Era noite.
Ouvindo as palavras balbuciadas, já sem força.
Admirou as estrelas uma ultima vez. Dizia que percorriam um
longo caminho até chegar ali. Mal sabia das ciências e dos entendimentos que a
vida ensinava. Analfabeto, sem perspectivas, assumia seu curso para juntar-se a
elas.
Era o que aprendera, seguindo e segundo o mito. Aproximou-se
de sua então esposa, agarrando-a pelo braço, os dedos trêmulos, a voz rouca e
pouca lucidez. Pedia força e chamava ao pai.
Na porta de sua casa, em vigília, toda a vizinhança
ajoelhada; velas acesas, mãos dadas. Realizavam uma espécie de ritual, ensinado
e passado de pais para filhos. A luz amarelada, os cânticos e movimentos
homogêneos.
Abriu os olhos, não tinha dores. Notou que suas mãos não
mais tremulavam e sua respiração estava firme. Aquele muco carregado pelos anos
no pó e na lida com a terra. Assumiu então sua versão do fim. O Deus maior
assumia seu papel de juiz. Na capela que ajudou a levantar. Casaram-se e
batizaram seus quatro filhos.
Pedro, com nome de santo, seria absolvido de seus pecados e
Maria, nome da mãe de Jesus (também de seu terceiro filho), sua esposa, a qual
segurava sua mão, já chorosa com a despedida, pedia mais alguns minutos, quem
sabe mais alguns dias, mas sabia que não seria possível mais nem um segundo,
observou nos olhou nos olhos de seu velho, sem muitas palavras, com os olhos
cheios de lágrimas, apenas desejou que descansasse em paz.
Um suspiro, uma estrela, seguindo e segundo o mito.