A trilha
sonora do verão foi a voz de um piano quase cego e surdo, oco, sem pernas. Não
perca seu tempo se nada é o bastante para se manter vivo. Ninguém quer saber se
está assustado ou se está livre. Tudo o que você precisa saber está em suas
mãos.
A morte ainda é o grande mistério, e num ultimo sopro as coisas
se fundem, o irreal se torna a intensa realidade e realização, até então, o
mito se funde a vida e todos nós percebemos que somos feitos de pedra.
O som do piano ainda reluta estridente e cansado. Ele explica, ele chora, ele sorri e parte. Diz que a dor é real e que tem coisas
que o tempo não apaga. Ele apenas enxugou suas lágrimas quando elas caíram, ela
esteve lá quando tudo parecia desabar e ainda assim nada foi relevado.
Revela-se a dor contida, um assassinato ao corpo que não
chegará ao entendimento da mente. Ele não sabia como afastar. Fechou os olhos e sentiu como
se sua alma fosse arrancada, estava apenas de coração partido.
Ainda lembrando-se
como foi viver sozinho num lapso, olhos arregalados, sente frio.
Caminhou
descalço pelas ruas úmidas. Fazer o corpo reagir, o desfibrilador já não podia
mais queimar os neurônios. A cada pulso, a cada passo apenas fazia o sangue
jorrar, no fim, esfaqueado, deitado como caíra.
Uma estrela se apagava no céu
enquanto a chuva molhava um rosto.
Encontrado já sem brilho nos olhos, o piano estava triste, sem vida, sem música, sem harmonia e sem pianista.