sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Do outro lado

Buscava alcançar o horizonte a sua frente, por isso caminhava incansavelmente. Procurou correr, chegar mais rápido. Viu que corria sempre em círculos e por onde andava permanecia em rotação apenas. Jamais chegaria ao horizonte daquela forma.

Desolada, sentou-se na calçada a pensar como o mundo poderia ser tão cruel com os viventes em plena formação vigente. Aquilo não poderia existir de outra forma, pensou, não poderia exigir o fim, extinguir. Estava dentro de uma jaula, criada por uma atmosfera cinza, presa.

O céu azul por vezes cheio de nuvens por vezes limpo causava claustrofobia. Seus cabelos ao vento fizeram a descoberta impossível, sua fuga deveria ser de forma retilínea. Enquanto a gravidade agisse sobre seu corpo, ela permaneceria caminhando em vão. Foi quando que em seu mundo, buscou um foguete e ascendeu aos céus, quebrou barreiras e negou seu arrependimento ao perfurar o muro azul.

Encontrou-se em meio ao vácuo, desejou voltar ao planeta, mas, pensou que ali estava ao menos livre. Não era liberdade o seu norte, neste momento, os mapas já contavam com quatro ou cinco dimensões e não apenas se pensava no plano cartesiano. Tinha tudo ali, mapa, foguete, roupas de astronauta, planetas a conhecer, combustível renovável, potencializadores, despressurizadores e contingente (este estava escasso, era única, a espécie, no momento). Seu tempo escorria pelo vão dos dedos enquanto pensava numa forma de reinventar e descobrir novas formas de, talvez, vida.

Achou interessante utilizar os motores, porém viajava a um tempo à deriva desde quando deixou o azul do céu acima de si. Estava perdida. Provando daquilo que acusava e apontava os problemas mais sérios de se estar num oceano negro e impreciso.

A indecisão levaria ao fim. Qualquer novidade da base de comando, seria seu norte, a real situação deste impasse, seria simplesmente os toques telefônicos que chamavam sem resposta. Viu-se sozinha. Sua liberdade gratuita, também eximia qualquer operador de suas tarefas, deixou de ser comercial.
A percepção além mar dos seres, ditos, humanos mantinha um certo respeito pelo desconhecido até quando por esquecimento das leis, divinas, da física.

Liberando o cinto de segurança, vestiu a roupa de visita noturna e assim que pôde também vestiu o capacete para que não faltasse o ar do lado de fora. Em um impulso dos propulsores da roupa (haviam uns 5 Jetpacks disponíveis, com duração de 5 horas cada), partiu rumo ao horizonte em que o Sol apontava, não viu sua sombra, nem seu passado, o futuro seria incerto demais para que alguém se preocupasse com suprimentos, dinheiro ou vestimentas. Ela se despiu, enquanto era engolida pelo buraco negro.


Ali mesmo, teve certeza do que diziam sobre viver, agora, ao sabor do vento.