O sol quente lá fora assistia a
céu aberto, fascinado, a tempestade que caia dentro do ser imutável, congelado,
transgressor. Era o ultimo dia de suas vidas ou talvez não. Apenas lia o jornal
com cara de poucos amigos, não gostava das notícias vindas do exterior lá de
fora. As grades soldadas na janela tinha plena consciência que estava preso,
incapaz de mover-se, viu seus planos pelo chão.
Chovia.
Raios, trovões, relâmpagos...
Um clarão fez com que o corpo
reagisse num espasmo. Atordoou-se quando leu que o programa origem estava na
versão 2.0.1, algo havia mudado na matriz. Teve medo de abrir as janelas, mas
venceu. As grades foram excluídas do pacote, ganhou o sonho da liberdade. Abriu
o portão com a chave 1.0, viu-se no paraíso proibido enquanto lágrimas
escorriam de seu rosto.
Havia mais pessoas ao seu redor, saindo de suas casas
pela primeira vez, admirando a clara luz do dia com certo receio. Ficaram todos
ali, olhando uns para os outros com cara de mistério. As pessoas que passavam
pelas janelas não se importavam com os “recém-chegados”, deu-se conta do
processo em que viviam, pensou em algo que gostaria de comer, algo que viu na
TV, com uma cara boa pra chuchu (era assim que falava o comercial, somente para
delivery).
Olhou para as peles azuis, as
ondas eletromagnéticas poderiam fundar um novo império, a lei da atração
funcionava, a lei das maquinas não. Apesar dos processos e modificações da
programação, o aquário permanecia intacto, peixes e cores. A evolução
prosperou, a revolução não.
O deus maior, olhando para baixo,
tinha uma postura bem marcada: “coloquei-vos no mundo, tenham piedade de seu
semelhante e cuidado para não sucumbir ao credo”, ninguém sabia disso, nem
mesmo os que já estavam ali há muito tempo.
O ser que saiu de sua casa, olharia
para o céu e ajoelhado não clemência, mas por fraqueza, voltou para casa,
cansado do mundo lá fora, a chuva não cessara e o mundo não parou, numa chuva
de meteoritos, observou a coisa mais linda que vira em décadas, da janela de
sua sala.