sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Radioativo


Erguiam-se as mãos para um ultimo suspiro, desejando a morte rápida e indolor. Incolor como o pior veneno, todos procuravam manterem-se os mesmos e assim tornavam-se inevitavelmente intocáveis.

Havia uma fenda naquele muro. Do outro lado era claro, mas ninguém se atrevia a atravessar a linha de fogo.  Como explicar aquela fuga de massas, o êxodo era impossível, o ar irrespirável. Calma, ferro e fogo. Explodiam os tambores de combustível. O cenário fumê dos incêndios nos campos de concentração.

Campos onde a neve clara se confundia com os rostos daqueles que não abriam os olhos. Jamais os utilizaram, não os possuíam. Em sobra, na sombra, pela escuridão. Assemelhavam-se aos animais, sem pelos, sem olhos, com dentes afiados, amarelados. O vermelho que enchia de pavor. Cheiro de sangue, ferroso e doce como tal.

Experimentava pela primeira vez a luz, a mesma que abria a mente daqueles que permaneciam trancados dentro da radioatividade do reator abandonado. Eram seres instáveis. Reagindo em cadeia. Enclausurados.
Ao sentir a luz em seu corpo, se desfez em cinza, após avermelhar toda a superfície tocada pelos raios UVA. Sem filtro, o ar era aquele mesmo, denso, com odores pútridos. Naquela sala fechada, alimentavam-se deles mesmos.

Mutilados por seus semelhantes, a lei do mais forte perseverava, em nome de um deus cego e surdo. Um grunhido de desespero se ouvia do fundo, uma luz acendia e o incêndio novamente explodiu. Hora do jantar.