Erguiam-se as mãos para um ultimo
suspiro, desejando a morte rápida e indolor. Incolor como o pior veneno, todos
procuravam manterem-se os mesmos e assim tornavam-se inevitavelmente
intocáveis.
Havia uma fenda naquele muro. Do
outro lado era claro, mas ninguém se atrevia a atravessar a linha de fogo. Como explicar aquela fuga de massas, o êxodo
era impossível, o ar irrespirável. Calma, ferro e fogo. Explodiam os tambores
de combustível. O cenário fumê dos incêndios nos campos de concentração.
Campos onde a neve clara se
confundia com os rostos daqueles que não abriam os olhos. Jamais os utilizaram,
não os possuíam. Em sobra, na sombra, pela escuridão. Assemelhavam-se aos
animais, sem pelos, sem olhos, com dentes afiados, amarelados. O vermelho que
enchia de pavor. Cheiro de sangue, ferroso e doce como tal.
Experimentava pela primeira vez a
luz, a mesma que abria a mente daqueles que permaneciam trancados dentro da
radioatividade do reator abandonado. Eram seres instáveis. Reagindo em cadeia.
Enclausurados.
Ao sentir a luz em seu corpo, se
desfez em cinza, após avermelhar toda a superfície tocada pelos raios UVA. Sem
filtro, o ar era aquele mesmo, denso, com odores pútridos. Naquela sala
fechada, alimentavam-se deles mesmos.
Mutilados por seus semelhantes, a
lei do mais forte perseverava, em nome de um deus cego e
surdo. Um grunhido de desespero se ouvia do fundo, uma luz acendia e o incêndio
novamente explodiu. Hora do jantar.