Ali parado, observando o buraco
negro a uma distância segura, observei que a anomalia ocorria no deserto de
eventos. Alcançar o centro, para nós humanos, era de fato algo irreal, feria a
nossa consciência, dignidade e moral. Seria um lançamento no desconhecido com a
consciência de que o retorno jamais existiria. Arremessar-se contra aquele que
era visto, porém desconhecido, foi apenas uma ideia impulsiva, que foi cumprida
com sucesso.
O mundo é sufocante dentro do
vórtice, do vácuo, os sons estridentes dentro de sua cabeça podem parecer cada
vez mais altos e quando se percebe são seus neurônios que estão em plena
combustão. Seus ouvidos não sangraram pois não havia pressão suficiente para
que o sangue escorresse para fora. A cabeça parece querer sucumbir ao abismo
enquanto os novos espectros são capturados pela gravidade, as ondas de rádio vieram
de muito longe e percorreram o espaço através dos ecos que perduraram por bilhões
e bilhões de anos entre idas e vindas do tecido escuro. A existência fora do
planeta Terra já era de fato obsoleta, não se acreditaria mais em uma espécie
de condição divina para que a vida perdurasse em ambientes tão hostis, o
próprio planeta Terra era de fato hostil, porém contudo, ainda preservava as
matérias primordiais para o avanço de seres dotados de inteligência a ponto de destruírem
a si mesmos, em resumo, Deus estava morto.
A dilatação temporal é ainda um
mistério para os seres humanos que nunca saíram do planeta azul, todos nós sabemos
que até mesmo na estação espacial os cosmonautas tem 7 dias dias em 1, logo,
imaginando que a teoria da relatividade de Einstein nos revela que os objetos
massivos distorcem o tempo de acordo com sua gravidade, a dimensão conhecida
como espaço tempo se desmembra em duas para nos explicar a que horas e onde
estaremos, mas, se tratando de horas, já entendemos que os nossos sentidos estão
aplicados a uma invenção tão inescrupulosa e impotente quanto esta capsula que
foi feita para a minha proteção. Aqui dentro deste que não denomino espaço,
universo ou algo do tipo, objetificarei apenas como, novamente, o deserto de possibilidades.
É inerte, é vazio, é estranho, obviamente inóspito e inalcançável aos olhos
humanos.
Hoje o tempo parou, ontem talvez
o tempo estivesse parado, talvez eu esteja aqui a muito tempo, talvez eu esteja
aqui por um piscar de olhos, o mundo cá deste lado de dentro do vórtice, tudo
parece não ter lado, é um sufocante e confortável vazio, sentido de todos lados
e formas, o próprio corpo convertido em luz se desfaz e se refaz, os olhos
propriamente ditos, fisicamente, se rebelam e em uma distração observam o todo e
o nada ao mesmo tempo. No meio do caminho existe também a consciência que não
se desprende do corpo, porém o corpo se converte em luz e a luz de uma forma
contínua se refaz dos mais variados formatos dentro deste deserto de
possibilidades, ela continua sofrendo os ataques da gravidade extrema e dos
pensamentos hora arrependidos, hora alegres pelas novas experiências e
descobertas que se convergem em um ambiente ainda mais hostil, a solidão.