sexta-feira, 17 de junho de 2011

Repetimento inexato - Carlos

Carlos acordara naquele dia com um gosto amargo na boca, não bebia há muito tempo, não estava de ressaca, estudante das ciências sociais, fazia parte das altas do movimento estudantil em prol da liberdade, conseqüentemente, seria opositor ao atual governo.
Não suportava mais a ditadura. Repressão e censura.

Tomou seu café, como todos os dias. Respirou fundo, admirando sua bandeira Socialista esticada na parede.  Barba por fazer, coisa que jamais acontecera, Carlos fazia a barba diariamente.

Foi caminhando para a faculdade, as ruas estavam movimentadas e o trânsito parado, uma passeata acontecia, Carlos, sabia que iria acontecer, mas não antes que ele pudesse chegar ao local combinado, olhara em seu relógio, quebrado, os ponteiros não se mexiam. Carlos perdeu hora. A passeata ocorrera sem ele. Os lideres seguiam sua marcha e Carlos correndo atrás para tomar a frente junto com seus companheiros.

Ao longe se podia ver que a policia armou cercos, mas para sua surpresa a passeata não se desviou, foram de encontro, não foram para confrontar, seria apenas um ato pacifico até então.
Estavam armados e não pouparam esforços. Abriram fogo sem misericórdia, todos começaram a correr em sentido contrario, mas não Carlos, que ao ver seu amigo ao chão ferido com um tiro no peito, Alex, fora atingido por um dos soldados.

Com as mãos ensangüentadas, Carlos que viu seu amigo morrer em seus braços, teve seu primeiro contato real com uma revolução, não pensava mais em sobreviver, seu real desejo seria uma pátria livre. Correndo em direção ao estandarte, caído ao chão, conseguiu reergue-lo gritando na rua em meio à multidão que corria para se proteger dos tiros:

- BRASIL! MINHA PATRIA DESEJO-TE LIVRE!

Quatro tiros perfuram seu corpo.
Sem forças, porém não desistiu de carregar o estandarte, que caia ao chão.

Carlos estava morto e a bandeira tremulava ao vento, também ao chão.