Naquela telinha do lado de fora
(aquela telinha digital onde se sinalizam os andares) no térreo, podia-se ver
os andares quatro, cinco e seis se revezando, quarto andar... Quinto andar...
Sexto andar e descia para o quarto novamente, subindo ao quinto e para o sexto
outra vez.
Dona Clementina olhava para
aquilo e batia o pé no chão, esperando que o elevador viesse ao térreo ou que o
mesmo caísse no fosso com o autor daquela proeza. A velhota não agüentou mais,
memorizou os andares, subiu pelas escadas e parou no 4º andar, tinham uns cinco
metros que a separavam da porta do elevador e logicamente do mal-feitor daquela
brincadeira.
As portas se abrindo, ela pôde
ver o braço do Silva (o
faz-tudo da empresa, geralmente o que varre, limpa, conserta, pinta, cava,
tampa, sepulta, reza, dirige, busca as coxinhas da sexta, a mortadela da terça
e passa o cafezinho todo santo dia. Há, ele também ganha pouco), correu mais que podia com suas pernas já desgastadas pelo
tempo de percurso (alias, a velhota já fazia hora extra), coitada não tinha
mais aqueles pulmões de alguns 30 anos atrás e suas pernas pareciam um
emaranhado de veias e vasinhos, era peluda também, mas isso não vem ao caso.
É lógico que não deu tempo. As
portas fecharam antes mesmo de a velhota pensar em gritar.
Ainda podia observar o andar que o elevador pararia.
Lá foi a nossa cascavel correr atrás do elevador. Enquanto trombava com Sr.
Meinfuhrer que lhe perguntava:
- Você esta se divertindo correndo
pelas escadas? Nesta idade que esta,
pode correr sérios riscos subindo os andares naquela pressa e alias deveria
usar o elevador.
Dona Clementina só não foi estúpida
com o Patrão, pois perderia o Silva e o elevador.
Ela ainda corria escada acima,
esperando chegar a tempo no 6º andar, para pegar o brincalhão, mas não teve a
tal sorte que pensava. O letreiro digital do elevador já apontava o 5º andar
novamente, para desespero da nossa senhora.
Descendo as escadas, ela
novamente trombou com o Sr. Meinfuhrer que desta vez afiou suas garras e estava
possuído, dizia:
- Você deveria cuidar da saúde em
outro lugar, pois além das escadas serem para transito dos funcionários a fim
de cumprir os papéis de seus ofícios e não para que os mesmos fizessem cooper durante
o expediente, imagina se a moda pega. O Silva, aquele vagabundo em trajes de
corrida, shortinho, meias até o joelho, tênis branco, munhequeira e todos
aquele aparatos, seria um carnaval né.
A senhorita mais velha já
caminhava sem esperanças pelo saguão quando trombou o ascensorista, o mesmo
cabisbaixo não parecia bem. E disse à dona Clementina:
- O Silva me expulsou do meu próprio
elevador, o que será de mim agora, me diz o que será de mim?
Comovida com a situação, ela saiu
correndo novamente, mas o esforço foi em vão, o Silva estava em frente ao
elevador, passando um pano no chão. E já chegou chegando, descarregando todas
as magoas daquele dia:
- Ora seu projeto de faxineiro, o
que pensa que estava fazendo neste elevador? Isto é um lugar sério, para
utilização de todos nós, com que direito mandou o pobre amigo sair de seu
posto? Seu infeliz.
Silva sem entender muita coisa,
apenas dizia:
- Estou limpando os botões do
elevador e aquele numero seis tava dando um trabalho. Não sabia muito bem quem
escreveu nele “Aperte aqui”, mas demorou pra sair. E ainda quebrei o vidro que
dizia, “em caso de emergência, quebre o vidro.”
Dona Clementina:
- E por que quebrou o vidro?
Silva:
- Deu uma dor de barriga lá em
cima, quebrei o vidro e me caguei todo. Emergência que nada aquele vidro
mentiroso, mas a sinhora num se preocupa não, já limpei tudo.