sábado, 2 de junho de 2012

Noite


Encontrou seu refúgio no primeiro buraco que encontrou. Não tinha ideia da profundidade, se seria mais fácil enfrentar o caçador ou aguardar o fim do abismo, enfim, pulou.
Durante a queda, sentia uma corrente de ar em ambos os lados, formavam por entre seus dedos a pressão causada pela resistência do ar. Seu corpo flutuava, ao invés de cair, não sentia mais a gravidade.

Fechar os olhos e enxergar seu trajeto até ali. Pensava em coisas, nada com muita clareza. Estava com muito medo, talvez confuso, em um momento de embriaguês foi o que manteve seu coração menos apertado a adrenalina deixava seu corpo trêmulo, a dose relaxava. Anunciou ao garçom que a próxima seria dupla e sem gelo. Prontamente atendido, com classe.

Olhava para o fundo do copo, já vazio, ao fundo tocavam um Blues, meio folk meio antigo. Faltava a melodia, faltava o encanto. Surgia na boca do palco um vocalista com o rosto pintado com tons obscuros e algo que brilhava em seu olhar, a voz não saia e mais uma dose para aquecer o peito. Lá fora uma nevasca e por dentro um placebo.

Pílulas, pó, olhos vermelhos, cabelo encrespado, ensebado.

Ele olhou nos olhos do garçom, puxando o mesmo pelo colarinho que esperando mais uma dose, ouviu um estampido.
Com um tiro na boca, suicidou-se.

Não via o fundo e não ousava olhar para trás, apenas sabia que a luz não mais tocava seu corpo.