Janelas abertas para que as estrelas observassem o sono perpétuo daquele que nunca adormecia, e que desta vez adormeceu. Aquele pedaço que existia, de alguém que não estava ali fez lembrar-se de uma manhã na qual foi dormir observando o sol, a claridade que batia na janela era algo bonito, tinha um desenho meio irreal, sorriu discretamente com uma lágrima que escorria de seus olhos. Sentiu o peso de uma saudade no peito. Observando sua imagem refletida no espelho entrou em declínio. Um turbilhão de sensações tomava conta de seu corpo, que até então não tinha idéia do que era capaz de sentir. Entrou em parafuso... Convulsões, epilepsia e AVE (Acidente Vascular Encefálico).
A madrugada fria não tocava seu corpo, acostumou-se ao clima por querer. Era assim que aquele quarto vazio o esperava toda noite antes do sono não vir. Viria dias depois, acompanhado de uma leve dor de cabeça, uma dor que o paralisou. Mas não doía mais, não fechou os olhos aguardando o arremate, assistiu a cena aberta... A céu aberto, o cometa passar diante de seus olhos. O deslocamento de ar fez com que tudo o que estivesse por perto se movesse, papéis na escrivaninha, apetrechos na janela, penduricalhos e aquele aviãozinho preso no teto. Tudo foi pelos ares.
A explosão atômica que se via da janela era algo mais que bonito, explodia em um azul brilhante, radioativo, meio raio...
No alto daquela montanha mágica, o sopro do dragão.
Quando perceberam o que ocorrera era tarde demais, a chuva já havia molhado todo o jardim, as flores que ali não existiam, floresceram. Os frutos estavam prontos para o consumo, consumiam. Da doença se fez a vítima. Explodia o céu em sete cores e o que se observava ali, naquele horizonte, era tão fiel à pintura, lembrava-se de Dorian Gray. Não havia mais escapatória e ali se derramava o sangue nobre.