Certa noite, Chico ao passar por um bar que estava fechando
observou que foram esquecidas três cadeiras para o lado de fora, ele estava um
pouco embriagado, mas pensou bem, resolveu levar as cadeiras embora e na
rapidez empilhou-as e levou até sua casa, uns quarteirões a frente. Na manhã seguinte, o bar abria enquanto Chico entrava pela
porta com um ar de preocupação, queria falar com o dono do estabelecimento.
- Olá, bom dia. – Disse chico.
- Olá, como vai? – Disse o dono do botequim
- Vou bem, obrigado. Gostaria de saber se não gostaria de
comprar umas cadeiras, dessas de bar, tenho algumas em casa e, sabe como é, depois
da mudança acabei precisando me desfazer delas.
- Hum, elas são brancas? Com o símbolo da Antártica?
- Sim são. Engraçado, são iguais as que você utiliza em seu
estabelecimento. – Chico tinha um ar de conclusão, mas estava bem aflito.
- Eu entendo senhor, mas, sabe como é? As coisas não vão bem
aqui no bar, bem, serei direto – Neste momento, Chico arregalou os olhos, achou
que seria descoberto. – Não posso comprar nada por enquanto, a não ser que seja
muito barato.
- É como eu disse, estou fazendo a preço de desapego, 2
contos por cada, vai? – Chico concluía.
- Hum, 2 conto cada uma? Bem, como eu disse a situação está
complicada e você pegou o bar abrindo, posso te oferecer uma dose da melhor
pinga que eu tenho? – Todos ali, menos Chico, sabiam que aquela era a boa e
velha 21 garrafa plástica não retornável.
- Claro, pode ser! Adoro uma pinguinha de engenho! Vou buscar
as cadeiras.
Ao retornar, Chico tomou sua dose e foi
embora feliz pelo bom negócio.
Passando por ali no final de semana seguinte, notou que
haviam desta vez dez cadeiras do lado de fora e sem titubear, empilhou-as
rapidamente e levou embora.
Na manhã seguinte o papo desenrolou da mesma forma.
- Bom dia senhor, lembra de mim? – Chico se fazia entender.
- Bom dia, como vai? Olha, suas cadeiras foram muito úteis,
ontem vieram três novos clientes e se não fosse você, eles teriam ficado em pé.
Acredita?! – Comerciante
- Que coisa impressionante, fico feliz em poder ajudar e
acho que posso talvez te ofertar mais algumas cadeiras, achei na mudança, mas
desta vez são dez. O senhor se interessa? – Chico estava feliz por “ter ajudado”.
- Me interesso sim, mas podemos realizar a transação da
mesma forma?
- Claro, mas desta vez então aumente a dose e de acordo com
meus cálculos... – Chico se colocou a pensar, como intelectual.
- Te coloco duas doses! Pela nossa longa amizade! Muito
prazer, me chamo Miguel.
- Claro Miguelito! Vou buscar sua... as cadeiras.
Chico retornava com as cadeiras, bebeu as doses e foi
embora.
Uma semana após o ocorrido, o agora denominado Francisco,
passava pelo mesmo lugar quando na rua em frente ao botequim após uma festa,
haviam cem cadeiras. Ele empilhou todas elas e de dez em dez levou tudo para
sua casa.
Na manhã seguinte, Chico entrava pela porta recém-aberta já
mandando a palavra ao Miguelito.
- E ai meu chapa, posso te ser sincero?
- Manda aí meu consagrado, o dia tá mais ou menos, mas pode
dizer.
- Eu venho aqui já tenho um tempo com esse papo de vender as
cadeiras, mas eu preciso te contar um segredo.
- Pô cara, conta ai, o que acontece.
- É que eu não achei as cadeiras na mudança. – Miguel arregalou
os olhos – Eu sou um vendedor de cadeiras, mas como achei você muito gente fina
e vi que o seu bar está meio vazio, eu poderia te fornecer algumas novas. –
Miguel respirou fundo e voltou ao normal.
- Claro cara, quantas você acha que cabem aqui? Umas cem?
- Nossa, é exatamente o que eu estava pensando.
- Mesma coisa? Te pago em doses?
- Sim, fique tranquilo, do meu chefe eu cuido. Vou buscar
agora mesmo todas elas.
Chico trazia de dez em dez, pensando nas doses que recebera “de
graça”, mal sabia ele que Miguel estava mal por ter se desentendido com o
garçom que mandou embora por não precisar mais pagar alguém para guardar as cadeiras
antes de fechar o bar.