quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Drogas, conteúdo sexual e linguagem imprópria

A casa estava cercada, era noite, quase dia, na linha do horizonte o Sol se erguia entre as plantas mais altas. Fizera frio na madrugada, o que também era um fator de dificuldade para os que estavam ali aguardando a abertura das portas já que um nevoeiro tomava conta dos arredores. O sentimento de solidão unido ao cansaço do trabalho apenas reiterava aquele nevoeiro que insistia em tomar conta da área externa, do telhado e passar também pelas frestas da janela e das portas. Tudo estava gelado e o fogo da lareira sem alimento sobrevivia em uma brasa, pequena, cintilante com um brilho calmo, digno de algo que esteve ali a noite inteira e necessitava-se findar. As poltronas velhas rebatiam o ar frio que entrava pelas frestas e até os animais que por hora se aqueciam em suas posições, estavam procurando uma saída, mas não havia movimento naquele lugar. A névoa permanecia intacta como se fosse uma entidade maior, como se fosse algo consciente.

Não havia ninguém em casa, não havia calor, nem fogo e muito menos luz. No limiar de uma existência, um cachimbo deixado ali há décadas, o fumo dentro dele já sofrera com a erosão e deterioração orgânica. As escadas, o teto, o abismo. Dentro de cada fibra da madeira que compunha aquela cabana existia uma história diferente e desde a muito tempo nada mais acontecia. Quando por um momento a porta abriu, uma fresta, todos ali ouviram o ranger das dobradiças enferrujadas e pelo movimento do trinco que estava emperrado a tanto tempo.

O caçador por sua vez acordava observava a névoa que cercava seu sítio, observava que todos tinham ido embora e ainda assim as memórias estavam guardadas em cada fibra da madeira de sua cabana. Não havia luz suficiente, não havia calor suficiente, não havia trinco, nem porta, a névoa que entrava pelas frestas estava ali por um motivo. A arma que atirava pela última vez encerrava um ciclo e delimitava ali sua dor, seu arrependimento. Seres sem rosto e nem roupas caminhavam em direção a entrada buscando abrigo, os animais que compunham a cena por hora estavam empalhados, surgiam em busca de suas cabeças. Os homens e mulheres aguardavam ali como quem aguarda em uma estação. Estavam sem bagagem, apenas aguardavam errantes pelo momento de cruzar os trilhos.

Naquele momento o céu abriu e a névoa se foi.