Enquanto voltava ao banheiro para escovar os dentes,
percebia que o espelho era o dono de grandes verdades. Observava que seu rosto
já marcado pelo tempo, com linhas estranhas e profundas, seu cabelo caíra com o tempo e a pele não se esticava
mais. O creme dental que utilizava para disfarçar seus dentes amarelos de
cafeína e nicotina.
Olhou mais para frente, chegou mais perto pensando que seria
puxado para dentro daquele universo paralelo que estava bem ali. Aquele olhar
de embriaguês, órbitas afundadas na cavidade óptica, as olheiras provavelmente
surgiriam após longos dias em que passou em claro, insólito.
Enquanto a escova passava por aquele conjunto de dentes,
engasgava com a mesma em sua língua, era necessário, fazia parte da higiene.
Enquanto ainda secava os pés por completo, guardava a escova e o creme dental em
seus devidos lugares.
Fechando o armário contemplou na outra noite com sua face
estampada no espelho úmido e embaçado.
Sorriu com seu olhar morto e mostrou seus dentes amarelados
sem pudor, calças arriadas chão molhado de urina e uma lata de cerveja na pia, a embriagues desta vez não foi de sono.