Podia sentir o vento rasgando minha pele.
Já havia três dias desde a minha partida, meu corpo devia estar acostumado ao frio, alias, nasci neste local, cresci brincando no gelo, não era normal meu corpo estar tão fragilizado.
Ainda sentia um peso nas costas, devido ao cansaço de uma noite em claro, eu sentia a presença de algo, que situação perturbadora, olharia para os lados sem encontrar nada. Senti-me perdido, aquela casa, distante de meus olhos, parecia cada vez mais distante. Uma miragem talvez? Mas como poderia ser? Tão real...
Caminhando, sem nem ao menos me importar com as condições físicas, meu corpo precisava de descanso, cheguei ao esgotamento. Definitivamente não poderia continuar.
Mantimentos se acabando. Adormeci.
“Lena e Aliek, durante um almoço...”
- Mamãe, o Pai vai demorar muito?
- Não sei meu filho, talvez Yvon demore alguns dias, em sua ultima vez que fez isso, demorou um mês para voltar e aqui estamos.
- Gostaria que ele estivesse aqui com a gente, tenho ouvido vozes durante a noite, na janela do meu quarto. Logo após, escuto os lobos uivando. Tenho medo.
- Vozes? Que tipo de vozes? Os lobos estão por essas bandas fazem um tempo, mas não se preocupe, eles não entrarão aqui.
- São vozes, como se alguém estivesse me chamando lá pra fora: “- Aliek... Aliek... chegou a hora menino, estamos esperando.”
- Que horror e você se sente atraído por isso?
- Claro que não mãe, tenho muito medo. Nunca vou sair daqui.
- Se tiver problemas, me chame, ficarei alerta a partir desta noite. - Ok.
O sol nestas horas não estava se mostrando, parecia que já estava de noite. Perdi a noção do tempo e a escuridão tomou conta de tudo. A luz do sol estava lá mas parecia encoberta. Eu estava confuso, atordoado, cansado ainda, mesmo após o sono. Talvez fosse a falta de alimento. Seria necessário caçar. Empunhei meu rifle, em busca de algo. Lobos a frente, contei nove.
Arma carregada, luneta ajustada, posição de tiro (eu estava em pé), minha capa se agitava com o vento, a neve começava a cair novamente bem fraca, mas seria o prenuncio de uma nevasca. Mira feita, ao som do tiro que se espalhou por todo o território permitido. Animal abatido. Continuei somente a observar o corpo sem vida caído ao chão, já que não estaria seguro ali, como um fantasma, não fui visto, aguardei que os outros integrantes do bando tomassem uma distancia razoável para que minha aproximação fosse feita.
Enfim, carne para mais uns dias, dois no maximo pois ao mesmo tempo que o sangue alimenta ele também atrai predadores e a carne se congela neste frio que faz, impossibilitando alimentar-me por mais tempo que o necessário.
A neve já caia mais forte, eu lutava contra o vento que vinha de encontro. Avistava aquela casa ainda, luzes acesas. Continuei caminhando, não mais sem rumo, agora com um objetivo, chegar até o local.
Uma luz brotou da neve, como um raio se desfez, em minha frente. Lembro-me de ter caído de joelhos, meu corpo perdeu a força e os sentidos. Novamente...
Mesma cena passada, porém não houve dores, mas... aquela luz... de onde surgiu?