Um dia frio com Sol, um dia nublado no mormaço. As vezes a
gente se sente como se não tivesse pertencimento ao lugar que estamos, como se
apenas flutuássemos presos a um barbante tão frágil quanto uma linha de uma
teia. A própria vida é algo frágil, assim dizia um grande amigo, isso que vestimos
é apenas uma casca, algo passageiro, tão passageiro quanto qualquer nuvem que
sobrevoa a nossa casa, o nosso terreno, o chão que pisamos.
As vezes tenho a
noção de que não se tem tanta certeza de que pisamos o chão ou se ele nos pisa,
afinal, o que nos mantém no local onde nós situamos?
A beira de uma estrada ou
a beira da vida?
É como se eu estivesse em um ponto onde não há passado e nem
futuro, apenas um chão com um rumo incerto, voltar é uma incerteza tão grande
quanto ir para além das faixas contínuas, é compreender o grande deserto que
existe no meio fio da vida e da morte, é uma incerteza simples que beira a
loucura de estar e não estar, é a grandeza de um sentimento que não cessa no
beijo de boa noite ou no despertar de um sonho, é um sono profundo onde se
confunde o real do irreal, é uma simples matemática inexata ou uma ciência
humana que as mãos trêmulas de fome me leva ao delírio de um lugar que eu nunca
estive e talvez nunca esteja.
Um passo de cada vez cria a esperança destruída de algo
incerto e incapaz de satisfazer qualquer pensamento momentâneo de que tudo
ficará bem. É aquele velho veleiro que que atravessa o largo de Oblast, no
gelo, no frio, no nevoeiro... A ideia nunca foi partir, pois, não há um ponto
de partida. Entende como é simples e concreto e ao mesmo relativo em dado
momento que se pensa devido lugar que pairamos? É a complexa compreensão do
tudo e o nada ao mesmo tempo, é o aperto no peito de não haver certeza de nada
do que se deve a própria vida, é compreender e acalmar o pranto, pois não há
nada a ser feito a não ser continuar caminhando. Um dia talvez isso tudo se concretize em uma soma de
variáveis e inconstantes. Hoje falamos sobre o aquecimento global e amanhã de
repente nos tornamos os próprios medíocres que se entregam a produção em massa.
Não há como pretender o fim sem um começo, não há como jogar-se a própria sorte
quando o sentimento de abandono lhe parece confortável, abandonado estás e
abandonado ficarás, a mente é um deserto de possibilidades e não haverá nada
melhor para hoje do que a caça sendo cozida na fogueira do inferno criado por
nós mesmos. Compreende que solução e problema são apenas questões de
ponto de vista? Ao se entregar em um momento de pensar na ideia de objeto e
observador, quando alteramos o olhar e nos vemos do outro lado as coisas
parecem fazer mais sentido, porém, sabemos que mudar o meio em que vivemos pode
causar uma situação catastrófica dentro de um ameno paradoxo que contraria os
mais esperançosos. A resolução de problemas não deveria ser uma ótica humana. Preocupar-se
demais com o futuro nos faz pensar nas piores probabilidades, sempre. Quando a
ideia é apenas continuar caminhando. Poupamos dinheiro para que não falte amanhã, poupamos
energias para que tenhamos amanhã, poupamos alimentos e até muitas vezes
deixamos estragar pois poupamos para o amanhã, deixamos de realizar coisas pois
podemos realizar amanhã, uma sociedade pautada sempre no futuro, nunca haverá
de ser uma sociedade sadia.
De volta a estrada, observando os cânions que fazem jus ao
sol do entardecer, uns diriam que é belo, outros se preparam para a falta de
luz e calor, outros ainda diriam que a Lua fará uma noite clara. Outros ainda compreendem
que a Lua iluminando a noite transforma qualquer ser vivo em presa fácil aos
coiotes.
Para nós, pouco importa, o presente deve bastar.