terça-feira, 23 de julho de 2019

Pular ou não pular, fragmento.

"Este é um fragmento da peça escrita por Dea Loher, Inocência, na qual ela descreve um monologo no alto do prédio dos suicidas."

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Dormir. Para sempre. Para sempre dormir. Meio sinistro. É isso. Está clareando, que é isso! Além disso, você não sabe nada. Mas poderia. Mas você não sabe. Ninguém sabe. Mas poderia. Alguém deve imaginar. Sonho eterno ou o quê? Mas é chato. Não, ninguém está lá para isso. Como que não. Finalmente descanso. Você sempre quer. Já. Mas. Mas não permanente. Mas não para a eternidade, isso ninguém nem pode imaginar. Você não. Alguém deve agora... Eternamente não é tempo nenhum. A primeira vez que você entra se você está na eternidade não percebe isso. Então você já não sabe mais o que é o tempo. Então você já não pensa mais em dias e horas. Então se vem alguém e te pergunta que horas são você só olha e diz é... Já está clareando.
Já está clareando.

Já não tem que ter medo do amanhã por exemplo porque já não tem mais amanhã. A semana que vem não tem. No ano que vem não tem. Tudo é agora tudo é nesse momento. Se não está no momento não existe. Já está clareando.

Já está clareando mas, a memória, a memória ainda existe. Pensa agora. Ontem existe ainda, a semana passada existe ainda ou o ano passado também. Vê, não está tudo aqui agora? O resto existe só na tua cabeça. O resto de antes. Dá na mesma onde e quando é. Se me faz sentir dor. Pra mim dá na mesma se é no joelho ou na orelha, se me faz sentir dor, quero que desapareça. Tudo o de antes que me faça sentir dor tem que desaparecer. Pare agora!

Pare agora!

Nos enfiamos em uma rua sem saída, acho que é assim. Na eternidade não tem ninguém ontem. Quando não tem amanhã não tem ontem. Mas, é lógico, é tudo uno e o mesmo. Sempre agora. Digo eu. Parece meio estranho de certo modo é como quando você vai dormir. Quando isto, é, acho eu quando isto é um dia único, que outro lado para a luz, agora você está suspenso lá em cima de você mesmo, e, olha a careca do doutor. Conheço. O que você diz? Esses não estavam verdadeiramente mortos? Digo eu. O que é que tem que ver isto com a ciência. Isto é sério. Isto está misturado desde a última página.
Já está clareando.

Já está clareando e o que aconteceu com a tua vida anterior? Tem que ser. Você pode se lembrar disso. Você pode se lembrar disso. Se a memória existe você pode se lembrar disso. Pensa nisso. O que foi uma vez você sabe e também não esquece, não. Você deve ter também na eternidade uma ideia de quem você é e de que você é você e não outro. Está clareando.

Está clareando. O que você acha? Então o que é depois não o sabemos com segurança. Ninguém sabe. É um risco. Eu também o vejo assim. Ninguém sabe. Qual é tua opinião. Tem alguém a favor ou alguém contra. Mais risco é mais risco. Ninguém sabe bem. Nós mesmos o achamos fora de caso em todo caso. Já está clareando.

Já está clareando.