segunda-feira, 19 de junho de 2017

Dona eis Requiém - 1.1

O mundo parecia do avesso e com certo pesar, os demônios internos ainda perseveravam em arriscar romper a pele grossa para alcançar o mundo externo. Arrebentar o peito e escapar com louvores e os sons dos anjos caídos, de certa forma, naquela sala, em frente a lareira era algo a se pensar, mas concluir era outra história.

Após 394 anos em vida, transportando animais inocentes e exterminando a raça humana para sua sobrevivência, de fato o fogo não mais aquecia e não mais clareava a casa como antes. Estávamos percebendo que o dia durava menos e a noite era mais escura. Era necessário um novo pacto.

Já nos encontrávamos em uma espécie de ritual xamânico, no Quênia, estava deitado, fruto da caça, boca aberta, como se estivesse gritando, em sinal de medo e dor. Cordas amarravam os membros superiores e inferiores para que não houvesse locomoção. O carrasco viria mais tarde, com a ponta de uma lança, ferindo a jugular e o baixo ventre de seu sacrifício, a luz do mundo se acendeu, o fogo brilhava mais alto do que de costume. Voltaram-se aos olhos da corsa, esta sorria de forma liberta enquanto os demônios saíam através do rombo deixado pela ponta da lança em sua pele.

O mundo estava naquele momento a beira do colapso e em momentos de loucura os libertados demônios não se sentiam agradecidos aos xamãs, que foram os primeiros a ter a vida arrancada com a mesma lança que empunhavam durante o ato. Vingando-se.


“Não contais com a sorte em dias nefastos. Não procureis de fato a benevolência dos homens de boa fé já que estes também arriscam as vezes pisar no inferno. Arriscar a vida ou a morte, é sinal de necessidade ou desespero. Mas crê, nobilíssimos fiéis, nos dias de hoje até os demônios sentem compaixão”.


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