quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Paralelo


Enquanto voltava ao banheiro para escovar os dentes, percebia que o espelho era o dono de grandes verdades. Observava que seu rosto já marcado pelo tempo, com linhas estranhas e profundas, seu cabelo caíra com o tempo e a pele não se esticava mais. O creme dental que utilizava para disfarçar seus dentes amarelos de cafeína e nicotina.

Olhou mais para frente, chegou mais perto pensando que seria puxado para dentro daquele universo paralelo que estava bem ali. Aquele olhar de embriaguês, órbitas afundadas na cavidade óptica, as olheiras provavelmente surgiriam após longos dias em que passou em claro, insólito.

Enquanto a escova passava por aquele conjunto de dentes, engasgava com a mesma em sua língua, era necessário, fazia parte da higiene. Enquanto ainda secava os pés por completo, guardava a escova e o creme dental em seus devidos lugares.

Fechando o armário contemplou na outra noite com sua face estampada no espelho úmido e embaçado.

Sorriu com seu olhar morto e mostrou seus dentes amarelados sem pudor, calças arriadas chão molhado de urina e uma lata de cerveja na pia, a embriagues desta vez não foi de sono.