender o grande deserto que existe no meio fio da vida e da morte, é uma incerteza simples que beira a loucura de estar e não estar, é a grandeza de um sentimento que não cessa no beijo de boa noite ou no despertar de um sonho, é um sono profundo onde se confunde o real do irreal, é uma simples matemática inexata ou uma ciência humana que as mãos trêmulas de fome me leva ao delírio de um lugar que eu nunca estive e talvez nunca esteja.

Um passo de cada vez cria a esperança destruída de algo incerto e incapaz de satisfazer qualquer pensamento momentâneo de que tudo ficará bem. É aquele velho veleiro que que atravessa o largo de Oblast, no gelo, no frio, no nevoeiro... A ideia nunca foi partir, pois, não há um ponto de partida. Entende como é simples e concreto e ao mesmo relativo em dado momento que se pensa devido lugar que pairamos? É a complexa compreensão do tudo e o nada ao mesmo tempo, é o aperto no peito de não haver certeza de nada do que se deve a própria vida, é compreender e acalmar o pranto, pois não há nada a ser feito a não ser continuar caminhando. Um dia talvez isso tudo se concretize em uma soma de variáveis e inconstantes. Hoje falamos sobre o aquecimento global e amanhã de repente nos tornamos os próprios medíocres que se entregam a produção em massa. Não há como pretender o fim sem um começo, não há como jogar-se a própria sorte quando o sentimento de abandono lhe parece confortável, abandonado estás e abandonado ficarás, a mente é um deserto de possibilidades e não haverá nada melhor para hoje do que a caça sendo cozida na fogueira do inferno criado por nós mesmos. Compreende que solução e problema são apenas questões de ponto de vista? Ao se entregar em um momento de pensar na ideia de objeto e observador, quando alteramos o olhar e nos vemos do outro lado as coisas parecem fazer mais sentido, porém, sabemos que mudar o meio em que vivemos pode causar uma situação catastrófica dentro de um ameno paradoxo que contraria os mais esperançosos. A resolução de problemas não deveria ser uma ótica humana. Preocupar-se demais com o futuro nos faz pensar nas piores probabilidades, sempre. Quando a ideia é apenas continuar caminhando. Poupamos dinheiro para que não falte amanhã, poupamos energias para que tenhamos amanhã, poupamos alimentos e até muitas vezes deixamos estragar pois poupamos para o amanhã, deixamos de realizar coisas pois podemos realizar amanhã, uma sociedade pautada sempre no futuro, nunca haverá de ser uma sociedade sadia.  

De volta a estrada, observando os cânions que fazem jus ao sol do entardecer, uns diriam que é belo, outros se preparam para a falta de luz e calor, outros ainda diriam que a Lua fará uma noite clara. Outros ainda compreendem que a Lua iluminando a noite transforma qualquer ser vivo em presa fácil aos coiotes.

Para nós, pouco importa, o presente deve bastar.