Clara observava seu reflexo no espelho d’água.
De certa forma também observava todo o seu redor através das
calmas águas, Clara inventou seu mundo dentro daquele lago e num piscar de
olhos pôs-se a crer que o mundo fosse exatamente como o lado de dentro.
Acessando as águas claras, Clara transformava seu mundo
novamente, mas até então, tocou o fundo do lago, ainda sem soltar o ar tão
rapidamente percebeu que aquilo a pertencia. O mundo afora das águas claras de
Clara não seria mais o mesmo mundo aconchegante, Clara sentiu frio, Clara
tentou gritar e de sua voz, saíram bolhas, Clara claramente estava feliz com os
peixes-lua, algas coloridas, sereias para lá e para cá e os peixes que Clara
conhecia...
Clara nomeou cada ser ali dentro, deitada no fundo, as algas
faziam cocegas em seu corpo enquanto ela apontava e ria dos peixes com caras
estranhas.
Clara deitou-se no fundo enlameado do lago claro. Ali se apoderou do mundo que a apetecia. Ela
pensou em seus livros, seus amigos, seus namorados, claro que Clara era uma
menina namoradeira. Tanto se diziam isso na vilinha perdida no meio das
montanhas, que Clara era namoradeira.
Ao mesmo tempo, Clara estava só, se sentiu só ali no fundo
do lago. Resolveu sair, mas era tarde demais, Clara deixou seu corpo ali, no
fundo, com os peixes, deixou seu melhor vestido, enquanto fechava os olhos e
pensava no número de escamas que um peixe daquele poderia ter, e, quantas
tantas outras escamas poderia ter uma sereia.
Clara, estava maravilhada com a cena final errônea deste texto,
é claro. No final das contas ela estava no aconchego do seu lar, enquanto seu
corpo agora apenas flutuava pelas calmas águas. Clara se desprendeu de tudo,
encontrou com outras pessoas que lamentavam o ocorrido, mas estavam no mesmo
momento. Clara fez novos amigos. Clara conheceu novos meios de se viver... e de
namorar.
Clarinha conheceu o seu outro lado da vida, do espelho d’água,
ela não apenas conheceu como mergulhou de cabeça no outro lado, de fato.
Pode parecer triste o fato deste. Mas olhar mais de perto,
crer que as vezes o melhor é encostar a cabeça no fundo das calmas e claras
águas.
Ela descobriu um novo mundo, apenas ao fechar os olhos para
o mundo que a cercava.