sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Santuário

As luzes refletidas na parede da igreja em que estavam mãe e filha, poderiam observar com clareza alguns desenhos que se formavam a partir daqueles vitrais, as cores fortes se misturavam as gravuras existentes na parede e no ápice onde o astro rei ascendia aos céus, via-se no centro daquele altar um objeto de desejo de muitos, aquela cena profana que mantinha  acesa a chama das velas.

A mãe em respeito a filha, apenas tampou seus olhos com uma das mãos. Não permitindo que aquela criança obtivesse aquela visão impura. Nada adiantou, foi tomada por algo ruim, ela sorria com um sarcasmo digno dos demônios que viviam do lado de fora daquele solo sagrado.

Entrando pelo feixe de luz, as cores fortes desenhavam um cenário surreal, seria o único momento em que o solo poderia ser tocado pelos impuros, a hora do confessionário. O padre com uma túnica vermelha e detalhes em preto, proferia suas palavras de desgosto aos pecadores e de arremate pingava-se água benta nos olhos dos ditos-cujos. Os olhos borbulhavam e os gritos eram apavorantes, poderiam ser os seres das trevas, presos ao santo sepulcro, mas por via das duvidas estavam acorrentados.  Logicamente, a água benta tinha em sua composição acido sulfúrico, o padre manipulava aquilo a fim de exorcizar os infiéis. Ou apenas maltratar aqueles que eram jogados aos leões, por pura diversão. Aqueles excêntricos.

Para aquela menina, tomada por um momento de culpa, raiva ou até mesmo compaixão. Não queria mais ver aquilo e correu em direção ao padre derrubando aquele frasco com a água. Padre caindo no chão, água derramando em seu rosto fervendo toda sua roupa, a pele se rasgando e o infiel se mostrava agora sem máscara.

A menina tinha ódio do mesmo e com o cálice focava as feridas. A cada golpe, deformava ainda mais o rosto daquele que se dizia divino. A defensora dos demônios, tachada por alguns de salvadora dos pecados. Tornou-se então a sacerdotisa, herdeira dos pecadores, as palmas faziam daquele templo um local harmonioso.

As bruxas que queimavam na fogueira, ali eram acolhidas e suas marcas de tortura eram cuidadas para que enfim tivessem paz. Por pouco tempo pois o por do sol já ocorria.