Foi na rodoviária daqui da cidade
que a gente se abraçou pela última vez e até hoje eu guardo sua mensagem que
mandou no dia 21 de setembro do ano passado, um Sábado e você estava indo
almoçar, finalizou o contato pedindo pra eu mandar notícias enquanto eu
iniciava uma apresentação de teatro infantil, realizando a sonoplastia e a
iluminação do espetáculo. Foi na mesma semana que eu soube do seu acidente e
que de alguma forma nos deixou.
Hoje eu penso em você como alguém
que fez o melhor que pode por todos nós e que partiu fazendo o que mais
gostava. Para alguns, inclusive para mim, você sumiu no éter, é como se você
ainda estivesse nesta viagem na qual nos despedimos na porta do ônibus que se
destinava a São Paulo. Engraçado que quando eu soube que
você tinha caído de bicicleta, eu ri muito pois, tudo entre nós era motivo para
gracinha, para gargalhadas, qualquer que fosse o momento e claro que eu não
imaginava o quão sério havia sido, até que o tempo passou e tudo foi ficando menos
risonho, as notícias não eram das melhores e... enfim, você se foi. Se foi e
deixou a gente aqui meio com um sorriso amarelo, meio controlando as lágrimas,
meio sem entender o que aconteceu. A Nina foi logo depois, acho que você deve
saber, ou não, não sei.
Enquanto escrevo eu tento me livrar
de crenças e focar apenas no que eu sinto, já que o sentir é algo mais puro do
que achar coisas e pensar em formas de acalantar os corações. Você se foi, é
fato e é com isso que tenho que lidar, daquele dia em diante, e escrevo este
texto para colocar para fora o que estava engasgado desde então. Sei que você
não vai ler, sei que de certa forma alguns vão me dizer que você lerá ou leu,
este não é o propósito, não busco provas, busco apenas tirar de mim esse mal
estar que você causou em todos nós com sua partida.
O seu legado foi e será
respeitado e penso que é o que quero ter para mim, é o reconhecimento que você
teve e a gente sabe que você era um artista e artistas sempre serão massacrados
a vida toda e reconhecidos após a morte.
Hoje você faria 62 anos, meio século
e 12 anos, ou, 50 mais um bom whisky.
“Morro acima, entendemos que
chuva é mais forte do que imaginamos e que a enxurrada é apenas a consequência.
No fim, todos nós ficaremos bem. Em meio a solidão que o mundo nos traz, em
meio ao céu cinza de uma tarde chuvosa, em meio as notas solitárias de um
compositor decadente, entre as palavras de um ébrio. Em meio ao marasmo da casa
vazia.” - Veleiro por Danilo Baldassari