terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Pêndulo

Clara observava seu reflexo no espelho d’água.

De certa forma também observava todo o seu redor através das calmas águas, Clara inventou seu mundo dentro daquele lago e num piscar de olhos pôs-se a crer que o mundo fosse exatamente como o lado de dentro.

Acessando as águas claras, Clara transformava seu mundo novamente, mas até então, tocou o fundo do lago, ainda sem soltar o ar tão rapidamente percebeu que aquilo a pertencia. O mundo afora das águas claras de Clara não seria mais o mesmo mundo aconchegante, Clara sentiu frio, Clara tentou gritar e de sua voz, saíram bolhas, Clara claramente estava feliz com os peixes-lua, algas coloridas, sereias para lá e para cá e os peixes que Clara conhecia...

Clara nomeou cada ser ali dentro, deitada no fundo, as algas faziam cocegas em seu corpo enquanto ela apontava e ria dos peixes com caras estranhas.

Clara deitou-se no fundo enlameado do lago claro.  Ali se apoderou do mundo que a apetecia. Ela pensou em seus livros, seus amigos, seus namorados, claro que Clara era uma menina namoradeira. Tanto se diziam isso na vilinha perdida no meio das montanhas, que Clara era namoradeira.
Ao mesmo tempo, Clara estava só, se sentiu só ali no fundo do lago. Resolveu sair, mas era tarde demais, Clara deixou seu corpo ali, no fundo, com os peixes, deixou seu melhor vestido, enquanto fechava os olhos e pensava no número de escamas que um peixe daquele poderia ter, e, quantas tantas outras escamas poderia ter uma sereia.

Clara, estava maravilhada com a cena final errônea deste texto, é claro. No final das contas ela estava no aconchego do seu lar, enquanto seu corpo agora apenas flutuava pelas calmas águas. Clara se desprendeu de tudo, encontrou com outras pessoas que lamentavam o ocorrido, mas estavam no mesmo momento. Clara fez novos amigos. Clara conheceu novos meios de se viver... e de namorar.
Clarinha conheceu o seu outro lado da vida, do espelho d’água, ela não apenas conheceu como mergulhou de cabeça no outro lado, de fato.

Pode parecer triste o fato deste. Mas olhar mais de perto, crer que as vezes o melhor é encostar a cabeça no fundo das calmas e claras águas.

Ela descobriu um novo mundo, apenas ao fechar os olhos para o mundo que a cercava.