terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Dona eis requiem - 1.0

O vento frio passava pelas frestas da porta de madeira. Tinha um aspecto de casa arrumada, rústica, de amarração estreita. Era aconchegante de qualquer forma. Nevava lá fora, os vidros das janelas por dentro aquecidos pelo fogo da lareira, hora estavam embaçados e hora derretiam a neve que caia sobre o meio fio da armação quadrada.

Um homem entra em cena, vestindo poucas roupas para o frio que fazia lá fora, não parecia se importar com a temperatura e trazia junto de si em seus braços uma corsa abatida pela nevasca, quase já sem vida. Deitando o animal frente a lareira, esticava as pernas na poltrona enquanto se alimentava e aguardava pela recuperação do seu novo amigo.

Num lapso, o animal convulsionava para seu fim até que o homem levantando-se esticando suas mãos por cima do ser sem vida enquanto recitava alguns versos criados por uma voz oculta, ela parecia recitá-los em seu ouvido enquanto ele apenas repetia.

Sentia-se um calor fora do normal durante o processo, uma energia percorria aquela sala e se revestia em cores púrpura e azul ciano, raios e luzes circulavam por entre os corpos em questão. A corsa levantou-se, assustada, revelando por trás do fogo um ser noturno, este olhou fundo nos olhos do homem, parecendo rogar-lhe algo. Enquanto recitava em sua prece:


“Este que dá a vida, é o mesmo que concede o fim. Caindo em descrença por seus mais íntimos pesadelos, este que vos ensinará o poder da cura é o mesmo que encarregará de sua morte. Pois eu sou o ceifeiro e te apresento o mundo nu e crú. Te apresento o mundo além dos muros, além da natureza, ou faz o que te mandam ou será prisioneiro para sempre deste que chama de Deus e de tudo o que te faz pensar que a ascensão do espirito está acima de teus atos.”



terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Pêndulo

Clara observava seu reflexo no espelho d’água.

De certa forma também observava todo o seu redor através das calmas águas, Clara inventou seu mundo dentro daquele lago e num piscar de olhos pôs-se a crer que o mundo fosse exatamente como o lado de dentro.

Acessando as águas claras, Clara transformava seu mundo novamente, mas até então, tocou o fundo do lago, ainda sem soltar o ar tão rapidamente percebeu que aquilo a pertencia. O mundo afora das águas claras de Clara não seria mais o mesmo mundo aconchegante, Clara sentiu frio, Clara tentou gritar e de sua voz, saíram bolhas, Clara claramente estava feliz com os peixes-lua, algas coloridas, sereias para lá e para cá e os peixes que Clara conhecia...

Clara nomeou cada ser ali dentro, deitada no fundo, as algas faziam cocegas em seu corpo enquanto ela apontava e ria dos peixes com caras estranhas.

Clara deitou-se no fundo enlameado do lago claro.  Ali se apoderou do mundo que a apetecia. Ela pensou em seus livros, seus amigos, seus namorados, claro que Clara era uma menina namoradeira. Tanto se diziam isso na vilinha perdida no meio das montanhas, que Clara era namoradeira.
Ao mesmo tempo, Clara estava só, se sentiu só ali no fundo do lago. Resolveu sair, mas era tarde demais, Clara deixou seu corpo ali, no fundo, com os peixes, deixou seu melhor vestido, enquanto fechava os olhos e pensava no número de escamas que um peixe daquele poderia ter, e, quantas tantas outras escamas poderia ter uma sereia.

Clara, estava maravilhada com a cena final errônea deste texto, é claro. No final das contas ela estava no aconchego do seu lar, enquanto seu corpo agora apenas flutuava pelas calmas águas. Clara se desprendeu de tudo, encontrou com outras pessoas que lamentavam o ocorrido, mas estavam no mesmo momento. Clara fez novos amigos. Clara conheceu novos meios de se viver... e de namorar.
Clarinha conheceu o seu outro lado da vida, do espelho d’água, ela não apenas conheceu como mergulhou de cabeça no outro lado, de fato.

Pode parecer triste o fato deste. Mas olhar mais de perto, crer que as vezes o melhor é encostar a cabeça no fundo das calmas e claras águas.

Ela descobriu um novo mundo, apenas ao fechar os olhos para o mundo que a cercava.



domingo, 4 de dezembro de 2016

Manutenção

Enquanto as metrópoles cresciam um universo surgia entre as escadas e elevadores dos arranha-céus. Ao observar a beleza do palácio do Kremlin, chegaríamos a cúpula da catedral de São Vito no Prazsky hrad, isso em Praga a cidade cortada pelo Moldava, sob os domínios ainda da Capela de São Venceslau. A beleza da tecnologia nas torres Petronas nunca mais seriam porém um empecilho para uma sociedade que mataria seus ídolos e entrepostos do momento em que a catástrofe nos trás os funerais.

Um mundo de luto e a natureza não sessa, sem piedade, abismos simplesmente brotavam. O homem não haveria de ter, apenas, entretanto, piedade de seus próximos. Em vista a larga escala que se constrói tantas outras estações de metrô, ou mesmo passo em que o mundo se afunda. Sempre haverá aquele que dirá, profanando e doutrinando uma nova religião, seita, credo ou simples fatores mundanos, que delicia.

A mente humana se molda, se cria e sempre encontra uma outra forma, ela se reinventa a cada dia, desde o nascimento até a morte. E a morte, a morte sempre encarada como algo complicado. Eis um funeral, eis uma vida cruel, eis um momento de frieza quando você se dá conta que ao saltar do Burj Dubai, dá-se tempo de pensar qual o propósito da vida, que aliás, sabemos que tudo o que se construiu, sempre haverá de se ficar para as próximas gerações. Edifícios caem, em uma fábrica de poder.

Produzimos bugigangas faraônicas para que a simplicidade de nossos filhos destruam conceitos básicos de sobrevivência. Além do mais, pensando bem, qual é o sentido da vida?
É impossível. É linear. É catastrófico. É bonito. É ressurgido. É rebuscado. É chato. É imposto. É forçado. É real. É irreal. É momentâneo. É formado. É desejado. É longo. É vago. É obtuso. É entregue.

“Em todo caso estarei pronto pra um funeral
Em toda ocasião mais uma vez chamada de funeral”



Não feche a porta. Tudo é uma questão de perspectiva. 

Perpetue.


quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Notas de um epitáfio

Cara,

Dia desses me disseram que perdoar faz bem para a alma, ela se descarrega de forma a não ter mais o peso do rancor que a corrói, ela não mais se dilacera com uma simples lembrança. O perdão por si só, já é algo bonito quando falado em público mas não venho ao público por simples status ou imagem, espero de coração que leia esse texto e carregue isso para a vida.

Lembro de ter tratado você como um pai trata um filho, rimos juntos, paguei a sua conta, dei o que eu tinha de mais precioso e de mais bonito em mim, a minha caridade. Não sinta-se menos por isso, ser alvo de caridade não te põe para baixo ou me enobrece, apenas nos coloca em um patamar onde eu tive empatia por sua pessoa e por seus anseios. Eu perdi a calma quando te vi em situações adversas e fiz o possível para alegrar o seu dia, neste tempo em que compartilhei da sua amizade de um jeito mais puro, eu fiz o papel que talvez nem o seu pai fizesse. Te levei nos lugares e permiti que acompanhasse nos lugares que frequentava, eu olhei nos seus olhos e te aconselhei quando precisou, você fumou todos os meus cigarros quando precisou, você dormiu em minha casa e mantive todas as minhas fichas em você quando ao cruzar aquela porta percebi que algo errado acontecia e pode crer, eu estava certo.

Você não só pisou na merda como passou o pé em meu rosto enquanto em dormia. Você foi traiçoeiro e não soube domar seus instintos, no pior momento da minha vida, vi tua face e tive vontade de te matar, tive vontade de te jogar na frente de um carro, tive por um momento um simples prazer pela sua morte.

Não sei se o perdão vale alguma coisa tanto para você quanto pra mim, eu sei que fizemos pessoas chorarem, eu sei que negamos uma parceria que talvez tenha existido só para mim. Ao se deparar com os estilhaços que tudo aquilo causou eu sei que no fim não valeria a pena brigar, não tinha importância a sua ação, mas me importava o quão bom eu considerei as minhas ações e talvez para você nada daquilo tivesse mero sentido ou necessidade de ser feito.

Eu sei, eu tirei a comida da minha boca para te dar e você simplesmente preferiu cuspir para longe, talvez foi o melhor que você podia fazer com a confusão dentro da sua cabeça.

Não espero que venha conversar comigo, nunca mais, hoje considero este assunto enterrado, logo eu que demoro a processar as coisas. Mas hoje meu peito estourou com uma felicidade tamanha, que nenhum rancor mais caberia nele. Você morreu, eu morri, nós fomos amigos e hoje não mais, não espero que reconquiste isso, pois eu não procurarei reconquistar.

Mas, como um pai, hoje te perdoei, hoje eu disse adeus a esse calo no meu sapato, hoje você sumiu do meu pensamento, hoje eu tenho certeza que você não existe mais.

Hoje eu disse:
- vai filho, voa.

"Que a música que ouço ao longe. Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que amo seja pra sempre amada. Mesmo que distante
Pois metade de mim é partida. A outra metade é saudade."



domingo, 14 de agosto de 2016

A relação de Picasso nos tempos de hoje

Os quadros e espelhos tinham nome, algo que não se parecia com alguém ou não lembravam nada. O mundo estranho era como se uma vida inteira tivesse se estragado e não falo apenas de vidas e sentimentos, descrevo o orgânico. O mundo estava preto, como num Guernica. Sofrimento, animais meio gente e tudo meio a meio. Algo acontecia no mundo nas vistas de um cidadão que apenas sentado em seu leito após o despertar, entenderia que abrir os olhos e manter-se vivo não seria o suficiente.

As plantas negras, secas, remetiam ao carbono. Não foram queimadas ou atingidas por grandes temperaturas. A erosão deu-nos a resultante, no fundo, o ar, a água e a terra são degradantes elementais. 

Algo na matriz se moveu, senti como se uma rajada de vento tocasse meu rosto neste dia em que olhei para o mundo de uma forma mais descritiva. Os quadros pendurados, milenares, seculares, eu me senti num barco a velas, à deriva. 

Os espelhos agora descobertos mostravam que o mundo invertido não nos mostra muito mais do que o tempo em modo rewind. Não pensavam em outras formas de vida ou até mesmo um jeito de quebrar o formato padrão de vida. Em termos mais tenebrosos, findar a necessidade e manutenção da escravidão humana.

Um nome, um véu, negro, ainda, porém, ascendia na janela do sexto andar, sozinho em meio ao ar atmosférico. A causa mortis não revelada criava todo o processo de regressão onde as lembranças se tornavam perturbadoras. Seres de pernas longas e corpos esguios, cabeças grandes e dedos compridos. Ambos jogavam Xadrez numa tarde de inverno no parque da cidade, algo que lembrava hora o Central Park, hora a Red Square... Num jogo totalmente amigável até que a torre foi tomada, trazendo certo ar de angústia de um lado e vingança de outro. Neste momento, via-se o Kremlin ao fundo. 

Uma rainha deposta após o sacrifício da torre, tornou o reinado bem mais complicado, agora em vermelho, puro sangue contrastava a neve que caía em Moscou.


O rei manteve-se em seu lugar até que a força o remeteu para baixo.


terça-feira, 19 de julho de 2016

O Retorno de Saturno e Kafka

Este texto nada tem a ver com a música composta pelo Luiz Guilherme Araújo, o então vocalista da banda Detonautas denominado então Tico Santa Cruz. Este texto tem a ver com você que vive no meio fio entre a faísca e a explosão. Com vocês: O Retorno de Saturno e Kafka.

Façamos um exercício de reflexão:

Pense em linhas, espirais, formas geométricas. 
Pense em uma parede.
Pense em uma caixa.
Pense em cores.
Pense em uma bailarina.
Pense em um sentimento.

Pegue todas as formas pensadas e coloque na caixa, chacoalhe a caixa com o sentimento que pensou, coloque-o em sua cabeça enquanto movimenta a caixa e abra enquanto chacoalha. Pense no respeito zero pela gravidade, inclua neste exercício o vácuo. Pense na lei de Murphy, some as possibilidades cabíveis e agora pense na cor das formas saltando da caixa e voando pelo cômodo no qual você situa. Pense agora nas cores que saíram da caixa e sobre todas as cores que compõem o todo. Quais as formas que se chocaram na parede? Quais as cores que predominaram neste exercício? Qual a cor da caixa? Qual o seu sentimento? Como foi o movimento utilizado ao movimentar a caixa? Algo foi quebrado? Algo ficou errado neste exercício? Pode utilizar o link de compartilhamento criado no Facebook sobre este texto, pode utilizar os comentários, quero suas respostas mais sinceras. Vou aguardar.

No mais, pensei ontem sobre algumas coisas e descobri que na minha caixa estavam mais que formas, linhas e espirais, resolvi dar fim, coisas velhas e mal acabadas, tive a certeza que havia algo por trás de toda essa conspiração. 

É a TV, é o rádio, é a mídia. Não há mais tempo ou ideias, não nem mesmo abrigo para se esconder. Somos mais uma vez vítimas de nosso próprio destino e hoje me vejo em um barco a velas, navegando ao sabor do vento, é possível que eu atinja longas distâncias assim como é possível que eu reconheça que morrerei à deriva. Eu sei que no fim a morte é inevitável e que eu jamais serei apenas um alvo fácil, não é do meu feitio me manter inerte e nesta vida me comprometi com o improvável. Meus votos são e sempre serão de revolução e ela começa em mim. O mundo que eu quero, é um mundo livre, em paz e sem o vitimismo característico. Sejamos menos bundões, nós somos o povo, os trabalhadores, os homens de boa fé. Nós detemos do poder! Creio que a hora chega para todos e que as vezes não vale a pena dar a cara a tapa por pessoas que não se movem, mas, o mundo precisa de mártires para seguir com sua história de pessoas que fizeram algo para mudar.

Não é de hoje que o mundo permanece o mesmo, é desde sempre que a vida segue e o curso natural é o descaso.
Você tem filhos?
Você se divorciou?
Você já se culpou por isso? Por se divorciar, claro. Sim?
Você caga de porta aberta?
Você mija na tabua?
Você cozinha para 5? 6? 10? Só para você?
Você chuta gatos na rua? Você cuida deles e xinga quem maltrata?
Você vive só? Tem família?
Você é religioso?
Você pensa?
Você traduz?
Você corrige?
Você aguenta o tranco?

"Você não é do Castelo, você não é da aldeia, você não é nada. Infelizmente, porém, você é alguma coisa, um estranho."

No mundo existem duas pessoas, as que se preocupam com os interesses alheios, estas são por vezes fofoqueiras. E, todavia, existem as pessoas que se preocupam com seus próprios interesses, estas são as egoístas. Se se sentiu mal pelos termos usados, precisamos pensar quais as suas prioridades e o quão você liga para estas palavras. Continue pensando, talvez no fim disso tudo, valha mais a pena pensar em si mesmo, pode ser até que você seja alguém, pode até mesmo ser que eu não seja nada e talvez, porém, sejamos tudo e o todo. Levando em conta que o Sol é o que nos aquece e ele não chega a ser nada comparado a imensidão do universo. Sabemos que somos o universo de alguém ou "alguéns", sabemos que estamos no universo e que este universo dito infinito, pode ter fim e ser exatamente outro sistema em algum outro lugar considerado relativamente pequeno. Lembra-se de Murphy? Cálculos quânticos apenas nos mostram e demonstram o quão infinito pode ser algo e nós apenas somos pequenos demais para conhecer e limitar a relações e religiões.

No fim, somos nada e toda a reflexão serviu apenas para nos divertir durante este curto espaço de tempo em que eu escrevi e você leu. 

Muito obrigado e que a paz esteja com você. 
Blessed be.


quinta-feira, 16 de junho de 2016

Ah, look at all the lonely people

Franz ainda adorava surpresas, queria voltar de sua empreitada muito antes, ele era um soldado real, de cavalo branco. Franz a esperava no lado Leste da montanha, Franz queria voltar antes, Franz não sabia mais o que fazer sem Rigby nos montes gelados e inóspitos do sul. A melhor ideia que ele teve, de longe, tatuou a silhueta de um pinguim em seu abdome definido, no bicho estava escrito “Rigby”. 

De dentro desta tatuagem saia um arco-iris que buscava por Rigby a cada 20 minutos do dia. Sem saber, a moça atravessou a montanha pelo lado Oeste, (SIM essa história de amor tão bela estaria se desencontrando justamente na hora do encontro), Franz deixou tudo pronto em sua casinha no pé no morro, inclusive tinha alguns panos de prato para que Rigby cozinhasse todos os dias e mantivesse a louça limpa, assim como vassouras feitas de folhas de bananeira, para que ela varresse tudo e arrumasse as camas, lá tinha rede de celular, mas pegava mal.

Por um acaso do destino, Franz enquanto recolhia lenha para o forno que Rigby acenderia todas as frias manhãs enquanto Franz simplesmente despertava embaixo das cobertas, viu um ponto preto de distanciando rumo ao nada, quando correu o máximo que podia, deixando tudo no chão. Rigby estava acompanhada.


Sobrou até para o pinguim, este foi arrancado junto com todo o orgulho que cobria Franz, na mais bonita forma de amor, ele fez a comida, limpou os pratos, limpou o chão e fez as camas que os 3 dormiram. Num aceno, ele estava de avental, pantufas bem fechadinhas, ela seguia sozinha acompanhada, não entendemos muito bem qual o fim disso, mas só havia um problema nisso tudo, ela ainda não tinha visto os pés do moço (El Hermano que diga).


quarta-feira, 15 de junho de 2016

All the lonely people, where do they all belong?

Numa dessas reações inesperadas ela cantarolava uma canção (com o perdão da palavra) meio bostinha, dessas que a gente só canta quando está apaixonada e isso era um problema para Rigby, a sorte é que ele estava longe, bem longe, pelo menos em tempo ela estaria a salvo. Os mais renomados pesquisadores que se aventuraram em desbravar a mata fechada que guarda seu tesouro, não voltaram sãos ou normais, uns, inclusive hoje amargam o sabor da liberdade de um quarto escuro com portas e janelas trancadas por fora. Muitos agiram com bravura ao saltar por lâminas, resolver puzzles mortais e lutar contra um monstro de 8 braços armados com 4 escudos e 4 espadas.

Após lutar com tudo aquilo e saber que a caixa do tesouro estava a sua frente, uns comemoraram, outros surtaram, outros até sentaram-se sobre o baú para tomar um ar, uma água, champagne, vinho, fumaram cigarros enquanto idealizavam entre todos os prêmios que um homem poderia ganhar de uma mulher e por fim a senhora Rigby surgia em meio ao cenário afastando o cara (que com cara de pamonha observava a cena e a facilidade com que ela entrava e vasculhava o self) mais para o lado enquanto surgiam as luzes, black-out, luzes, black-out, luzes, FOGO! Entravam as garotas, a bateria dava o tom, “tu dum tss”, outro comercial de cerveja apresentava o quadro, “SONHO, REALIDADE ou CONSOLAÇÃO”. 

Surgia o apresentador: 
- Um sujeito esguio, com vestes brancas, cabelo meio black power, grisalho, gravata borboleta, lenço no pescoço e óculos aviador com lentes pendendo para o pink. 

Mais 3 baús apareciam no palco e o cara teria que escolher um para levar seu prêmio embora, ele escolheu sem delongas já que estava com pressa de voltar. Ela abria o baú (com aquele sorriso de dançarina do Faustão) e mostrava que não havia nada no interior mas, por sorte (que sorte) do concorrente, o apresentador enquanto atendia seu telefone e falava um "castellano" meio lá meio cá, traduzia para a platéia indócil e fervorosa : 
- O que, ele tem mais uma chance!? Certo! Mais uma chance para o nosso Iron Man!

Enquanto Rigby fazia as unhas, sentada junto da platéia, ele escolheu mais um baú e naquele, também não tinha nada e mais uma vez o luminoso “RISOS”, “GARGALHADAS”, “HU3”, acendia até que a platéia defecasse e urinasse no palco de tanto rir. De repente virou uma guerra no talk show mais famoso da TV Rigbyana. O cenário foi tomado pela produção que insistia em transmitir o acasalamento dos pinguins pois achavam que era mais educativo do que estes realities que já estavam na Décima Sétima edição (convenhamos que o jogo dos baús era bem bolado).

Após o episódio, ele poderia ainda escolher o prêmio de consolação que isso incluía um copo da cerveja do patrocinador, ou, uma pizza, ou papel higiênico. Ele estava simplesmente estático no meio do palco e muitos teriam pena, ele parecia estar em um lugar gelado, na companhia de 2 metros de neve, caído de cara enquanto um pinguim surgia correndo pelas estradas: "Asinhas abertas e bico para a frente como se fosse voar".



terça-feira, 14 de junho de 2016

All the lonely people, where do they all come from?

Rigby e Franz era o típico casal virtual, já haviam se visto mas nunca se tocado de forma a conduzir um relacionamento. Rigby era dura na queda e Franz todo coração. Eles existiam, ela já era mãe e ele queria mais, algo impensado na vida da moça que virava monstro durante o período, não era culpa dela, diziam os mais sábios e ex-combatentes, ou vulgo, ex-namorados, ex-maridos, ex-médicos (uns morreram, outros vivem por aí, na boemia ou trancados em um quarto escuro após enlouquecer). Ela tinha uma bravura sem igual e sonhava com tudo o que fosse possível sonhar e o que não fosse possível ela inventava. Assim vivia Rigby, não tão sonhadora com um casamento quanto na música dos beatles e também não tão misteriosa quanto o padre Mackenzie e seus sermões.

Apenas entendemos que no fim disso tudo, alguém estará limpando as mãos e outro no túmulo. Ela sonhava com o típico cara que a levaria dali para um local mais agradável, menos frio, menos extremo... Ele pensava em atividades junto ao dito “meidomato”, ela amou a ideia a principio, mas achou (com o perdão da palavra) meio bosta, por compartilhar de um lugar tão belo mas, sem internet, sem banheiro comum (para os padrões ocidentais), sem eletricidade ou qualquer coisa que remeta a cidade e suas facilidades, a ideia era produzir com as próprias mãos, inclusive o papel de limpar a bunda (ou então lavar na pia do banheiro (que banheiro)). Ela não estava muito feliz com a ideia e disse isso a Franz que se rebaixou a ela, por amor, desejo, ou qualquer coisa que pareça.


Sim, mais um a se ajoelhar diante da grande, educada, bela e teimosa Rigby. Era assim que acontecia durante os shows (ops, relacionamentos), começava fofo, geralmente com anéis e flores que a linda Rigby jogava fora ou debochava (na cara do sujeito, além de tudo, Rigby é uma moça polida), não era por mal, juro, mas as histórias contadas a partir da ótica e senso de humor da pequena Rigby era de se contorcer no chão de tanto rir. E no mais longínquo ponto de equilíbrio entre a razão e o coração, Franz fazia os mais absurdos acordos e propôs inclusive sua alma em troca do amor de Rigby, neste momento o luminoso “RISOS” acendia e a platéia da cabeça dos ex-combatentes ia ao delírio. Após 10 segundos de riso e felicidade, tocava uma musica alegre e as garotas vestindo trajes menores entravam em cena apresentando a nova marca de Cerveja e os patrocinadores.


quarta-feira, 8 de junho de 2016

Ah Se Não Fosse o Amor - Lirinha

A minha ilha não existe mais
Será que o mar já percebeu
Ela desapareceu
Há se não fosse o amor
Pra recolher o óleo que vazou

Mas ninguém viu a marca no meu corpo
Como é que pode alguém entrar
E dentro se desmanchar?
Nunca esqueça as oferendas
Quando contar na rua as nossas lendas

Mudei pra laje de um prédio vermelho
No alto é sempre bem melhor
Pra quem vive só
Ah se não fosse o amor
E a força incrível do seu reator

Dentro do mar o velho marinheiro
Na sua orelha um brinco de anzol
Brilha seu brinco no alvo do sol
Brilha seu brinco no alvo do sol

Chamei você
Mas você não veio
Eu entendi que era normal
Nada pessoal
Ah se não fosse o amor


terça-feira, 7 de junho de 2016

Viagem astral

Entre os canhões e trincheiras caminhei entre os escombros com você em meus braços, seus olhos estavam cheios de esperança. Certas horas em que eu precisei de todo o meu vigor físico ou quando utilizei minhas mãos para empunhar um rifle encontrado junto aos corpos no chão, você foi de cavalinho, numa dessas mochilas grandes e confortáveis por dentro, sempre sendo meus olhos e chamando-me de papai, a hora que você teve medo, foi exatamente quando eu me virei para protegê-la dos tiros que viriam.

Em meio aos pallets, pedras, corpos, templos, glórias e devaneios a noite caiu, nos escondemos em um lugar puco claro, troquei sua roupa, lavei seu rosto e te vesti com algumas vestes que haviam por ali, engraçado como você não deu um pio, conversou comigo como conversamos no aconchego do lar, beijou meu rosto com o mesmo carinho de sempre, te abracei e segurei as lágrimas, elas vieram enquanto eu te via dormir. Adormeci também, após te cobrir.

Acordamos com uma bomba, ao longe, era noite ainda, você estava exausta mas eu sabia que precisávamos seguir viagem, sair dali com vida. Com todo cuidado te embalei em meus braços, ainda enrolada na cobertinha que carregamos no ponto de partida, tínhamos algumas frutas que guardei, seria a nossa sobrevivência, deixei até de comer para que nada te faltasse, estávamos no terceiro dia de busca por um local seguro.

Sei que parecia incorreto da minha parte, mas seria necessário atravessar o front e ir em direção ao mar, lá entraríamos o primeiro barco para o abrigo, nos refugiaríamos até que aquilo acabasse, rifle carregado, pendurado em meu ombro e você descansava. 

Enquanto acordava, fazia frio naquela madrugada, inicio de manhã. Vi os aviões rasgando o céu e sumindo no horizonte. Subimos num ponto alto, eu precisava observar além das ruínas. Pedir ajuda naquele momento não era opção, não sabíamos quem estava do nosso lado, ali, naquele momento, você tinha a mim, eu era o seu abrigo, comigo você estava em segurança.

Amanhecia com o Sol entre as nuvens, a luz clara e encoberta anunciava que a chuva chegaria cedo ou tarde, interrompendo, por hora, a nossa caminhada. Olhar pela janela da casa parcialmente destruída pelas bombas nos dava pouco mais de 3 metros de segurança. Ouvi passos e nos escondi você olhava para mim, apreensiva, segurou o choro, vi nos teus olhos o pavor estampado pela primeira vez. Pressentiu algo que eu não soube identificar, mas não tive dúvidas em te aconchegar entre as pedras da parede destruída e apontar para a única entrada possível. Eu estava olhando para você e ao mesmo tempo conseguia perceber qualquer movimentação, estávamos na penumbra a qual favorecia a nossa posição. Os passos pareciam ter pressa, falavam outro idioma, imperativos, o som foi ficando mais alto, até que diminuiu gradativamente. Passaram, estavam mais longe. 

Era o momento de sair dali, estávamos no meio do fogo cruzado. Olhei me esquivando, enquanto você ainda sentada nos tijolos quebrados comia meia banana que estava na mochila. Preferi desta vez te guardar, a mochila era grande, confortável, te acolhia como os meus braços. Você sabia que o momento era complicado, você disse inclusive que queria ir pra mochila, acho que parecia uma diversão e sua cabecinha de 3 anos queria brincar.

Corri o mais rápido que pude quando em campo aberto tivemos uma surpresa, rajadas de metralhadora, eu simplesmente pude correr, meio sem rumo, meio sem porque. Poderia ter me jogado no chão, mas por 1 milésimo de segundo achei que pudesse feri-la, pensei que poderiam nos encontrar, que algo ruim aconteceria. Por sorte nenhum tiro nos acertou e atravessei. Ao chegar no outro lado, atrás de uma árvore, abri a mochila e você estava ali, sorrindo, parecia ter gostado da brincadeira, da chacoalhada que rolou ali dentro. 

Enquanto tirava você dali, você pedia, “papai, quero água”, abri o cantil e deixei você tomar o quanto quisesse, se esbaldar. Logo após, descansávamos sob aquele céu sórdido e inimaginável, eu pensava em como tirar a gente dali, você comendo os pedacinhos de maçã que eu cortava aos poucos. Eu sabia que os suprimentos estavam acabando e que ficaríamos sem comida no dia seguinte, era necessário levantar e partir, enrolei mais uma vez você nos panos que tinha e desta vez fui te abraçando enquanto apertava minhas bochechas. Te coloquei no meu ombro deitada; e durante a caminhada, adormeceu.

Estávamos a pouco tempo de chegar ao destino e a nossa missão ao fim. Você acordava enquanto eramos socorridos pelas tropas aliadas em missão de paz.

Te dei banho, comida, e enquanto guardava teu sono sentado numa cadeira, fumando um cigarro olhando o mar, algo me chamou atenção. Arrumando as tralhas na mochila, meus olhos se enchiam.

Um furo de bala.

Você e eu, intactos.

Dedico a mocinha que amo tanto nessa e em outras vidas.
Papai te ama, nenê!



terça-feira, 24 de maio de 2016

Calvin Cristo

Nestas andanças pelas cidades em que passava, concordava que o business era essencialmente o grande ápice da viagem. O Networking ainda se fazia complicado pelo idioma disléxico, por hora, translúcido. Limpo, concordante era o mesmo que olhar num espelho e repetir a mesma palavra com diferentes tons entre  os vícios que continham as ruas cheias de gente.

Afirmam que o primeiro Sultão otomano teve um sonho profético, onde surgia em seu peito, uma lua e uma estrela, que se ampliaram, num presságio da conquista da dinastia de Constantinopla. Mais tarde, com a queda de Constantinopla às mãos do Sultão Mehmed II em 1453, foi visto no céu, uma lua e uma estrela, cumprindo assim, o sonho profético do Sultão.

A lenda mais aceita pela população turca, é a que conta que Mustafa Kemal Atatürk, o fundador da República turca, caminhava pelo campo na noite seguinte ao combate vitorioso durante a Guerra de Independência Turca, e percebeu o reflexo da lua crescente e da estrela sobre um vasto fundo de sangue no terreno de uma colina de Sakarya, surgindo assim, o significado da atual de sua bandeira.

Germes, cheiros, sabores, bactérias. Na divisão entre o oriente e o ocidente, Marmara enfrentava os barcos a motor e as gaivotas. No alto do prédio, um ninho; Pai, mãe e filho, ambos lutando pela vida, dia após dia, até quando as partes de metal se chocavam com o contraste entre as mesquitas.

As torres anunciavam a oração e as luzes da noite mantinham tudo em seu devido lugar, paisagem bela vista de um mirante solitário, apagado, escuro. O povo lá em baixo, misterioso não só pelo idioma, há algo neles indefinível, há algo indefinível em tudo.

Os carros  e as luzes pulsando diante do vento que não dá trégua. Os pássaros anunciavam um novo dia, os bondes passando por entre os templos ainda acesos mostram que o sol é apenas um mero detalhe na bela Istambul. 



quinta-feira, 28 de abril de 2016

Devaneios - Parte 2.7 - Entendimentos de uma mente compreensiva e não compreensível

Dizem por aí que a vida é composta de momentos, outros vivem de passado e outros ainda fazem planos e mais planos. Uns falam de amor da mesma forma que falam de mulheres/homens nu(a)s ou então falam de amor como se pede um Fast-food. Dedico aos poetas que utilizam a palavra e o pensamento ao mais assombroso do ser humano, o submundo que compõe o simples e objetivo cérebro. Desta forma, pense que vivemos numa sociedade em que acordamos e pela primeira vez no dia respiramos conscientemente o ar que o mundo nos serve, nutrido com o oxigênio que as árvores produzem durante todo o dia, juntamente aos raios de sol que simplesmente iluminam todo o processo de composição da rotina. Possuímos um modus operandi simplesmente fantástico e ainda temos tempo para pensar em o que nos move. O que compõe a nossa física quântica para que simplesmente nos impulsione a levantar cedo para uma corrida matinal ou então para ficar mais 5 minutinhos na cama, o que nos mantém presos as pessoas ou o que nos afastam delas. Costumo dizer que isso se chama, o acaso. Já parou para pensar em quanto tempo vive uma estrela e quantas são as possibilidades de que elas se choquem, se transformando em novas composições no cosmos. Nunca parei para pensar o quanto podemos nos perder nesta linha ao mesmo tempo que em uma centelha de tempo, agora mesmo, a vida lá fora não para. Os pássaros voam para lá e para cá, buscam comida, buscam parceiros, buscam coisas para construir suas casas, ninhos... As pessoas andando na rua, somos os únicos seres viventes e comprovadamente falando, que temos o ócio em nosso vocabulário, já se pegou caminhando sem rumo por aí, sem que a vida te desse algum afazer? Por mais difícil que seja pensar nisso, mesmo que tenha ficado parado apenas observando o ambiente, este foi um momento que nesta centelha do universo, você ficou no ócio. Voltando ao assunto principal, como diria Raul, cada homem e cada mulher, é uma estrela... Nessa dança cósmica onde os astros conspiram e simplesmente agem sobre nós de forma aleatória, qual a chance de duas pessoas se juntarem e se mostrarem afins das mesmas coisas. Não responda, apenas pense, cara, como meu finado avô foi sortudo de encontrar a minha avó, formarem uma família e seguirem juntos até que a morte os separou. Como meus pais tiveram essa sorte? Hoje o ser humano não liga mais para este tipo de coisa e estes momentos são mais raros, mas, porque são mais raros? A explicação viria da expansão do universo? A explicação viria nas infinitas possibilidades que uma pessoa tem hoje para seguir sua vida? Você acredita em destino? Hoje não somos mais os mesmos que ontem, o ar que a gente respira nunca é o mesmo, a química de composição corporal de uma pessoa varia de acordo com os átomos que compõe a célula, compreende que nada que sentiu a 5 anos atrás você sentirá novamente, até mesmo pela sua compreensão do espaço-tempo, é diferente simplesmente por ser novo, o que aconteceu foi um milagre que aconteceu pelo tempo necessário para se tornar inesquecível. Acontecer novamente, nem voltando no tempo. Pelo mesmo motivo de que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, pelo mesmo motivo que duas estrelas que se chocam na malha do universo, não se chocarão novamente. Tudo é novo a partir do momento que o presente se torna passado. O que você lê agora, é velho, seu ponto de vista mudaria lendo outra vez este mesmo texto. Um piano de fundo, Coeur de Pirate, belíssima a jovem Beatrice Martin deu origem a este texto. Que o passado lhes seja leve e o futuro seja modificado a seu bel prazer, entenda, tudo é mutável e tudo está em nossas mãos. Parei no tempo para esperar que a vida me trouxesse você e de repente eu mesmo te coloquei para fora dela. Eu não me preocupo, fizemos um bom trabalho. E que o satélite nos seja leve, que as cruzes não nos preocupe e que as parabólicas se mantenham captando os sinais. Quanto a mim, estarei no limbo, este me pertence, assim como a névoa que cobre a cidade de Oymyakon/RUS, aqui o gelo invade as casas e dá a impressão de querer nos expulsar do local. O que posso dizer sobre o céu, as estrelas e o universo, se tudo o que tenho são suposições, por mais que estudem, também o serão.


Olympus Mons won’t you never be… 


domingo, 24 de abril de 2016

Quem sabe isso quer dizer amor

Primeiro saiba que todos estes cigarros são culpa sua.

Daquele dia em diante que olhei nos teus olhos, você me disse alguma coisa estranha que a minha alucinação não permitiu que eu compreendesse. Eram versos, versos deturpados pelo meu pesaroso momento de reclusão. Eu estava exilado em meio a sinapses e meias verdades, meu corpo respondia cruelmente aos meus comandos, era leve, bem leve, era claro, bem claro, um sussurro era como se eu estivesse submerso. Num momento de extrema confusão eu ouvia teus gritos ecoando dentro da minha cabeça, teus versos.

Suas vestes levemente amarrotadas dignas de final de festa, apenas faziam com que meu transtorno se roesse por dentro, em meus ossos. Eu olhava para os tons brilhantes, para os detalhes, para você. Seus olhos, ah, seus olhos, seus olhos, seus olhos... 
Não consegui mais conter minhas vontades e me joguei na piscina, desta vez a água era real e seria iminente o lumiar, emergente era meu corpo em meio a profundidade das águas, inimaginável era minha mente em busca da compreensão final daquele que seria o último suspiro. Eis que surgia de forma implacável, o sopro do dragão.

Ganesha ao meu lado, Shiva em minha frente, Krishna cantarolava uma bela canção ao meu ouvido. Brahma bem ali, festejando a criação. Quando num abrir de olhos, o Sol de um lado e a Lua de outro faziam com que aquilo fosse também coroado pelos Deuses, a redenção ocorria a cada instante que se perpetuava um dos mais belos encontros ali em minha frente, eu estava sob o meio fio entra a noite e o dia.

Um lirismo aflorado e impetuoso. Atravessar a porta e partir foi simplesmente o momento que durou a minha vida inteira e em memória aos suicidas devemos brindar a vida, brindar os momentos que nos dão prazer, elevar a nossa energia e aquecer os corações que ainda tem jeito. É um tanto egoísta de nossa parte, querer as pessoas sempre por perto, confesso que é até um espirito maternal enraizado em nossos alicerces. Querer bem e cuidar é uma forma de amor, é simples, é bucólico...

Por fim, ao abrir os olhos estava novamente neste sofá, o dia cobrava com o sol a pino. A luz não permitia um sono mais intenso e o descanso foi comprometido. Meu espirito ainda levita por ai, em busca dos Deuses, em busca de algo que faça sentido entre as pedras no horizonte e o firmamento que contrasta com as complexas construções.


Veleiros de papel, caixas d’agua, holofotes, luzes vermelhas, pássaros e torres de energia.



terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Veleiro

Por mais que as vitórias venham, o sentimento de derrota insiste em amargar a boca. Ficamos nós, seres datados do século passado, de duas ou três gerações para trás o mundo tem se tornado mesquinho. Guerras se vão, ataques e contra-ataques, o mundo tem se tornado mesquinho.

Experimenta-se o inferno enquanto navega em mares caóticos, passamos por provações e vivemos tentando remediar o irremediável. Pensar a frente quer dizer encerrar os conflitos e manter a paz que se é de direito do ser humano. Deixar de criar problemas e pensar na manutenção da espécie. Desta forma ascendemos aos céus e num rasante temos um momento tão próximo às nuvens, compreendendo as alturas. Vemos que todos são apenas pontos, distantes, na paisagem urbana. Naquele mesmo momento que um pássaro sobrevoa o oceano e a ave mantem-se em pleno acordo entre firmamento e mar. E então, das alturas dos prédios, entendemos que a nossa engenharia tão complexa, é criada para destruir ao mesmo tempo que constrói.

Morro acima, entendemos que chuva é mais forte do que imaginamos e que a enxurrada é apenas a consequência. No fim, todos nós ficaremos bem. Em meio a solidão que o mundo nos traz, em meio ao céu cinza de uma tarde chuvosa, em meio as notas solitárias de um compositor decadente, entre as palavras de um ébrio. 

Em meio ao marasmo da casa vazia.

“Estou num cais, como quem parte.
Olhando o mar, como quem fica.”


Te dedico meu velho... Em meio a este cais distante que opõe o ser humano a sua própria face. 
Beijos, abraços e tudo o que houver de melhor.


sábado, 13 de fevereiro de 2016

Quibus Pythonicus

Seres errantes, tão somente em seu ciclo enquanto elípticamente seguem a força gravitacional. São mundos que entre os mortos e os vivos, prosseguem-se em pleno curso. Uns mais fechados e outros mais abertos, caminham junto a cometas, meteoritos e poeira espacial, assim como outros errantes, mantém-se sozinhos observando seus iguais.

Ainda que se diga que a vida permanece intacta em meio ao infinito, é possível que se escondam no lado escuro dos astros, um ser que em alguns aspectos se torna morto-vivo, onde a luz o incomoda e a escuridão lhe pertence, é frio, sombrio, fúnebre. O mundo pelo qual não se enxerga mais, é apenas mais uma pequena parcela do que se sente. Neste instante em que os olhares se cruzam, o caos se instaura, o medo corrói e não há mais saída.

Viajando bem rapidamente com destino incerto, novamente baseado em cálculos e informações deturpadas, o fim é anunciado com pavor. Apenas os seres errantes continuam se movendo em seu curso natural. Não há igualdade nas trevas, não há alegria no solo santo, não há paz, não há amor...

Buscando a paz, os vampiros mantinham a ordem apenas cercando os errantes que relutassem em passar dos limites concedidos pela força que os mantinha na elipse, também chamavam de sobriedade.

Das trevas vieram, às trevas voltariam, caminhando sozinho pelos cantos sombrios do mundo, se viu em um momento em que a sociedade não tem mais nenhum mártir, a juventude se vai em meio ao vão e o caminho a seguir existe em uma linha tênue entre dois infinitos, hoje, caminha-se no meio fio da elipse, ou se entrega às trevas ou se vai como mais um errante. Que os sombrios se elevem e se mantenham em suas posições.

E no diário de bordo, continha uma anotação apenas, na capa:

- Livra-se uma mente em sua modéstia e liberdade, inocência e ignorância. Mas mantenha os errantes em plena órbita, estes não devem e não podem saber o que há além. Lhes faria muito mal e quem sabe, ler o futuro, faria do passado algo inerte.


Faber Krystie McDonnadan


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Urano ou como prefira chamá-lo

Como todas as noites em um momento de sintonia com o cosmos, observava os rastros da Via-láctea, deitado sobre a grama sintética, percebia que nada daquilo era real, inclusive o céu, aliás, até mesmo o céu.
Tornava as coisas mais amenas a vacina de prazer diária. Os escravos ainda viviam como num mesmo momento em que todos se rebelavam, o menor sinal de rebelião era absorvido com doses de inverdades e calúnias, se sentiam culpados por pedir bom senso e se calavam. Poderiam se deitar na grana para observar o céu algumas horas por dia. Neste ponto as horas eram divididas entre o simples e descomplicado capataz que de 15 em 15 minutos acordava os dorminhocos e os mandava trabalhar.
Em sua razão, os mesmos avisavam que estavam em seu período de descanso, o caso é que aquilo se repetia varias e varias vezes, já que o capataz parecia ter amnésia, ou seja, durante todo o período de descanso, todos eram avisados de 15 em 15 minutos que o trabalho deveria ser feito, ficavam todos atônitos, uns levantavam, outros buscavam tampar as orelhas, atitude que irritava por sua vez o capataz. Alguns de diziam de saco cheio e se levantavam para trabalhar, resolvendo as coisas mais cedo, talvez tivessem um tempo mais prolongado de sono.
Após o expediente nem tão tranquilo, o nobre ser ainda tinha esperanças de que os ditos ajudantes calçassem os sapatos para uma voltinha pelas ruas da vila, para mostrar sua felicidade aos mais críticos e mantenedores da fazenda. Funcionava assim, todos ganhavam a vacina da felicidade antes de sair do abrigo, portanto estavam sorridentes e com uma vitalidade de dar inveja aos seres mais livres do reino. As vezes um deles tinha desejos estranhos de comer fast-food ou beber uma cerveja durante o passeio, este apanharia mais tarde no retorno ao abrigo, mas no momento do passeio, ganhava tudo o que queria pois ninguém poderia entender o que se passava.
A vida era complicada com o capataz, até o momento em que o mesmo errou a vacina em um dos ajudantes, ao invés de felicidade, injetou consciência. O que aconteceu foi estranho, foi triste, foi libertário...
O agora nomeado desgarrado não só parou de aceitar os argumentos falidos do capataz, como também resolveu parar de se incomodar com os discursos durante o descanso. Olhar a Via-láctea de certo modo transmitia a Urano um peso maior, um ser maior e mais científico. Em chamas por mais estranho que fosse,  Chronos apenas observava a medida em que a rebelião começou.
Não haveria mais um minuto sozinho naquele planeta. Sem religião, sem linhas retas. A depressão bateu no fundo e o suicídio foi inevitável. A realidade causou um estranhamento ao ver o mundo como ele é, causou também um momento de alegria ao perceber que o capataz não era necessariamente insubstituível e daquele dia em diante, o momento foi de graças e de descrenças.
Passeando pelos dias desleais, teve que engolir seco que o capataz já estava atrás de outro para compor seu lugar, a vacina de felicidade não mais seria dada de bom grado e por mais que a vida fosse na prisão e no trabalho, os momentos felizes eram realmente felizes, os momentos de passeio eram bem proveitosos. O problema era o depois, o problema era voltar ao marasmo dos momentos ditos “Home, Sweet Home”. Não seria mais obrigado a ser o que não queria ser, ao nascer, o doutor disse que ele era problemático. O problema era a liberdade em suas entranhas, era a paz em seus olhos, era a maneira de viver e era a maestria de compreender quando alguém está sendo maldoso. Nos fim dos tempos, quando em seu leito de morte, pediu que fosse transportado para o teto, gostaria de adormecer em seu sono eterno lá de cima do telhado, mas não qualquer telhado, queria ir acima dos quadros de LED que davam a atmosfera aos transeuntes. Seu pedido foi tão emocionado, mas ninguém compreendia o que seriam as telas LED. Ele sabia, o céu não era céu, o sol não era sol, as emoções não eram emoções, a robótica tomou conta de tudo e todos. Até mesmo o capataz estava programado e não sabia.
Os mestres ainda humanos, cientistas, pediram um momento a sós e questionaram em segredo como ele saberia das telas LED que cobriam todo o mundo. Ele apenas sugeriu que ao passar noites em claro a imagem era modificada a cada 7 dias e que a forma com que era mostrada a via láctea, as luas, sol, habitat e formas de vida era bem surreal ao ponto dos escritos em um caderno passado de geração para geração. O conhecimento era passado ali, de um para o outro, até que o capataz se viu em uma solidão, e por desdém dizia que aquilo era necessário e legal. Desta forma, saiu distribuindo vacinas de felicidade por ai, manteve amigos e uma vasta clientela. Por pouco tempo e cada vez menos tempo, até que o conhecimento foi difundido e que todos eram capazes de gerar felicidade. Ao submeterem o leito para acima das estrelas, ele se maravilhou com a vista e enfim tornou-se parte do todo, seus olhos foram se fechando até que a inércia foi rapidamente convertida em potência de arranque. Seu corpo, seus metais, fios e nano transmissores estavam se desligando até que ele se tornou um corpo errante no cosmo, tornou-se parte dele e desejou que todos fossem libertados. Mil anos após, o segredo foi revelado e as placas retiradas, em meio a rebelião até mesmo o capataz preferiu o voo a se manter no planeta, mas apenas após mil anos depois, ele buscou todas as formas para se firmar, sem sucesso.


Dedicado ao cara que se tornou uma referência em minha vida. Se entregou aos afazeres de uma vida solitária e se desprendeu sem deixar rastros. Estou de saco cheio destes espasmos de felicidade, o mundo é um lugar inóspito e cruel. Um dia a gente se vê meu camarada, um dia eu vou saber como é acima das telas LED.


sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Do outro lado

Buscava alcançar o horizonte a sua frente, por isso caminhava incansavelmente. Procurou correr, chegar mais rápido. Viu que corria sempre em círculos e por onde andava permanecia em rotação apenas. Jamais chegaria ao horizonte daquela forma.

Desolada, sentou-se na calçada a pensar como o mundo poderia ser tão cruel com os viventes em plena formação vigente. Aquilo não poderia existir de outra forma, pensou, não poderia exigir o fim, extinguir. Estava dentro de uma jaula, criada por uma atmosfera cinza, presa.

O céu azul por vezes cheio de nuvens por vezes limpo causava claustrofobia. Seus cabelos ao vento fizeram a descoberta impossível, sua fuga deveria ser de forma retilínea. Enquanto a gravidade agisse sobre seu corpo, ela permaneceria caminhando em vão. Foi quando que em seu mundo, buscou um foguete e ascendeu aos céus, quebrou barreiras e negou seu arrependimento ao perfurar o muro azul.

Encontrou-se em meio ao vácuo, desejou voltar ao planeta, mas, pensou que ali estava ao menos livre. Não era liberdade o seu norte, neste momento, os mapas já contavam com quatro ou cinco dimensões e não apenas se pensava no plano cartesiano. Tinha tudo ali, mapa, foguete, roupas de astronauta, planetas a conhecer, combustível renovável, potencializadores, despressurizadores e contingente (este estava escasso, era única, a espécie, no momento). Seu tempo escorria pelo vão dos dedos enquanto pensava numa forma de reinventar e descobrir novas formas de, talvez, vida.

Achou interessante utilizar os motores, porém viajava a um tempo à deriva desde quando deixou o azul do céu acima de si. Estava perdida. Provando daquilo que acusava e apontava os problemas mais sérios de se estar num oceano negro e impreciso.

A indecisão levaria ao fim. Qualquer novidade da base de comando, seria seu norte, a real situação deste impasse, seria simplesmente os toques telefônicos que chamavam sem resposta. Viu-se sozinha. Sua liberdade gratuita, também eximia qualquer operador de suas tarefas, deixou de ser comercial.
A percepção além mar dos seres, ditos, humanos mantinha um certo respeito pelo desconhecido até quando por esquecimento das leis, divinas, da física.

Liberando o cinto de segurança, vestiu a roupa de visita noturna e assim que pôde também vestiu o capacete para que não faltasse o ar do lado de fora. Em um impulso dos propulsores da roupa (haviam uns 5 Jetpacks disponíveis, com duração de 5 horas cada), partiu rumo ao horizonte em que o Sol apontava, não viu sua sombra, nem seu passado, o futuro seria incerto demais para que alguém se preocupasse com suprimentos, dinheiro ou vestimentas. Ela se despiu, enquanto era engolida pelo buraco negro.


Ali mesmo, teve certeza do que diziam sobre viver, agora, ao sabor do vento.