Viu-se na caverna, na autoridade
daquele mundo em que se trancafiou para se salvar das catástrofes. O astronauta
olhava a Terra brilhar ainda com as chamas, em algumas partes que o mar cobria
havia fumaça. Lá de longe o pequeno planeta azul com uma vista privilegiada da
beirada da cratera lunar em que ele sentou-se.
A vista lembraria algo como o
símbolo yin-yang feito de fogo e fumaça. Em seu diário, descrevia sua décima
noite.
Fechava os olhos, lembrava-se do
mundo como era. Não tinha saudades e nem se comovia com suas perdas, afinal
sabia que as grandes perdas do mundo ocorreram antes do fim do mesmo. Estava
ali, sozinho.
Em seu descanso, o astronauta
admirava o fim da humanidade. Ouvia os gritos desesperados das pessoas que
ainda queimavam. Cenário de horror para alguns que para ele seria simplesmente
o limite em que o cosmos suportou.
Aos noventa dias de espera,
reuniu suas coisas e regressou ao planeta, o chão estava limpo pela brisa, os
mares recuaram após longas ressacas, o fogo que tomara grande parte do contexto
histórico, cessou.
Ainda não tocava o solo por medo
de radioatividade, levantou voo e partiu para um lugar mais seguro, sobrevoava
as planícies, subia aos planaltos e aterrissou no pico de uma montanha, na cordilheira do Himalaia o Everest, que era o maior pico no mundo estava reduzido. Não sabia se a terra subiu ou
se o pico afundou, a localização no GPS estava incerta e dali mesmo observou
que tudo estava devastado.
Colocou seu primeiro pé para fora
do foguete, admirou a paisagem cobrindo com uma das mãos a luz do Sol que
ofuscava sua visão. Nunca tinha visto uma imagem tão bonita (nem do espaço),
murmurou em seu regresso ao planeta que julgava impuro: “Deus está morto”.